Ao longo dos últimos anos, muitas mudanças se deram a nível social. A família, por exemplo, passou por inúmeras transformações. Sendo passível de vários tipos de arranjos na atualidade. Entretanto, as funções básicas desempenhadas pela instituição familiar no decorrer do processo de desenvolvimento psicológico de seus membros permanecem as mesmas.
A família
Desde os tempos mais antigos, corresponde a um grupo social que exerce marcada influência sobre a vida das pessoas. Encarada como um grupo com uma organização complexa inserido em um contexto social mais amplo, com o qual mantém constante interação. O grupo familiar tem um papel fundamental na constituição dos indivíduos sendo importante na determinação e na organização da personalidade, além de influenciar significativamente no comportamento individual através das ações e medidas educativas tomadas no âmbito familiar.
Pode-se dizer, assim, que esta instituição é responsável pelo processo de socialização primária das crianças e dos adolescentes. Tem como finalidade estabelecer formas e limites para as relações estabelecidas entre as gerações mais novas e mais velhas, propiciando a adaptação dos indivíduos às exigências do conviver em sociedade.
É muitas vezes designada como o primeiro grupo social do qual o indivíduo faz parte, sendo a célula inicial, e principal, da sociedade na maior parte do mundo ocidental. Ou ainda, a unidade básica da interação social e como o núcleo central da organização humana.
Exerce um papel importante na vida dos indivíduos, sendo um modelo ou um padrão cultural que se apresenta de formas diferenciadas nas várias sociedades existentes e que sofre transformações no decorrer do processo histórico-social.
A sua estruturação está intimamente vinculada com o momento histórico que atravessa a sociedade da qual ela faz parte. Uma vez que os diferentes tipos de composições familiares são determinados por um conjunto significativo de variáveis ambientais, sociais, econômicas, culturais, políticas, religiosas e históricas.
Nesse sentido, considera-se que a estrutura familiar, bem como o desempenho dos papéis parentais, modificou-se consideravelmente nas últimas décadas.
A família no século XX:
Do início do século XX até meados dos anos 60, houve o predomínio do modelo de família denominado “família tradicional”, no qual homens e mulheres possuíam papéis específicos, social e culturalmente estabelecidos. Havia um aparato social e cultural que estabelecia como “naturais” alguns papéis atribuídos aos homens e às mulheres.
Segundo esse modelo, que seguia de perto a divisão social do trabalho, o homem é o “chefe da casa”, o provedor da família, sendo responsável pelo trabalho remunerado, tendo autoridade e poder sobre as mulheres e os filhos, apresentando seu espaço de atuação ligado ao mundo externo, ou seja, fora do ambiente familiar. A mulher, por sua vez, era responsável pelo trabalho doméstico, estando envolvida diretamente com a vida familiar, dedicando-se ao cuidado dos filhos e do marido, ou seja, a atividades realizadas no âmbito da vida privada, do lar.
Além disso, no modelo de família hierárquica ou tradicional a afetividade familiar era marcada por um romantismo que englobava a idéia do amor materno como natural e apontava para a presença do amor e da preocupação para com o desenvolvimento das crianças.
Por outro lado, as relações estabelecidas entre pais e filhos dentro deste modelo de família são marcadas pelas diferenças entre as gerações, sendo definidas por meio de noções de respeito e autoridade, aspectos que caracterizam a assimetria da relação adulto-criança.
Os pais, neste período, tinham controle absoluto sobre os filhos, sendo extremamente exigentes, principalmente no que dizia respeito à observância das normas e regras sociais. As crianças usufruíam de imensos espaços para suas brincadeiras – o território infantil se estendia por ruas, praças e quintais – convivendo com primos e amigos, porém eram sempre mantidas sob o olhar atento e zeloso das mães. As atitudes educativas dos pais estavam baseadas em princípios vinculados à moralidade religiosa, ideário patriótico e higienismo médico.
Segunda metade do século XX
A partir dessa época, a família passou (e continua passando) por um processo de intensas transformações econômicas, sociais e trabalhistas. Sobretudo nos países ocidentais. Tais fatores, entre outros, tiveram um impacto direto no âmbito familiar, contribuindo para o surgimento de novos arranjos que mudaram a “cara” dessa instituição.
Emerge uma nova concepção de família, denominada de “família igualitária”. Nessa nova estruturação, homens e mulheres estão atuando em condições mais ou menos semelhantes no mercado de trabalho formalmente remunerado, começando a dividir entre si o trabalho doméstico e a educação dos filhos, ainda que a maior parte destas tarefas se mantenha a cargo da mulher, que vem confrontando os desafios do mundo do trabalho procurando conciliar a vida profissional e familiar.
Tais mudanças ocorridas nas últimas décadas também contribuíram para que a idéia de uma mulher-indivíduo começasse a impor-se frente à idéia da mulher-natureza destinada a ser mãe e dona-de-casa, pois, na contemporaneidade, a mulher almeja o sucesso pessoal sem mediadores, incluindo em seus ideais de vida a realização profissional. Além disso, o trabalho feminino passa a garantir, muitas vezes, a subsistência das famílias, principalmente nos países menos desenvolvidos.
Modernidade
Frente a tais alterações, a tendência atual da família moderna é ser cada vez mais simétrica na distribuição dos papéis e obrigações. Uma família marcada pela divisão entre os membros do casal referente às tarefas domésticas, aos cuidados com os filhos e às atribuições externas. Sujeita a transformações constantes, devendo ser, portanto, flexível para poder enfrentar e se adaptar às rápidas mudanças sociais inerentes ao momento histórico em que vivemos.
Este rápido processo de mudanças ocorridas nas relações e nos valores familiares levou à inexistência de referenciais pessoais claros para a orientação da conduta dos indivíduos. Que antes, já eram determinados antes mesmo do nascimento; e nesse momento, o sujeito tem que construir sua identidade, não mais dada.
Contudo, apesar de tais transformações, a família ainda mantém o papel específico que exercia no contexto social e continua a ser uma instituição reconhecida e altamente valorizada, uma vez que prossegue exercendo funções capitais durante todo o processo de desenvolvimento de seus membros.