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O orgasmo na atualidade: fala-se mais, compreende-se menos

Por Keila Oliveira 31/07/2014

Com a ampla difusão dos assuntos relacionados ao sexo, entre eles o orgasmo, muitas pessoas acabam sonhando com as performances irreais midiatizadas e se frustram com a realidade. Aproveite o Dia Mundial do Orgasmo para entender melhor como viver bem (e com muito prazer) suas relações.

 

orgasmo

Foto: Shutterstock

 

Nunca se falou sobre sexo tão abertamente como hoje em dia, ao ponto de se criar e difundir um Dia Mundial do Orgasmo, comemorado hoje, 31 de julho. A mídia descobriu que sensualizar pode dar muito dinheiro. Mulheres bonitas e seminuas são a atração preferida de fabricantes de bebida. “Morrer de prazer” ou “ter prazer a qualquer custo” virou um slogan vendido e amparado por muitos profissionais do marketing. Experts na cama são alvo de cobiça alheia e proporcionar orgasmos fabulosos são metas estabelecidas por muitos.

 

Exposição na mídia e o orgasmo no dia a dia

 

O fato é que a mídia influencia e “vende” esta marca de ser poderoso na cama. O que muitas pessoas não assumem ou não “compram” é a real rotina sexual da grande maioria, que é permeada por rotina, cansaço, dificuldades íntimas e pessoais. Algumas mulheres fingem orgasmo para não se sentirem diminuídas e alguns homens fingem um desempenho sexual não condizente com sua realidade. Afinal, um grande número de pessoas sente necessidade de se enquadrar no padrão midiático explícito na sociedade.

Essa semana foi lançado o trailer do filme “50 tons de cinza” que vendeu cerca de 70 milhões de cópias pelo mundo. Muitas questões foram lançadas sobre o porquê de tanto sucesso. Muitas mulheres me perguntaram assustadas como Anastasia Steele conseguia ter orgasmo de forma tão fácil? Creio que esse pode ser um dos motivos para tanto sucesso: fantasiar cenas de sexo tão ardentes e de prazer tão fácil.

Na vida real as coisas não são tão simples nem tão intensas, via de regra. Estima-se que de 1/3 a ¼ das mulheres sofram por não conseguirem ou terem dificuldades em obter o orgasmo. Os homens em menor quantidade podem apresentar ejaculação retardada ou anorgasmia. Outras tantas não sentem desejo ou apresentam dificuldades com lubrificação vaginal.

As pessoas ainda sentem vergonha e demoram a procurar ajuda especializada quando apresentam queixas sexuais. Estima-se que 50% dos casais possam apresentar alguma queixa sexual ao longo da vida a dois. Preconceitos e tabus sobre o sexo ainda são temas que precisam ser mais apresentados intimamente em cada sujeito.

 

Porque tantas um número tão alo de mulheres não têm orgasmo?

 

Três fatores devem ser levados em consideração quando se fala de orgasmo: fisiológico, psicológico e sociocultural. Ainda vivemos em uma sociedade repressora, que considera que mulheres devem se preservar e de que ficou para homens liberar as energias sexuais – mas as mulheres também sentem prazer, têm hormônios, têm libido. Mulheres sedutoras foram consideradas bruxas e queimadas na fogueira na Santa Inquisição; ainda restaram resquícios disto na sociedade moderna.

Muitas pessoas, por questões religiosas, consideram a masturbação um pecado. Durante muito tempo sexo deveria ser procriativo e não recreativo para as mulheres. A clitoridectomia ainda é uma prática na África, Oriente Médio e sudeste asiático, iniciada há 2000 anos para que as mulheres não sintam prazer, em decorrência disto não percam a virgindade antes do casamento e não traiam seus maridos.

Conhecemos uma vã filosofia de que o prazer feminino depende do nosso parceiro, sendo que na verdade nosso prazer não depende dos homens e nem está subordinado a eles. As mulheres precisam aprender que cabe a elas esse momento afortunado, mas elas não sabem como! Existem muitos outros motivos, mas considero que o mais importante deles é que a mulher não conhece o próprio corpo.

Os meninos se masturbam desde cedo, e desde cedo aprendem a ter orgasmos, essa fase talvez seja a mais simples para eles, contudo as mulheres ainda não entenderam que esse é o caminho de maior sucesso para se conseguir o tão desejado “orgasmo”! Nunca se masturbaram, ou o fizeram em raras ocasiões, sentem receio, vergonha e medo em tocar o próprio genital.

Cuidamos mais do cabelo e das unhas do que da própria vagina. Algumas mulheres não saem de casa sem antes passar uma pranchinha nas madeixas, mas se esquecem ou negligenciam a depilação.

O fato é que essa dificuldade enorme que algumas mulheres possuem em lidar com a própria sexualidade e com o conhecimento do próprio corpo tem muita relação com questões emocionais e socioculturais. O estresse do dia a dia, a falta de sensibilidade dos parceiros conjugais para as questões do outro vão se acumulando e acabam desgastando o sexo.

 

O orgasmo e as relações

 

Alguns casais apresentam problemas referentes ao sexo, seja por inadequação inerente ao próprio casal, seja pela presença de alguma disfunção sexual de um deles ou de ambos. Casais em que um apresenta alguma disfunção ou os dois apresentam algum problema podem sentir mais dificuldade em se manter juntos, pois não sabem como lidar e compartilhar problemas desta ordem.

O casal precisa experimentar maneiras diferentes de se relacionar na cama, tentando construir um ambiente que proporcione maior intimidade sexual, de massagens nos genitais, carícias e conhecimento do próprio corpo e do corpo do outro. Com isso, vão estar mais tempo disponíveis nas preliminares e conhecer a sensibilidade das próprias zonas erógenas e das do parceiro. Estas nuances permitem o conhecimento e a chegada do orgasmo.

No entanto existem problemas que necessitam de ajuda profissional de um terapeuta sexual. Entre pode estar uma anorgasmia persistente, tanto feminina quanto masculina, ou até mesmo de uma necessidade de ajustamento do casal que pode se dar desde questões corriqueiras do dia a dia que interferem no sexo, bem como questões mais complexas de origem.

Sexo não precisa ser performático nem gerar uma competição entre casais. É melhor viver sabendo das próprias dificuldades e conseguindo superá-las, entendendo que cada sujeito funciona de um modo diferente e idiossincrático. Assim você dará um passo importante para poder aprender a gozar (literalmente) do que a vida tem de melhor.

 

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