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Entenda o transtorno bipolar

Por Redação Doutíssima 06/05/2013

Bi-3

A bipolaridade não faz uma pessoa ser menos humana do que a outra, nem menos capaz, mesmo que o transtorno seja categorizado como doença. Esse fenômeno constitui uma personalidade, um modo de pensar e agir, mesmo que diferente do habitual. É uma característica específica, como várias outras que podemos ter para nos identificar ou diferenciar dos outros. Então vamos entender melhor o bipolar:

 

1 – O QUE É A DOENÇA BIPOLAR?
(Doença Maníaco-Depressiva)

A doença bipolar, tradicionalmente designada Doença Maníaco-Depressiva, é uma doença psiquiátrica caracterizada por variações acentuadas do humor, com crises repetidas de depressão e «mania». Qualquer dos dois tipos de crise pode predominar numa mesma pessoa sendo a sua frequência bastante variável. As crises podem ser graves, moderadas ou leves.
As alterações do humor, num sentido ou outro têm importante repercussão nas sensações, nas emoções, nas ideias e no comportamento da pessoa, com uma perda importante da saúde e da autonomia da personalidade.

2 – QUAIS SÃO OS SINTOMAS DA DOENÇA BIPOLAR?
(Definem-se os que caracterizam cada tipo de crise)

– MANIA

O principal sintoma de «MANIA» é um estado de humor elevado e expansivo, eufórico ou irritável. Nas fases iniciais da crise a pessoa pode sentir-se mais alegre, sociável, activa, faladora, auto-confiante, inteligente e criativa. Com a elevação progressiva do humor e a aceleração psíquica podem surgir alguns ou todos os seguintes sintomas:

  •     Irritabilidade extrema; a pessoa torna-se exigente e zanga-se quando os outros não acatam os seus desejos e vontades;
  •     Alterações emocionais súbitas e imprevisíveis, os pensamentos aceleram-se, a fala é muito rápida, com mudanças frequentes de assunto;
  •     Reação excessiva a estímulos, interpretação errada de acontecimentos, irritação com pequenas coisas, levando a mal comentários banais;
  •     Aumento de interesse em diversas atividades, despesas excessivas, dívidas e ofertas exageradas;
  •     Grandiosidade, aumento do amor próprio. A pessoa, pode sentir-se melhor e mais poderosa do que todo mundo;
  •     Energia excessiva, possibilitando uma hiperatividade ininterrupta;
  •     Diminuição da necessidade de dormir;
  •     Aumento da vontade sexual, comportamento desinibido com escolhas inadequadas;
  •     Incapacidade em reconhecer a doença, tendência a recusar o tratamento e a culpar os outros pelo que corre mal;
  •     Perda da noção da realidade, ideias estranhas (delírios) e «vozes»;
  •     Abuso de álcool e de substâncias.

 

– DEPRESSÃO

O principal sintoma é um estado de humor de tristeza e desespero.

Em função da gravidade da depressão, podem sentir-se alguns ou muitos dos seguintes sintomas:

  •     Preocupação com fracassos ou incapacidades e perda da auto-estima. Pode ficar-se obcecado com pensamentos negativos, sem conseguir afastá-los;
  •     Sentimentos de inutilidade, desespero e culpa excessiva;
  •     Pensamento lento, esquecimentos, dificuldade de concentração e em tomar decisões;
  •     Perda de interesse pelo trabalho, pelos hobbies e pelas pessoas, incluindo os familiares e amigos;
  •     Preocupação excessiva com queixas físicas, como por exemplo a obstipação;
  •     Agitação, inquietação, sem conseguir estar sossegado ou perda de energia, cansaço, inacção total;
  •     Alterações do apetite e do peso;
  •     Alterações do sono: insônia ou sono a mais;
  •     Diminuição do desejo sexual;
  •     Choro fácil ou vontade de chorar sem ser capaz;
  •     Ideias de morte e de suicídio; tentativas de suicídio;
  •     Uso excessivo de bebidas alcoólicas ou de outras substâncias;
  •     Perda da noção de realidade, ideias estranhas (delírios) e «vozes» com conteúdo negativo e depreciativo;

Algumas vezes o doente tem, durante a mesma crise, sintomas de depressão e de «mania», o que corresponde às crises MISTAS.

3 – QUANTO TEMPO DURA UMA CRISE?

Varia muito. A pessoa pode estar em fase maníaca ou depressiva durante alguns dias, ou durante vários meses. Os períodos de estabilidade entre as crises podem durar dias, meses ou anos. O tratamento adequado encurta a duração das crises e pode prevení-las.

4 – É POSSÍVEL PREVER AS CRISES?

Para algumas pessoas, sim. Umas terão uma ou duas crises durante toda a vida, outras pessoas recaem repetidas vezes em certas fases do ano (caso não estejam tratadas!). Há doentes que têm mais do que 4 crises por ano (CICLOS RÁPIDOS).

5 – EM QUE IDADE SURGE A DOENÇA?

Pode começar em qualquer altura, durante ou depois da adolescência.

6 – QUANTAS PESSOAS SOFREM DA DOENÇA BIPOLAR (Maníaco-Depressiva)?

Aproximadamente 1% da população sofrem da doença, numa porcentagem idêntica em ambos os sexos.

7 – QUAL A CAUSA DA DOENÇA?

Há vários fatores que predispõem para a doença, mas o seu conhecimento ainda é incompleto.
Os fatores genéticos e biológicos (na química do cérebro) têm um papel essencial entre as causas da doença, mas o tipo de personalidade e os stresses que a pessoa enfrenta desempenham também um papel relevante no desencadeamento das crises.

8 – DEPOIS DE UMA CRISE DE DEPRESSÃO OU MANIA VOLTA-SE AO NORMAL?

Em geral, sim. No entanto, devido às consequências dramáticas que as crises podem ter, no plano social, familiar e individual, a vida da pessoa complica-se e perturba-se muito, restringindo de forma marcante a sua capacidade de adaptação e autonomia.
O tratamento adequado para a prevenção das crises (se são graves e/ou frequentes) é essencial para evitar os muitos riscos inerentes à doença.

9 – HÁ TRATAMENTO PARA AS CRISES E PARA A DOENÇA BIPOLAR?

Não há nenhum tratamento que cure a doença por completo. No entanto, há grandes possibilidades de controlar a doença, através de medicamentos estabilizadores do humor, cuja ação terapêutica diminui muito a probabilidade de recaídas, tanto das crises de depressão como de «mania». Os estabilizadores do humor são a Olanzapina, a Lamotrigina, o Valproato, Carbonato de Lítio, Quetiapina, Carbamazepina, Risperidona e Ziprasidona.
As crises depressivas tratam-se com medicamentos ANTIDEPRESSIVOS ou, em casos resistentes, a elecroconvulsivoterapia. As crises de mania tratam-se com os estabilizadores do humor atrás referidos e com os medicamentos neurolépticos ANTIPSICÓTICOS.
Naturalmente, o apoio psicológico individual e familiar é um complemento indispensável para o tratamento.
As crises graves obrigam o tratamento hospitalar em muitos casos.

10 – PORQUE É TÃO IMPORTANTE A CONSCIENCIALIZAÇÃO DOS DOENTES, DOS FAMILIARES E DE OUTRAS PESSOAS SOBRE A DOENÇA BIPOLAR?

A noção de doença mental na opinião pública é, em geral, muito confusa e pouco correta. Verifica-se uma tendência para considerar negativamente as pessoas que sofrem de doenças psiquiátricas e é frequente a ideia de que as doenças mentais são qualitativamente diferentes das outras doenças. É muito comum imaginar que há uma «doença mental» única («a doença mental»), atribuindo às pessoas que tenham sofrido crises, um prognóstico negativo de incurabilidade, aferido erradamente pelos casos de doentes mentais mais graves e crónicos. Por vezes o diagnóstico médico das diferentes doenças psiquiátricas não se faz na altura própria, por variadas razões, e isso acontece, com alguma frequência, na Doença Bipolar.
O conhecimento, mesmo que simplificado, das características da Doença Bipolar facilita a seu reconhecimento aos próprios (que a sofrem) e aos outros, possibilitando uma maior ajuda a muitas pessoas que carecem de um tratamento médico adequado e de uma solidária compreensão humana.

Fonte: Saude Portugal

Adaptação: Raquel Paquiela