Saúde Mental

Drogas, pobreza e violência: saiba mais a partir da análise de um caso

Por Rafaela Monteiro 07/11/2013

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Mãe acorrenta filho dependente químico para evitar que ele roube:

A mãe saiu para trabalhar acorrentada ao filho de 14 anos. Esta foi a alternativa encontrada pela catadora de papel para lidar com a dependência química do filho.
“Ele já roubou tudo aqui de casa: roupa de cama, talheres, panelas. Prefiro acorrentar antes que ele comece a roubar dos outros”, afirma Maria, que tem 55 anos. A catadora cozinha em latas, enquanto junta dinheiro para comprar uma panela.
Apesar de ser consciente que pode responder criminalmente por acorrentar o próprio filho – o fato pode ser interpretado por alguma autoridade policial como cárcere privado, abandono de incapaz ou lesão corporal -, a catadora de papéis diz preferir fazer isso a “ver o filho morto”.

 

Pensando sobre 

O caso citado foi um dos muitos que se pode ter acesso fazendo uma rápida busca na Internet. Nele observamos que uma mãe desesperada pela situação do filho, utiliza como última opção acorrentá-lo para evitar que ele roube.

Expandindo nosso olhar para a atitude da mãe e o contexto em que ela está inserida, podemos entender que esse ato não expressa simplesmente falta de amor ou negligência, pelo contrário, pode ter sido a única saída que a mãe encontrou para proteger seu filho.

A reportagem faz uma associação a essa atitude da mãe a problemas sociais da região onde aconteceu o episódio. No texto completo fala da situação social que se encontra essa família. A mãe é catadora de lixo e moram em uma casa de madeira bem pequena. O presidente da Associação de moradores revela que há muitos casos parecidos com o relatado e compreende a postura da mãe dizendo que “este é o último recurso de uma mãe desesperada”. Percebemos que enquanto nós, distantes da situação, ficamos chocados com a situação, pessoas que estão mais próximas, compreendem a atitude da mãe. Isso evidencia o que podemos ler na teoria, ou seja, o conceito de violência é algo aberto e construído socialmente, e não uma categoria que tem sentido em si fora de um contexto.

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A mãe diz ter consciência que pode responder criminalmente pela sua atitude, mas que prefere isso a ver o filho morto. Embora as autoridades possam entender o ato como cárcere privado ou violência corporal, analisando a situação, podemos perceber que essa mãe não encontrou outras alternativas. Antes de tomar esta atitude, já havia procurado ajuda no Centro de referência da Ação Social e denunciado duas vezes o filho para a delegacia do Adolescente, mas revelou que nada foi feito.

A “positividade” do ato violento da mãe está claramente exposta na tentativa de protegê-lo. Além disso, a mesma encontrava-se sozinha, na tentativa de proteger o filho, visto que o Estado parece ter sido negligente se eximido de sua parcela de responsabilidade no caso e, de certa forma, responsabilizando somente os pais e sem contextualizar a situação.

 

Ato violento

Através deste caso podemos observar que este ato violento da mãe não guardava em si somente destrutividade, pois visava proteger o filho de algo pior. E notamos também, como é importante analisarmos a situação não só no contexto de vítima/agressor, pois neste caso percebemos o quão fortemente questões sociais e a negligência do estado influenciaram na decisão da mãe em tomar esta atitude.

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Tal atitude pode ser tomada como uma forma legítima de proteger e exercer vigilância, pois o acorrentamento visa evitar o cometimento de um crime, evitar o uso de drogas, evitar que ocorra um mal maior do que, segundo a mãe, já tinha ocorrido, além de buscar certa segurança e distanciamento de dado perigo.

Tal atitude evidenciada no núcleo familiar recebe dado apoio dos vizinhos — presentes no contexto em que a família vive — estes a compreendem pois compartilham da mesma realidade e isso permite maior aceitação e entendimento da tal fato, visto que a violência em sua forma contextualizada pode receber um olhar distinto do que fora dela.

A violência deve se configurar como tal de forma contextualizada, pois, um olhar externo poderá condenar essa mãe, e por não participar de seu meio terá dificuldade de aceitar ou entender sua ação desesperada. Pensar a violência como algo somente relacionado a vítimas e agressores nos remete a um olhar restrito da mesma diante de todo exposto acima.

Por isso afirmamos que está tem caráter plural, múltiplo, e sua avaliação deve ser ampla, onde os olhares devem se ater não só a sua suposta vítima, mas ao seu contexto e também a quem se atribui “culpa”. Portanto, deve-se a esta um amplo olhar para podermos obter uma correta categorização e até mesmo devida prevenção da violência ocorrida no ambiente familiar e em outros.