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Tratamento do hipotireoidismo: existe espaço para reposição de T3?

Por Dr. Mateus Dornelles Severo 02/03/2016

A diminuição da produção de hormônio por parte da tireoide tem um tratamento simples, eficaz e barato: a reposição de T4 ou levotiroxina. No entanto, algumas pessoas (cerca de 10 por cento) ainda queixam sintomas mesmo quando a reposição parece estar adequada, com os níveis de TSH dentro da faixa terapêutica para o grupo etário do paciente.

Essa observação levantou a hipótese que estas pessoas poderiam se beneficiar de outro tipo de abordagem, isto é, a reposição adicional de T3 ou liotironina. Alguns estudos já avaliaram este tipo de tratamento do hipotiroidismo, vejamos os principais:

Hipotireoidimo tem cura? Siaiba mais. Foto: iStock/GettyImages

Saiba mais sobre o tratamento do hipotireoidismo. Foto: iStock/GettyImages

Tratamento do hipotireoidismo

Uma extensa revisão da literatura selecionou 11 estudos com qualidade aceitável que comparavam reposição de T4 isolada a reposição de T4 + T3. Mais de 1.200 pacientes foram avaliados quanto à dores no corpo, sintomas de depressão ou ansiedade, fadiga, qualidade de vida, peso, colesterol, triglicerídeos e efeitos adversos. Não houve diferença alguma entre os grupos, isto é, quanto a eficácia para alívio de sintomas, os tratamentos foram iguais.

Um estudo menor, com 141 pacientes, que também comparou a reposição de T4 isolada à reposição de T4 + T3, mostrou resultados parecidos com relação ao alívio de sintomas. No entanto, ao final do estudo, mais pacientes preferiram a terapia combinada.

Experimentos

Uma análise detalhada dos dados mostrou que 44 por cento dos pacientes que preferiram a terapia combinada ficaram discretamente hipertireoideos e consequentemente perderam em média 1,8 quilos de peso. Isto é, o desenvolvimento de hipertireoidismo decorrente do tratamento combinado, levou a perda de peso e esta percepção de “emagrecimento” fez os pacientes preferirem o tratamento combinado de T4 + T3. Aqui cabe a ressalva que a perda de peso foi consequência de tratamento excessivo, o que pode ser prejudicial a saúde em longo prazo.

Por fim, as preparações de T3 comercialmente disponíveis são de absorção rápida, isto é, após ingeridas, atingem com facilidade a corrente sanguínea. Devido a isso, existe muita flutuação nos níveis séricos de T3, o que pode tornar difícil o ajuste de dose. Alguns pacientes podem em virtude disso apresentar queda nos níveis de T4 e elevação do TSH, ou seja, tendência a piorar o hipotireoidismo.

Por fim, apesar do uso de T3 combinado ao T4 não ser útil para o tratamento do hipotireoidismo na maioria dos pacientes, talvez algumas pessoas possam se beneficiar dessa terapia. Alguns pacientes com polimorfismos no gene da deionidase tipo 2 têm dificuldade na conversão do T4 em T3 no organismo.

Reposição combinada

A reposição combinada de T4 + T3 nesses indivíduos foi favorável no alívio de sintomas. No entanto, os dados ainda são preliminares e precisam ser replicados para que se formalize essa indicação. Além disso, os testes genéticos para pesquisa dos polimorfismos da deionidase tipo 2 são poucos disponíveis fora do contexto de pesquisa e o simples exame clínico e laboratorial convencionais não conseguem identificar corretamente os portadores da mutação.

Por fim, as preparações de T3 comercialmente disponíveis são de absorção rápida, após ingeridas atingem com facilidade a corrente sanguínea. Por isso, existe muita instabilidade nos níveis de T3, o que pode tornar difícil o ajuste de dose. Alguns pacientes podem inclusive apresentar queda nos níveis de T4 e elevação do TSH, ou seja, tendência a piorar o hipotireoidismo.

Dr. Mateus Dornelles Severo é médico endocrinologista, graduado em Medicina pela Universidade Federal de Santa Maria. Ele é membro da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia.

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