No último sábado, dia 21 de maio, o episódio de violência contra a apresentadora Ana Hickmann chocou o país. Em Belo Horizonte, ela sofreu uma tentativa de homicídio à mão armada por parte de um homem que se dizia seu fã.
O caso desperta o debate sobre o stalking, prática que ainda não conta com uma tradução apropriada para o português e que pode ser ligada a termos como caçada, espreita ou perseguição. Mas quando a obsessão vira doença e passa a exigir cuidados?
O comportamento é mais comum do que se costuma imaginar, especialmente com o crescente uso da internet. Além disso, não é só no universo das celebridades que a atração doentia pode ter desdobramentos traumáticos.
Caso Ana Hickmann e a prática de cyberstalking
Rodrigo Augusto de Pádua, que acabou morto durante o ataque à Ana Hickmann, mantinha uma conta no Instagram com posts dedicados à apresentadora, que ele alegava amar incondicionalmente. Para sua própria família, porém, a tentativa de assassinato foi um choque.
Em entrevista, pessoas próximas a ele disseram que Pádua era um rapaz tranquilo, carinhoso e sem anomalias comportamentais. A descrição dá conta de apontar a complexidade envolvida em práticas obsessivas, nem sempre fáceis de identificar por parte de amigos e familiares.
O fã de Ana era, na verdade, um stalker. De acordo com um estudo divulgado pelo Centers for Disease Control & Prevention, dos Estados Unidos, cerca de 7,5 milhões de pessoas são vítimas de stalking no país em apenas um ano. Do total, 61% são do sexo feminino e já foram perseguidas por um parceiro íntimo atual ou anterior.
Segundo o professor de psicologia Breno Rosostolato explica em artigo científico sobre o assunto, hoje a violência é alarmante e não se restringe ao patrimônio ou à integridade da vítima, mas principalmente aos alicerces psicológicos e emocionais, cujo comprometimento pode ser irreparável.
Muitas vezes, o fato de o stalker se sentir frustrado com seu objeto de obsessão abre margem para a violência. Por isso, é importante saber detectar alguns sinais da perseguição para reagir. Segundo a Associação Portuguesa de Apoio à Vítima de Stalking (APAV), enviar cartas, e-mails e bilhetes ou fazer telefonemas recorrentes são alguns indícios.
Também é comum que o indivíduo tente aproximações físicas e passe a frequentar os mesmos locais que a sua vítima. Vale lembrar ainda que nem sempre são desconhecidos que praticam o stalking: o comportamento é comum entre ex-namorados que não superaram o término e insistem em manter o controle da vida do outro.
Como reagir à violência virtual
Quando ocorre na internet, a prática recebe o nome de cyberstalking, o que reforça a necessidade de atenção com o comportamento virtual e o tipo de informação compartilhada. Afinal, o stalker costuma recolher dados sobre a vítima a partir das redes sociais – que permitem que ele se sinta próximo.
Para a vítima, os desdobramentos podem ser severos. Segundo a APAV, a tentativa de assassinato, como ocorreu com Ana Hickmann, ocorre em menos de 2% dos casos de assédio contínuo. Ainda assim, podem haver agravantes emocionais e psicológicos.
Sentimentos de frustração, culpa, vergonha, insegurança e irritabilidade são comuns para quem foi perseguido dessa maneira. O quadro emocional pode acarretar em problemas gastrointestinais, perda de interesse em atividades corriqueiras, dificuldades no ato sexual, distúrbios do sono, fobias, ansiedade, isolamento, ataques de pânico e depressão.
De acordo com indicações da APAV, a melhor alternativa é lidar ativamente com a situação: solicitar a ajuda de familiares, de amigos ou mesmo das autoridades policiais e evitar qualquer contato com o autor do assédio. Se você conhece alguém que sofreu com o problema, também é importante lembrar a pessoa de que ela não é culpada.
E você, o que achou do caso de Ana Hickmann? Deixe a sua opinião nos comentários.