Relato de mãe

“Uma péssima mãe”, por Mariana Parreiras

Por Redação Doutíssima 16/02/2015

Mãe do John e do Matthew, Mariana Parreiras, 35 anos,  é a nossa nova colunista para falar sobre a maternidade. Num texto leve e moderno, ela conta sobre a delícia e a dor de ser mãe. Formada em Comunicação e com uma carreira consolidada em grandes empresas americanas, Mariana colocou a vida profissional em segundo plano para cuidar da educação dos filhos.

 

Acompanhe as crônicas dessa mãe, dona de casa, esposa e mulher, no “Relato de Mãe“. Toda semana ela vai dividir com você experiências, frustrações, conquistas, medos e alegrias da arte que é a criação dos filhos. Você vai se identificar com muitas histórias e ter a certeza que “isso” não acontece só com você! 

 

Mariana Parreiras

Mariana Parreiras conta sobre o cotidiano de ser mãe de maneira leve e divertida.

 

Uma péssima mãe

 

Eu sou uma mãe ruim. Essa é a primeira frase que se passa na minha mente quando sou apresentada a ideia de escrever sobre a maternidade. Os meus filhos não tem atingido os marcos de desenvolvimento no tempo previsto, como estabelecem os livros pediatras. Eles as vezes podem ser indisciplinados e hà dias que sobrevivem de pizza. Outras vezes, eles são peculiares e parecem se comportarem de forma completamente insana. Me pergunto quem são essas criaturinhas que, felizmente ou infelizmente, têm o meu senso de humor.

 

Eu sou uma mãe ruim. Ou talvez eu seja apenas mais uma mãe, dura consigo mesma, comparando-se a um padrão de maternidade perfeita que está ficando cada vez mais impossível de alcançar a cada geração que se passa. Talvez eu também esteja ligeiramente exausta após apenas uma hora de sono, já que passei mais uma noite no pronto socorro.

 

O meu menino de um ano de idade, John, acordou com um grito na noite passada e logo em seguida se engasgou com a própria saliva, parando assim de respirar. Um truque que ele também fez quando chegou a este mundo e teve que ser levado para o intensivo neonatal, tal como seu irmão, Matthew, o fez. Estão é nesse tumulto em que me apresento. Afinal, vida de mãe é assim: nunca um momento tedioso.

 

Deixe-me começar por avisando que eu tenho sido interrompida quinze milhões de vezes enquanto escrevo esses primeiros parágrafos e o meu anjinho de três anos está determinado em fazer parte desta história. Me desculpe se ele aparecer por aqui.

 

Eu estou me escondendo no meu banheiro, na minha casa situada no sul da Califórnia. Estou sentada no chão do chuveiro, porque se eu me sentar no vaso sanitário para escrever, Matthew, o meu pequeno de três anos, verá meus pés por debaixo da porta e saberá que estou aqui.

 

Opa, tarde demais! A maçaneta da porta está se movendo lentamente, como uma cena assustadora de um filme de terror e me parece que a criatura do outro lado descobriu que a porta está de fato trancada e está de repente furioso com isso. Ele agora está batendo loucamente na porta com tanta força que está agitando a casa inteira, o que não é surpreendente, sendo que as casas aqui são basicamente feitas de papel. O que eu estava dizendo? Ah, sim, eu. Tentarei terminar de me apresentar antes que toda a casa desabe com a fúria infantil.

 

Eu sou brasileira, nascida em Belo Horizonte. Com vinte anos de idade mudei-me para Virginia, nos Estados Unidos. Eu prefiro dizer que fiz isso porque eu queria terminar a minha graduação em comunicação (o que eu fiz), uma vez que essa informaçáo me faz parecer mais inteligente, mas a realidade é que me mudei para um outro país por causa de um rapaz.

 

Depois de me formar, me mudei para Washington, primeiro passando por Atlanta e estagiando na CNN e Cartoon Network. Em Washington, descobri que trabalhar em um escritório não me era compatível. Tornei-me uma personal trainer, começando um negócio de sucesso e abraçando o vício pelo trabalho da pior maneira possível, vivendo uma vida desequilibrada onde minhas únicas prioridades pareciam ser ganhar dinheiro e ganhar mais dinheiro. Eu gostaria de dizer que a mudança para Washington foi com a intenção de avançar na minha carreira, mas havia lá também um outro rapaz, com quem me casei e divorciei alguns anos depois.

 

Quando eu finalmente decidi que jamais voltaria a me casar e nunca teria filhos (eu costumava dizer que as pessoas que tinham crianças eram malucas ou não tinham camisinha) e muito menos largar tudo o que tinha lutado tanto para construir, eu conheci mais um outro rapaz, um militar, desta vez, e me mudei para a Califórnia, grávida.

 

Vamos fazer uma pausa para uma banana. Uma banana acaba de entrar por debaixo da porta do banheiro. Senhoras e senhores, o garoto que nunca come quer uma banana. Tenho certeza de que o Matt só quer me enganar, para que eu descasque a banana e tenha que abrir a porta. Tenho certeza que ele vai dar uma mordida na fruta, irá jogá-la no chão e sairá correndo, gargalhando, porque deixar a mamãe irritada é um passatempo divertidíssmo.

 

Sabe de uma coisa? Vou comer essa banana. Só agora me dei conta de que eu não jantei, nem almocei.

 

Ter filhos foi uma decisão que tomei quando encontrei meu marido deitado em posição de feto, numa tristeza profunda, depois que meu enteado, então um pequeno garoto, tinha retornado para a casa de sua mãe, em outro Estado. Eu precisava dar a este homem uma família, mesmo que isso significasse passar por gravidez, um processo que achei absolutamente miserável.

 

Eu tinha essa imatura visão de que depois de ter um casal de filhos que eu voltaria imediatamente a ser magra, seria uma mãe moderna e calma, trabalhando muito e ganhando bem. Acho que eu também acreditava em Papai Noel.

 

Três anos e dois filhos depois, eu ainda estou lutando para voltar ao trabalho, eu ainda não caibo nas minhas roupas. Meu filho pediu ao Papai Noel uma mesa para trens imensa, que está tomando toda a minha sala de estar (agora uma sala de brinquedos, vamos falar a verdade), então o Papai Noel podia ir catar coquinho.

 

Atualmente sou uma dona de casa. Eu ainda me assusto com o título e luto contra o estigma. Eu não estou pronta para deixar outra pessoa criar meus filhos, então eu fico com eles. Para alguém que viveu a vida de forma acelerada e centrada em si, eu surpreendo meus amigos, família, e, especialmente, a mim. Pela primeira vez as minhas grandes decisões estão por volta de rapazes que realmente importam.

 

Eu sou uma mãe ruim, no entanto. Não vamos esquecer disso. Pelo menos é assim que uma mulher se sente quando de repente ela é confrontada com a realidade de que ela não tem controle total sobre algo. Crianças não são projetos. Elas vêm com suas próprias personalidades e têm (muitas) próprias opiniões.

 

Dito tudo isso, eu espero que eu possa compartilhar com vocês a dor e a aventura de ser mãe, não porque eu saiba mais ou menos sobre o assunto, mas para que você sinta que não está sozinha.

 

Por agora é hora de sair deste banheiro. Outra banana apareceu sorrateira por debaixo da porta. Talvez o Matthew realmente queira uma banana.

 

 

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Mariana Parreiras é a nossa nova colunista do “Relato de Mãe”. Acompanhe!

 

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