Produtos com embalagens que indicam sem glúten e sem lactose são cada vez mais procurados pelos consumidores. Estima-se que o mercado desse segmento tenha crescido entre 30% e 40% só em 2015. Uma das razões são os testes de intolerância alimentar que, embora caros, estão cada vez mais populares no Brasil.
Segundo um artigo publicado na revista científica Deutsches Ärzteblatt International, da Associação Médica Alemã, mais de 20% da população de países industrializados é intolerante a algum alimento. Dentre os principais sintomas estão flatulência, cólica e diarreia. Mas será que os testes realmente confirmam o diagnóstico?
Ineficácia no diagnóstico de intolerância alimentar
Diante da procura, diferentes empresas passaram a disponibilizar exames que prometem detectar intolerâncias alimentares. O principal é feito por meio de análise da concentração de imunoglobulinas G específicas (IgG) no sangue.
Teoricamente, ele é capaz de identificar a sensibilidade do paciente a 221 diferentes tipos de comida. Para a realização do exame, o sangue é testado contra diversos produtos e aditivos alimentares, o que resulta em uma lista que indica se a pessoa tem intolerância baixa, média ou elevada a esses alimentos.
A eficácia do teste, porém, está sendo questionada por nutricionistas, endocrinologistas e infectologistas. No dia 5 de abril, por meio de nota oficial, a Sociedade de Gastroenterologia e Nutrição de Minas Gerais e a Associação Brasileira de Alergia e Imunopatologia (Regional Minas Gerais) se posicionaram contra o exame que tem por objetivo diagnosticar intolerância alimentar mediada por imunoglobulina G (IgG).
De acordo com as duas sociedades, ainda não há dados suficientes para comprovar a existência das intolerâncias apontadas. Seguindo a lógica, portanto, não haveria nenhum valor científico nos testes oferecidos por diversos laboratórios.
Para esclarecimento, a nota assinada por Humberto Galizzi e Roberto Souza Lima, presidentes das referidas sociedades, aponta que “a literatura médica indica que a presença de IgG específica a um determinado alimento significa, tão e somente, que o indivíduo teve exposição prévia àquele alimento, sem qualquer significado de doença”.
Preocupações médicas: alergia x intolerância
Além das sociedades mineiras, a European Academy of Allergy and Clinical Immunology e a American Academy of Allergy, Asthma and Immunology se posicionaram contra o exame. Aqui no Brasil, ele também não é regulamentado pela Sociedade Brasileira de Alergia e Imunologia (ASBAI).
O principal receio da comunidade médica em relação ao teste de intolerância por meio de análise das imunoglobulinas G é que ele possui repercussão prejudicial aos pacientes. Especialmente por gerar ônus emocional e financeiro.
O motivo é que os os testes são caros – custam entre R$ 600 e R$ 1.200 – e não cobertos por planos de saúde. Além disso, geram angústia diante da falsa crença de que o paciente é portador de uma doença crônica, com implicação de restrições alimentares para o resto da vida.
Mas qual é a opção para os pacientes que desejam confirmar se possuem alguma intolerância a determinados tipos de alimentos? Inicialmente, é necessário esclarecer que há uma diferença entre intolerância alimentar e alergia alimentar.
A alergia alimentar atinge cerca de 1% da população adulta e é causada por uma reação do sistema imunitário. Ela ocorre quando o organismo não reconhece algo que a pessoa come e reage contra o alimento, podendo gerar consequências que trazem riscos à vida, como choque anafilático.
Tal problema pode ser diagnosticado por um teste chamado RAST – aprovado pela ASBAI -, que detecta Hipersensibilidade Mediada pela Imunoglobulina E (IgE). Já a intolerância alimentar é um distúrbio metabólico digestivo, mas não traz risco à vida.
Diferente do caso de alergia alimentar, ainda não há um teste científico com eficácia 100% comprovada que aponte intolerâncias. Há exames, a exemplo o teste de tolerância oral à lactose e o diagnóstico histopatológico da doença celíaca, que podem ajudar na identificação do problema, mas nenhum deles é feito por meio de uma simples coleta de sangue.
Por isso, o mais recomendado para manter a sua saúde em dia é ter acompanhamento com um nutricionista. Consulte o profissional diante de qualquer suspeita de intolerância, através de sintomas como dores de cabeça, inchaço, náusea e diarreia após o consumo de determinados alimentos.
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