Dica do Dermatologista

Entenda as causas e consequências da alopecia areata (parte 1)

Por Dra. Anaflávia Oliveira 08/08/2014

As causas e a diferença na gravidade dos efeitos sobre cada paciente que desenvolve a alopecia areata podem ser explicadas através da teoria do queijo suíço. Entenda. 

 

alopecia areata

Foto: Shutterstock

 

Esses dias, lendo os novos estudos publicados sobre o porquê uma pessoa desenvolve a alopecia areata (condição imunológica que provoca a queda dos pelos do corpo), veio em minha mente a ”teoria do queijo suíço”. Esta teoria, que conheci em um documentário sobre acidentes aéreos, tenta explicar como ocorrem certos desastres na humanidade. Segundo ela, isso acontece quando há um “alinhamento dos buracos”.

Vou tentar explicar melhor: Imaginem várias fatias de queijo suíço (aquele cheio de furinhos) e, em uma situação atípica qualquer, houvesse um alinhamento dos “buracos do queijo” em todas as fatias. Assim, segundo a teoria para que um acidente grave ocorra é preciso que uma falha consiga ultrapassar todas as barreiras de um determinado sistema (acontecimento raro). Esse erro passaria livremente por todas as etapas do processo, causando danos sérios ao final do percurso.

 

Alopecia areata e a teoria do queijo suíço

 

Assim, como há desastres externos, pensei: Há “desastres internos” que também podem ser explicados com esta mesma teoria. Através de uma série de fatores, causas e situações, desenvolvemos doenças. E a Alopecia Areata se encaixa bem nessa situação.

Em um estudo realizado na University School of Medicine, Handayama-Hamamatsu, no Japão, foi demonstrado como é complexo uma estrutura que todo mundo acha ser tão simples, mas que possuem milhares de interações com outros sistemas e são repletas de particularidades: o Folículo Piloso (FP, popularmente chamado de raiz do cabelo).

Essa estrutura tão pequena, mas presente em milhares em nosso couro cabeludo, é responsável por produzir nossos fios de cabelo, com suas determinadas características, cores, formatos, crescimento e até mesmo a queda. Não há como ter saúde e beleza dos cabelos com FPs (raízes) doentes, não é mesmo?

A presença de qualquer tipo de doença capilar nos leva a compreender que precisamos buscar a causa interna (no caso, FP) e tratarmos o “mal pela raiz” (literalmente!). Caso contrário, o tratamento não será efetivo! Uma das características mais intrigantes da biologia do cabelo é o privilégio imunitário da fase anágena FP, que é caracterizado por um meio imunossupressor em torno do bulbo capilar.

Traduzindo: “A estrutura do FP possui uma sistema de autodefesa, que o protege contra o ataque de células destrutivas”. Não é um máximo? Fico encantada com a perfeição da natureza e da inteligência do organismo. Esse sistema de defesa não é exclusivo do FP. Ele também está presente no olho, testículo e ovário, suprarrenal, partes do sistema nervoso central, da placenta. Esse microambiente único desses locais protegidos por um sistema de autodefesa protege os órgãos de reações imunitárias, deletérios e perda de função.

 

Entendendo o organismo

 

Vejam como o organismo é inteligente: uma inflamação grave da câmara anterior do olho pode conduzir à cegueira e uma reação imunitária no sistema nervoso central pode causar danos cerebrais graves. Apesar do couro cabeludo e tronco do cabelo não serem necessários para a sobrevivência humana, essa perda de cabelo significativa poderia ser mortal para mamíferos, como os ursos polares, focas e renas.

Esse sistema de autodefesa, característico da fase anágena (fase de crescimento do cabelo) é mantido por vários fatores, incluindo a falta de complexo principal, o MHC de classe I na bainha radicular externa proximal e células da matriz. Porém, esse sistema é perdido durante o catágeno (fases de repouso) e telógeno (fase de queda do cabelo). Resultado: o cabelo cai!

Quando esse sistema de autodefesa não é reestabelecido no próximo ciclo capilar, ocorre o que chamamos de “perda do privilégio imunológico”, ou seja, perda dessa autodefesa contra células destrutivas (LT citotóxicos). O resultado é o desenvolvimento da alopecia areata (AA).

O bulbo capilar (raiz do pelo em crescimento) e as células que produzem pigmentos (melanócitos) são atacados por células inflamatórias (LT citotóxicos) levando à queda de cabelo (geralmente em placas) e também cabelos brancos.

Por se tratar de um tema muito complexo, achei mais adequado dividi-lo em duas partes, para que não ficasse cansativo. Aguardem o próximo post que será ainda mais interessante, pois vou responder as perguntas mais frequentes entre as pessoas que têm AA, como por exemplo: “Mas, por que isso está acontecendo comigo?”, ou mesmo “Por que fulano se curou e eu não?”. Fazendo uma analogia à teoria do queijo suíço é possível encontrar estas respostas. Aguardem!

 

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