A polêmica em relação aos riscos do colesterol no sangue e uso de remédio para colesterol têm gerado debate entre médicos. De um lado, a Sociedade Brasileira de Cardiologia decidiu, recentemente, tratar a doença com mais rigor, baixando de 100 para 70 o total aceitável de miligramas de LDL (o chamado colesterol ruim) por decilitro de sangue para pacientes com alto risco de doenças cardiovasculares.
A polêmica sobre uso de remédio para colesterol
Por outro lado, numa atitude completamente oposta, há médicos que questionam a necessidade de se preocupar com o índice, sobre o que realmente seria uma dieta saudável para o coração e até mesmo efeitos colaterais das estatinas, remédio usado para reduzir o índice de colesterol ruim.
A querela começou quando a associação americana publicou novas diretrizes que indicavam a necessidade de reduzir em 50% o LDL de pacientes de risco. A preocupação se dá, pois de acordo com as associações, o colesterol é uma gordura (tese lipídica) que quando acumulada ocasiona a doença cardiovascular.
“Por isso, ninguém pode desestimular o uso de remédios para pacientes de risco”, afirma Hermes Xavier, presidente do Departamento de Aterosclerose da Sociedade Brasileira de Cardiologia e autor da nova diretriz.
Não é o que pensa o clínico geral Eduardo Almeida, PhD em Saúde Coletiva pelo Instituto de Medicina Social da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Para ele, o colesterol é uma fraude. “O colesterol não é uma gordura, é um esterol (álcool), com estrutura semelhante a de um hormônio, e está na membrana celular, está na carne e não na gordura. Criou-se uma falsa ciência para a venda de alimentos e posteriormente a venda de remédios”, diz.
Não sendo gordura, explica, não cria placas e, consequentemente, não entope as artérias. “O colesterol não é um caso e saúde, é uma campanha de marketing”, diz ele em referência à indústria alimentar – que criou produtos como a margarina, de gordura vegetal – e a farmacêutica, responsável pelas estatinas, o remédio de controle do colesterol.
Almeida afirma, ainda, que as estatinas bloqueiam a enzima hepática, inibindo o colesterol, mas também bloqueia outras enzimas como o doricol, responsável pela replicação do DNA e a coenzima Q-10, que faz parte da mitocôndria e estaria ligada a produção de energia. “A pessoa começa a ter dores musculares e aumenta a chance de ter insuficiência do miocardio. O remédio ocasiona danos ao fígado, parkinson, aceleração de doenças neurodegenerativas”, disse.
Sem risco
O cardiologista Raul Dias dos Santos Filho, diretor da Unidade Clínica de Lípides do Instituto do Coração do Hospital das Clínicas, em São Paulo, defende que não existe nenhum estudo que comprove relação entre as estatinas com o mal de Parkinson ou doenças neurodegenerativas. “Há estudos realizados com idosos que não mostraram esta relação. Sobre as dores musculares, isto acontece em apenas 10% dos pacientes”, disse.
Para ele, não faltam evidencias de que há relação entre o alto colesterol e as doenças coronarianas. “Se alguém fala que colesterol alto não é fator de risco, está desinformado”, diz, enfático. “O que ocorre são pessoas de outras especialidades querendo interferir na questão do colesterol”, alfineta Hermes Xavier.
Para os defensores das estatinas, dois grandes estudos, um feito pela Universidade de Oxford, na Inglaterra, e outro da Associação Americana de Cardiologia (AHA) indicam a necessidade de baixar o índice considerado bom do colesterol ruim. O estudo britânico analisou mais de 270 mil pacientes e comparou LDL com doença cardíaca. O americano mostrou que o uso de estatinas resultadou em 44% menos mortes por causas cardiovasculares.
Consenso
Mas, se os médicos discordam em muitos pontos, muitos deles “elementares” sobre o colesterol, em uma coisa eles concordam: os fatores de risco. Maus hábitos como tabagismo e vida sedentária devem ser combatidos para evitar novos casos de doenças coronarianas.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), a inatividade física é o quarto principal fator de risco para a mortalidade global, estimando-se que cause 3,2 milhões de mortes anualmente em todo o mundo.