Relacionamento

Família: muito além dos laços de sangue

Por Rafaela Monteiro 15/10/2013

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O que é família? Como é dada sua definição? São sempre os laços consanguíneos que as definem? A quem podemos chamar de familiares? Essas e muitas outras perguntas têm sido feitas e muitas definições tem sido elaboradas a respeito do conceito de família.

Autores da psicologia e antropologia argumentam a importância dos vínculos afetivos estabelecidos nas questões de paternidade e nas concepções de família. A forma de se relacionar em família, assim como a concepção desta é estabelecida de maneiras diferentes em cada camada da população, também podendo variar de lugar para lugar.

 

Família e contexto

O antropólogo brasileiro Luis Fernando Duarte, diz que o valor de família tem grande peso em todas as camadas da população brasileira. Porém, tem significados diferentes dependendo da categoria social. Enquanto, entre pessoas da elite, prevalece a família como linhagem (pessoas orgulhosas de seu patrimônio), que  mantêm entre elas um espírito corporativista, nas camadas médias a prática é a família nuclear, identificada com a modernidade. Para os grupos populares o conceito de família está ancorada nas atividades domésticas do dia a dia e nas redes de ajuda mútua.

Rayna Rapp, antropóloga americana, em sua pesquisa sobre concepções de família na sociedade americana, afirma que na ideologia altamente individualista das classes médias americanas, os parentes são assimilados à categoria de “amigos”, de forma a poder eliminar os que não respeitam as regras da amizade. Dessa forma, os indivíduos com muitos problemas são afastados da convivência familiar, o filho perdulário é deserdado, o sobrinho doente é esquecido, a avó caduca é deixada numa instituição. 

 

Rompendo com o biológico

Levi Strauss deu o passo decisivo para a desnaturalização da família ao romper com o fundamento biológico da consanguinidade e ao focar sua atenção na questão do parentesco. Para ele, os laços de parentesco são instituídos como fato social e não como natural. Incluem não apenas a relação de consanguinidade e a descendência, mas principalmente as alianças.  Dessa forma, ao retirar da família biológica o foco principal e ampliar a estrutura do parentesco com as alianças sociais,  Levi Strauss contribui com novos elementos para a compreensão dessa modalidade de constituição familiar e de formação de vínculos de parentesco. Em suma, abriu caminhos para a análise da cultura como dimensão simbólica constitutiva de toda e qualquer realidade social.

Françoise Dolto, ao falar sobre adoções, introduz a ideia de que todos os seres humanos estão na condição de serem ou não adotados pelos seus pais biológicos e por todos aqueles que passam e passarão por suas vidas, pois, tanto na adoção como na paterninadade e maternidade biológicas, os pais precisam desejar o filho, imaginá-lo, contruí-lo em suas fantasias e conferir a ele um lugar na sua descendência familiar. Para essa autora, a questão psíquica prevalece em relação a questão biológica, sendo a primeira mais importante para estabelecimento de relações de parentalidade.

Assim, para esses autores, as relações familiares e de parentesco estão além da consanguinidade, aproximando-as aos laços de afeto, dando a estes vital importância no estabelecimento de famílias e de relações maternas ou paternas. Dessa forma, a  luz da psicologia, também prevalece o vínculo de afeto e cuidado estabelecido ao londo de anos na relação pais e filhos, a despeito da inexistência do vínculo biológico.