Medicamentos

O homem moderno e o viagra: ginecologista explica a relação

Por Dr. Amaury Mendes Junior 12/11/2013

Tabletten zur Potenzsteigerung

 

Nosso ginecologista e sexólogo explica tudo o que você queria saber, nos tempos de hoje, sobre o viagra: a famosa pílula azul.

O processo da ereção começa de fato no cérebro, mas de tal modo preocupa aos homens que Leonardo da Vinci escreveu e comentou a respeito do pênis:

Frequentemente o homem dorme e ele fica desperto, muitas vezes o homem esta desperto e ele dorme, outras vezes quer usá-lo e ele não quer ser usado, e quando menos se espera ele quer, mas o homem o proíbe…”. Parece incontestável, que o pênis tem mente própria.

Mais recente agora, em pleno século XXI o comediante Robin Williams arriscou comentar  em um de seus shows: “Deus nos deu um pênis e um cérebro, mas sangue suficiente para fazer funcionar apenas um de cada vez”.

 

Homens x mulheres

Nas questões relacionais, enquanto a maioria das mulheres tem como preocupação, o poder da sedução e o vínculo amoroso, entre os homens, o foco continua sendo a genitalidade e  ereção.  A questão da rigidez peniana transcende o tempo, a tal ponto que nas culturas primitivas, vários povos utilizavam objetos pesados amarrados ao próprio “Bilau” com propósitos de crescimento , simbolismo de força, demonstração de poder, capacidade reprodutiva e obter  respeito dos inimigos. Galeno, médico e filosofo (viveu entre os anos 130 e 200 D.C) afirmava que somente o calor interno do corpo masculino permitiria a exteriorização do pênis ao contrario das mulheres que por não possuírem este calor vital teriam o órgão fálico introvertido, sendo então reconhecidas e desmerecidas como homens imperfeitos.

Com o advento das pílulas contraceptivas em 1960, a mulher finalmente pode optar entre o sexo prazeroso e o reprodutivo. Tal descoberta que possibilitou o prazer orgástico livre de culpas, trouxe  a tona toda a  fragilidade sexual masculina acobertada pela atitude compreensiva ou resignada da parceira até então relegada à condição de reprodutora. Tal fato histórico tirou a impotência do armário e colocou pela primeira vez a ereção masculina em cheque.

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45% dos homens têm algum grau de dificuldade de ereção

Hoje sabemos que 45,1% de todos os homens a partir dos 18 anos, apresentam de forma crescente, com a idade, algum grau de dificuldade de ereção. Sendo a prevalência maior a partir dos 45 anos, principalmente pela incidência maior de doenças nesta faixa etária. O processo de ereção é tão complexo que está sujeito a bloqueios por variadas condições.

Fatores de risco, tais como: obesidade, tabagismo, alcoolismo, medicamentos de uso contínuo, antidepressivos, estresse e sedentarismo, potencializam os riscos da disfunção erétil. Também influem o nível cultural, as crises relacionais e financeiras que geram ansiedades e bloqueios na transmissão dos circuitos neurotransmissores de noradrenalina, dopamina e ocitocina que atuam junto aos estímulos de sensações prazerosas. Dificilmente a disfunção erétil se manifesta associada a uma determinada causa apenas.

Desde o ano de 1140 quando foi publicado o Decretum de Gratian (leis canônicas), a disfunção erétil passou a ser considerada pelas leis católicas, motivo justificado para anulação do casamento. Neste período era sugerido que o casal formado por um marido impotente tentasse viver como irmãos. Se não fosse possível o arranjo, a mulher tinha autorização para casar novamente.

A ausência de filhos no matrimônio era inconcebível e o remetia ao pecado mortal da fornicação (sexo pelo sexo). Para definir a condição do marido disfuncional, era praxe na época, submetê-lo a um teste realizado na presença do padre e da esposa com a exposição do impotente a uma mulher de reconhecida honestidade, que se apresentava diante do acusado com os seios expostos e o beijava e acariciava dedicando especial atenção ao seu pênis e a tudo que pudesse levá-lo a uma ereção.

Também nesta época, ocorria a pratica do “congresso”, evento patrocinado pelos tribunais eclesiásticos como parte do processo para anulação de um casamento com base na impotência do marido. O casal era levado a permanecer alguns dias confinados em dependências do tribunal onde deveria dormir junto com o objetivo da penetração. O procedimento era assistido por grupos de ate 15 pessoas, além de uma mulher mais velha e experiente que lhes oferecia dieta própria, massagens com óleos mornos e orientação quanto a caricias e abraços. Ao fim do período, a acompanhante relatava as autoridades da igreja o que vira na presença do casal.

Há milênios o homem perpetua a busca pelos representativos que reforcem a masculinidade sejam eles na forma de alimentos ou de símbolos. Sansão fazia dos cabelos o afrodisíaco de sua masculinidade, Hércules com musculatura testosterônica transpirando masculinidade realizou os 12 trabalhos para obter status entre os Deuses do Olimpo. O simples mortal foi buscar na associação entre gula e luxúria o simbolismo para o aumento da função sexual, desta forma o consumo de substancias ditas estimulantes do desejo sexual seja por associação com as formas dos genitais (ostras e aspargo) como pela sugestão (órgãos genitais de animais) seriam responsáveis pelo aumento da força e da vitalidade, pois boca e sexo conjugam o mesmo verbo. Assim encontramos dentre os ditos afrodisíacos (substancias reparadoras da energia vital e excitante dos apetites sexuais) alimentos, ervas, raízes, temperos e bebidas conhecidas por sua capacidade de intensificar a vitalidade sexual.

OMS receita: faça sexo

A OMS (Organização Mundial de Saúde) inclui dentro do quesito saúde o sexo como um dos quatros pilares  para uma vida melhor (saúde, moradia, alimentação, trabalho). O desdobramento destas metas resultou na descoberta de vacinas, medicamentos, exames sofisticados, experimentos com células tronco, genética embrionária, alimentos mais saudáveis, e outras comodidades que facilitarão cada vez mais (segundo projeções) a vida de nove bilhões de pessoas neste pequeno planeta no ano de 2050.  Mulheres e homens atingirão mais facilmente, faixas etárias de 81 e 71,8 anos respectivamente.

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Hello, viagra!

Em 1998 os médicos ficaram surpresos com o efeito colateral (ereção em um grupo de homens) causado por uma substância usada em testes laboratoriais para cardiopatas. O Sildenafil (Viagra) tornou-se em pouco tempo o avanço mais importante no tratamento da disfunção erétil. Poucas drogas foram mais estudadas. Mais de 11.000 pacientes /ano foram observados em estudos clínicos em todo o mundo.

Seguro e eficaz o medicamento melhora a ereção na maioria dos problemas que impedem ou inibem a ereção, só existindo contra indicação para quem faz uso de nitratos (grupo especifico de medicamento para baixar a pressão).

A resposta a principio fria e desconfiada por parte do público feminino (quanto ao receio da desvalorização do papel de sedução no envolvimento erótico) foi suplantada pela compreensão do funcionamento da droga que age como mantenedora da ereção após ser obtida com o estimulo sexual do objeto amoroso. Desta forma o medicamento torna-se um importante aliado entre parceiros que impedidos por problemas orgânicos ou emocionais encontram dificuldades no exercício da sexualidade plena. O medicamento facilita a resposta sexual principalmente quando o desejo esta presente, ocorrendo desta forma uma retroalimentação para o fortalecimento do vínculo amoroso.

 

Viagra fez uma revolução parecida com a do anticoncepcional

Se a pílula anticoncepcional impulsionou a revolução sexual nos anos 60, o Sildenafil produziu um simulacro de revolução, pois o homem disfuncional recupera sua auto-estima com a possibilidade do pleno exercício de sua sexualidade, marcando uma mudança importante na forma como as pessoas enxergam hoje o distúrbio que décadas atrás era considerado uma questão basicamente psíquica.

Com o sucesso obtido com o público masculino a indústria vem testando diversos produtos para o tratamento do desejo sexual hipoativo feminino. Novos produtos deverão chegar ao mercado em breve, possibilitando o estudo e a compreensão da dinâmica relacional. Vale ressaltar que os medicamentos pró-sexuais funcionam sob o comando individual de cada cérebro, a partir da intensidade do grau de atração, ampliando desta forma a pulsão natural percebida pela construção entre as pessoas.  Desta forma, geriatras poderão prescrever com segurança e quando oportuno, medicamentos para incrementar o erotismo.

Se no passado havia relutância entre a maioria dos homens em buscar ajuda para as disfunções sexuais devido à ausência de resultados eficazes com os tratamentos disponíveis, hoje em dia existe uma  diversidade de tratamento tanto psicológico quanto medicamentoso que respondem de forma comprovada.

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De maneira breve e objetiva, as questões que antes angustiavam e afastavam o indivíduo dos cuidados básicos com a saúde e do exercício de sua plena capacidade erótica sexual, agora são abordadas, desmistificando antigos conceitos relativos ao comportamento  masculino estimulando  um olhar sistêmico para o binômio corpo/mente.

Este semestre cai a patente do remédio que no Brasil consome um milhão de pílulas ao mês e movimenta R$ 160 milhões por ano (perdendo em vendagem apenas para os EUA.) tal fato será, do ponto de vista da saúde publica, de extrema importância, pois permitira o acesso de camadas de baixo poder aquisitivo ao medicamento.

O Viagra provocou uma importante mudança comportamental melhorando a auto-estima de homens e mulheres, valorizando relações intra e inter pessoais e possibilitando o sexo saudável antes dificultado por problemas biopsicossociais.

Incorporou-se definitivamente  nas relações de forma mais sedutora e madura, fazendo com que os vínculos  possam progredir sem preocupações quanto ao desempenho. Tão revolucionário quanto sensível encaixa-se perfeitamente na colocação “É preciso endurecer, mas com ternura”.

Imaginar como seria hoje sem a pílula azul?  Em um primeiro instante podemos imaginar como negado ao homem à oportunidade em retomar as rédeas do controle fálico balançado pela liberdade sexual feminina conquistada após os contraceptivos.

Quem se acha fraco , precisa mostrar-se forte.  A impossibilidade de manter a rigidez peniana sob controle resultaria em angústia, depressão e  inveja que os homens sentem das mulheres do fato destas  não  necessitarem demonstrar desempenho quanto ao papel de gênero. Porém ambos não poderiam usufruir o conjunto da obra, sem a resposta do significante fálico.

Desta forma vemos que em todas as culturas o homem sempre temeu as mulheres e tentou manter o domínio pelo desempenho sexual. O Viagra funcionaria para muitos homens como um seguro contra a broxada.