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Antes de ser mãe, por Mariana Parreiras

Por Redação Doutíssima 11/05/2015

Ao chegar no supermercado hoje, enquanto meus filhos sentavam-se calmamente em um carrinho de compras em formato de uma nave espacial com dois assentos e dois volantes, um evento raro, uma vez que Matt normalmente não é um fã de ficar assentado, uma mãe saía pela porta arrastando uma menina pelo braço e pelo chão enquanto a pequena gritava de forma ensurdecedora.

 

 
Antes de ter filhos, tal visão me faria questionar que tipo de mãe horrível arrastaria uma pobre criança de tal forma. Depois de ter dois meninos, no entanto, eu olhei para aquela mulher com uma compaixão recém-descoberta. Me perguntei o que poderia aquela criança horrível ter feito àquela pobre mulher para que ela chegasse ao ponto de ter que arrastá-la do supermercado pelo chão.

 

 
Antes de ser mãe eu tinha várias opiniões e equívocos que aos poucos foram mudando a minha forma de ver a maternidade. Se você está planejando ter filhos, aqui vão alguns pensamentos que provavelmente passam pela sua cabeça (porque eu já fui como você) e o que a realidade me ensinou.

 

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A maternidade é a melhor forma de fazer você entender o comportamento de outras mães. Foto: Shutterstock.

 

 

Equívoco 1

Como os pais permitem essa pirraça?

 

Você vê uma criança se comportando terrivelmente e se pergunta, “será que essa mãe não consegue controlar seu filho?” Não, ela não consegue. Confie em mim. E não é por falta de tentar. Mesmo a criança mais doce, eventualmente será arrastada para fora de uma loja pelo braço. Muitas crianças usam uma estratégia de pirraça que o meu menino, Matt, aperfeiçoou. Se chama: a criança sem ossos.

 

 
Basicamente, o garoto gritando quer algo que lhe é negado e porque ele está em público e ele sabe que você não vai levantar a sua voz ou dar uma palmada no bumbum na frente dos outros. Ele, de repente, finge que perde todos os seus ossos e cai em colapso no chão. Tentar colocá-lo em uma posição de pé não funcionará.

 

Lembre-se, ele perdeu seus ossos. Transportando-o para fora da loja será interessante porque os ossos de repente poderão voltar à vida e ele pode chutá-la e agarrar seu cabelo. Você vai morder o lábio para não perder o controle porque você está em público e é supostamente uma mãe calma. Você vai colocar ele de volta no chão, e tentar usar a razão com ele, mas a criança sem ossos (ele está desossado novamente e deitado no chão, chorando) não fala a sua língua.

 

Neste momento todas as pessoas da loja vão prestar atenção na cena. As com crianças estão olhando para você com compaixão. As pessoas sem filhos estão se perguntando por que você não pode controlar o seu. Você vai arrastar seu filho pelo braço, pelo chão, enquanto ele grita. Ele, de repente, pesa 300 quilos porque o processo de desossamento o deixa pesado. Isto é especialmente divertido se você também está carregando um bebê e algumas compras no outro braço.

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A sala da nossa colunista antes de ser mãe. Foto: Arquivo pessoal.

Equívoco 2

Minha casa nunca ficará neste estado!

Quando solteira e sem filhos, eu visitei várias amigas que tinham crianças e ficava chocada em como a sala de visitas das mesmas mais parecia uma sala de brinquedos. Eu prometi a mim mesma que meus filhos só teria um cantinho da casa para as suas bagunças.

 

 

Hoje eu quase não tenho um canto para mim mesma. Os brinquedos aparecem e acredito que se multiplicam por si mesmos quando eu não estou olhando. A grande maioria dos mesmos precisam de bateria para operar alguma música irritante que misteriosamente começa a tocar do nada quando estou sozinha em casa.
Além disso, diga adeus a móveis e tapetes de qualidade. Espere até que suas crianças cheguem aos trinta anos de idade para comprar móveis novos para a sua casa.

 

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O mesmo ambiente após a chegada do Matt e do John. Foto: Arquivo pessoal.

 

Equívoco 3

Você observa uma criança difícil e pensa: “meus filhos nunca irão se comportar como este”
Este é o mantra que cada pessoa pensa, diz e repete a si mesma alguns meses antes de dar à luz ao seu próprio diabo da tasmânia.

 

 

Quando conheci meu marido, seu filho de outro casamento tinha cinco anos. Me lembro de estar nevando um dia e eu não estar aguentando mais o menino dentro de casa. Achei um parque aquático coberto e pensei que depois de oito horas pulando na piscina e com as mãos enrugadas de tanto brincar na água, ele fosse ficar um pouco cansado.

 

 
Ao chegarmos em casa, eu literalmente deitei no chão do banheiro exausta, quando vi dois pezinhos aparecerem na minha visão. Ele começou a pular, chacoalhando o banheiro todo, pedindo para eu ir brincar com ele. Eu me levantei e tomei duas pílulas anticoncepcionais seguidas, gritando ao meu marido, que era meu namorado na época, “se eu tiver uma criança um dia, o que nunca vai acontecer, eu não vou deixar ele ser assim!”
Bom, vocês conhecem o Matt.

 

Equívoco 4

Você vê uma mãe despenteada e pensa: “Eu nunca vou ficar desarrumada assim”
Eu acreditava nisso também. Eu gostaria de encontrar tempo para fazer as minhas unhas, ir a ginástica com a regularidade que o fazia antes, secar o meu cabelo, cuidar das sobrancelhas.

 

 
Hoje em dia eu fico feliz se os meus sapatos combinam um com o outro. Eu não estou brincando. Eu deixei a casa um dia usando um sapato de cada par diferente.

 

Equívoco 5

Ter filhos não afetará meu casamento.
Uma amiga uma vez me explicou por que, alguns meses após o parto, ela teve o desejo de querer bater no seu marido sobre a cabeça com uma bomba de tirar leite: nos primeiros meses da vida de um bebê, não importa o quanto todos ajudam, cada pessoa se sente abandonada, cansada e como a única a fazer tudo.

 

 
A verdade é que com um recém-nascido todos estão fazendo mais do que estão acostumados, e estão todos cansados demais para ser agradáveis.
À medida que as crianças crescem, quando a família se reúne ordinariamente no final do dia, estão todos gastos, e a súbita mudança de marchas para a dinâmica familiar, tarefas domésticas, e a hora usual da noite onde os monstros aparecem (você sabia que muitas crianças magicamente se transformam às cinco da tarde em pequenos ditadores bipolares?) não é o cenário mais romanticamente atraente.

 

Equívoco 6

Eu não vou deixar meus filhos mudar a minha vida. Vou continuar com a minha vida social e minhas muitas viagens.
Ah, sim, claro. Porque é tão fácil entregar um bebê para outra pessoa cuidar. Também é tão barato e tão disponível, não é? Aqui na Califórnia, babás são em média quinze dólares por hora para duas crianças.

 

 

Se saímos para jantar, nós escolhemos um lugar perto para que não desperdicemos tempo de condução, então temos pressa no consumo da refeição e bebidas, e não há tempo para a sobremesa, porque aí se vão mais quinze dólares. Além disso, embora nós tentemos viajar com as crianças quando podemos, não é tão fácil como parece em seus sonhos.

 

 
Nós viajamos de Los Angeles para Belo Horizonte quando o Matthew tinha dois anos e o John oito meses de idade. Primeiramente é necessário trazer os assentos de carro e hoje em dia eles são do tamanho de um Volkswagen. Tente colocar isso no avião. Em seguida, tente alimentar a todos e trocar suas fraldas.

 

 
Viajar com crianças pequenas é como lidar com mendigos bêbados porque eles ficam sujos, beligerantes e mudam de humor sem o menor aviso. Posso dizer que nenhum de nós quatro (e talvez o avião inteiro) dormiu durante o voo de 12 horas.

 

 

Equívoco 7

 

Meus filhos vão comer refeições equilibradas e não assistirão muita televisão.
A-ham …
A verdade é que, apesar dos meus equívocos me forçarem a um choque à realidade, de todas as aventuras em que fiz parte, a maternidade é a que mais me faz crescer espiritualmente e acumular histórias divertidas a contar.

 

 
Antes de tê-los eu tinha mais sossego, mas também um vazio inexplicável que eu tentava preencher e não conseguia, fosse com homens, com trabalho, viagens, religião, amizades, livros. Nada preenchia aquele pontinho de solidão até os meninos aparecerem.

 

 
Eu acredito que ter filhos é uma grande parte de uma vida plenamente vivida, mesmo que às vezes seja necessário tomá-los pelo braço e arrastá-los pelo chão de um supermercado.

 

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Mariana Parreiras e os pequenos John e Matt. Foto: Arquivo pessoal.

 

Mãe do John e do Matthew, Mariana Parreiras, 35 anos, escreve semanalmente para a coluna “Relato de Mãe”. Num texto leve e moderno, ela conta sobre a delícia e a dor de ser mãe. Formada em comunicação e com uma carreira consolidada em grandes empresas americanas, Mariana colocou a vida profissional em segundo plano para cuidar da educação dos filhos. Acompanhe!

 

 

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