Clínica Geral

Medicina: A Técnica ou a Ética?

Por Dra. Cecilia Cassal 22/01/2014

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Outro dia alguém me perguntou, referindo-se à medicina:

– Cecilia, o que pensas ser mais importante: a técnica ou a ética?

Foi o suficiente para rever a imagem que carreguei estilizada e estampada na pasta da Faculdade de Medicina durante seis anos: A criação de Adão, de Michelangelo. E, mais do que ela, a aproximação das mãos de criador e criatura, um fornecendo a vida, o outro, corporificando-a.

Assim penso a Medicina, que –  apesar de tantas opiniões em contrário – ainda acredito ser sacerdócio. A ética oferecendo a transcendência necessária à imprescindível técnica. É possível desvinculá-las, sem que isso remeta imediatamente à imagem de uma interação pessoa-computador? Seria possível, por outro lado, pensar no sacerdócio médico sendo praticado sem o conhecimento e o domínio da melhor e sempre transitória ciência?

Na proximidade das mãos, o conhecimento do mistério é trocado entre a divindade e o humano. Assim, na medicina, antes de realizar precisos diagnósticos, bem antes de prescrever o tratamento mais atualizado ou executar a melhor cirurgia, penso que a principal função do médico é ser educador. É somente através da educação dada pela palavra e pelo exemplo que podemos auxiliar na prevenção, o melhor de todos os recursos. A medida que conhecemos é a medida da nossa autonomia e capacidade de tomar as decisões mais acertadas sobre a saúde do corpo e da mente.

O lugar que o Doutíssima me ofereceu na semana passada e que me senti honrada em aceitar é este: o de encontro entre a ciência médica – e aqui, neste caso, dermatológica – e as pessoas, com suas dúvidas e apreensões, com suas necessidades de conhecimento, prevenção e autonomia – a técnica com muita ética, sempre!

Penso ser importante ressaltar que as opiniões aqui desenvolvidas refletem somente uma maneira particular de ver a medicina, a dermatologia e as relações que se estabelecem a partir daí: não pretendem representar a opinião do site. O mesmo ocorre com os textos postados por outros colaboradores, aos quais talvez nem sempre me afilie, sendo esta a beleza do respeito à multiplicidade possível de vozes e expressões.