Doenças

Mulheres com depressão têm mais riscos de desenvolver diabetes e câncer, diz estudo

Por Francine Costanti 23/08/2019

Um estudo realizado pela Universidade de Queensland, na Austrália, mostrou que mulheres com depressão diagnosticada têm 2,4 vezes mais chances de sofrerem com doenças crônicas, como diabetes e câncer. A pesquisa acompanhou mulheres de meia idade por 20 anos.

Para entender melhor esses resultados, conversamos com o Dr. Henrique Bottura, psiquiatra da clínica Psiquiatria Paulista e do Hospital das Clínicas de São Paulo, que comenta a pesquisa e fala sobre depressão. 

Depressão

Indivíduos deprimidos tendem a ter hábitos menos saudáveis e deixam de lado cuidados clínicos que podem evitar o câncer. Foto: iStock

Fortíssima: Por que mulheres com depressão estão mais propícias a desenvolver diabetes e câncer?

Dr. Henrique Bottura: Esse estudo australiano acompanhou mulheres por 20 anos avaliando entre outras coisas o seu estado de humor a cada 3 anos. O que eles identificaram foi que o padrão de variação de humor, associado a depressão, permitia supor um aumento de chances de a mulher vir a apresentar condições crônicas adiante na vida. 

O estudo não entra nas questões de causa e efeito desta relação, no entanto, depressão e doenças inflamatórias crônicas parecem estar muito correlacionadas.

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Como as mulheres com depressão podem evitar um quadro de diabetes e câncer?

O fato de ter diagnosticado depressão não significa que se tem mais risco de apresentar câncer ou diabetes. No entanto, indivíduos deprimidos tendem a se cuidar menos e ter hábitos menos saudáveis, o que poderia favorecer o não controle correto do diabetes e o deixar de lado cuidados clínicos que poderiam evitar o câncer.

Atividades cotidianas podem ajudar a evitar a depressão?

Não existe uma causa específica para o surgimento da depressão. Ela é considerada multifatorial, o que significa que não depende de um fator exclusivo. Sabe-se que fatores genéticos determinam de 1/3 a 2/3 das manifestações depressivas; no entanto, diversos outros fatores no curso da vida podem levar ao surgimento do quadro.

Existem diversos tipos de quadros depressivos, alguns de origem primordialmente biológica e outros que se manifestam em situações de difícil manejo na vida, como uma perda, uma separação. Assim, é necessário distinguir essas condições quando se pensa em prevenção.

Estilo de vida que contemple rotinas que englobam atividade física, boa alimentação, boa qualidade de relações interpessoais, socialização, lazer e sono de qualidade tendem a proteger a pessoa da doença. Porém, ainda faltam mais evidências do que poderia prevenir quadros depressivos.

Quais são os primeiros sintomas da depressão?

Os primeiros sintomas da depressão variam conforme o indivíduo e o tipo de depressão. Os principais sintomas que determinam uma síndrome depressiva são comprometimento do humor, podendo apresentar sintomas como tristeza e angústia, e comprometimento da capacidade de sentir prazer nas coisas que antes promoviam isso. Junto a esses fatores pode haver comprometimento no sono, alteração no apetite, diminuição na libido, prejuízos na capacidade de tomar decisões, na atenção, na memória e, também, pensamentos de morte.

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Como é o tratamento da depressão em conjunto com uma doença crônica?

Quando a depressão cursa com uma doença crônica, temos uma sinergia negativa. Isso porque quadros crônicos que cursam com dores e outras limitações tendem a dificultar a resposta aos medicamentos e, com isso, a sintomatologia depressiva tende a dificultar que o indivíduo faça o tratamento correto da condição crônica. 

No entanto, o tratamento dos quadros depressivos em doenças crônica não é muito diferente – só é preciso sempre considerar que na doença crônica o indivíduo faz uso de outras medicações. 

Portanto, deve-se ter atenção quanto aos medicamentos escolhidos para evitar interações que possam trazer novos problemas para o paciente. Além disso, medidas não farmacológicas como incentivo à atividade física e à alimentação saudável são importantes tanto para os quadros depressivos quanto para os quadros crônicos, devendo assim sempre serem estimulados pelo profissional médico.