Relato de mãe

“Como o dia e a noite”, por Mariana Parreiras

Por Redação Doutíssima 23/02/2015

Mariana Parreiras, a nossa especialista na criação do Matthew e do John (seus filhos), nos conta de maneira divertida sobre as receitas que nunca dão certo quando o assunto é a criação dos pequenos. “Hoje, eu humildemente aprendi que o único conselho realmente universal e relevante a se dar a uma outra mamãe é: compre pilhas recarregáveis”. Confira!

 

 

carrinho

“Abra a janela! Abre a janela!”, exige Matt em inglês. Foto: Shutterstock

 

Como o dia e a noite

 

Abra a janela! Abre a janela!
Meu menino de três anos, Matthew, exige (em inglês) de seu assento no carro, enquanto eu dirijo. Eu costumo trancar as janelas do carro com um botão específico no volante para que ele não a abra a sua, e o faça de forma irritante, para cima e para baixo, intermitentemente. Às vezes eu dou o braço a torcer, o que me permite dois minutos inteiros de paz durante a condução.

 

Nós estamos presos no trânsito neste momento e ele é persistente, então eu o deixo brincar com a janela, porque mamães tem que escolher suas batalhas. Matthew imediatamente a abre, tira seus tênis de marca (presente da avó) e, rindo alto, atira-os para fora da janela.

 

Eu grito (em português) – “menino doido!” – enquanto saio do carro para recuperar seus sapatos. Então eu escuto meu filho de um ano de idade, o John, que também está rindo de seu assento de carro, a dizer sua primeira palavra – “doido”!

 

Em meio ao estresse da situação, eu me sinto contente. John finalmente disse uma palavra. Eu tinha contctado neurologistas e outros especialistas de desenvolvimento durante toda a manhã, porque aos quinze meses de idade John não está interessado em andar ou a engatinhar.

 

Seu pediatra não está preocupado e o diagnosticou simplesmente com “preguiça”. Mas como mãe, eu tenho que fazer o que as mães fazem de melhor: me preocupar. Por isso estou aliviada de que ele está finalmente começando a se comunicar com palavras e que nós concordarmos que seu irmão é “doido”.

 

Enquanto John não é ambicioso sobre aonde queira levar o seu corpinho, Matthew usa seu irmão como um obstáculo para saltar quando está correndo pela casa em sua interminável e exorbitante energia. Não estou inventando isso. Matt literalmente pula sobre o pequeno John por pura diversão e ambos acham isso hilário.

 

Na idade que John agora se encontra, Matt era tão hiperativo que um dia eu tirei uma foto dele sentado. Simplesmente porque eu não podia acreditar nos meus próprios olhos.

 

Isso me faz pensar sobre como as crianças, as pessoas, possam ser diferentes, mesmo com semelhantes códigos genéticos e educação. Matthew é alto, de cabelos loiros e encaracolados. Ele nasceu com olhos azuis, meu bebê gringo. John é baixinho e de pele morena, com cabelos castanhos e lisos, e olhos quase pretos, meu bebê brasileiro. Ambos têm o mesmo pai.

 

Eu percebo agora como irmãos podem ser mais diferentes do que similares. Muitas vezes é inútil e desnecessário o conselho de alguns pais para outros, já que o que funciona para uma criança, pode não funcionar para a outra, e vice-versa.

 

Por exemplo, a arte de treinar a criança à dormir. Existem diferentes teorias sobre a forma mais eficaz e menos traumática de fazer bebês dormirem durante toda a noite. Devemos deixá-los chorar? Devemos consolá-los? Eles podem dormir com seus pais? O que é certo? O que é melhor para eles? E, o mais importante, vamos falar a verdade, o que vai melhor ajudar a manter a sanidade dos pais?

 

Matthew decidiu com apenas nove semanas que dormir durante a noite é uma ótima ideia, e por um tempo eu pensei que eu devia ter feito algo certo. Eu aconselhei várias outras mães sobre como fazerem seus bebês dormirem.

 

Enquanto isso, John, aos nove meses de idade, depois de eu ter experimentado com todos os métodos, orado para todos os santos, feito todo tipo de promessa e, no processo, me viciado na cafeína, meu filho finalmente dormiu a noite toda. Eu pensei até então que estava fazendo algo errado, e pedi conselhos a diversas outras mães sobre como fazer meu filho dormir.

 

Quando eles crescem mais um pouco, vem a questão da alimentação. John já comia bife com entusiasmo com apenas um dente. Ele aceita qualquer coisa comestível. A maior parte da nutrição do Matthew, por outro lado, vem de nuggets de frango. Acredite, eu tentei de tudo para que ele experimente outros alimentos, em vão. O que eu fiz de errado com o Matt? O que eu fiz certo com o John?

 

Eu posso me aconchegar com o John durante o tempo que eu quiser, e ele me abraça de volta, descansando sua doce cabecinha no meu ombro. Aos quatro meses de idade, quando Matt começou a rolar e podia dessa forma escapar dos meus braços, ele não quis mais ser confinado a qualquer coisa, mesmo que um abraço carinhoso. Ele tem outros lugares para ir; coisas mais importantes a fazer. Mais uma vez, eu me pego me questionando se fiz algo diferente com cada criança.

 

A verdade é que eu fiz, ou meu corpo fez, quando iniciou um processo em que uniu o meu código genético com um conjunto completamente diferente de códigos genéticos, onde criou assim dois seres distintos cujas moléculas desencadearam atributos individuais.

 

Hoje, eu humildemente aprendi que o único conselho realmente universal e relevante a se dar a uma outra mamãe é: compre pilhas recarregáveis. Confie em mim. A grande parte das parafernálias dos bebês hoje em dia precisa de baterias, então poupe algum dinheiro aí.

 

De resto, em relação ao comportamento dos meninos e quanto ao que eu não posso controlar ou entender, eu sigo um único conselho válido de outra mãe: na dúvida sobre qual decisão e atitude tomar, o que nunca falha com crianças é dar amor. Isso sempre funciona.

 

Mariana Parreiras

“O que eu fiz de errado?”, indaga Mariana e todas as mães do mundo. Foto: Arquivo pessoal.

 

Mãe do John e do Matthew, Mariana Parreiras, 35 anos, escreve semanalmente para a coluna “Relato de Mãe”. Num texto leve e moderno, ela conta sobre a delícia e a dor de ser mãe. Formada em Comunicação e com uma carreira consolidada em grandes empresas americanas, Mariana colocou a vida profissional em segundo plano para cuidar da educação dos filhos. Acompanhe!

 

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