“Sorria, você está sendo filmado”. Pare para pensar em quantas vezes no dia você lê essa frase? Se você mora numa grande capital com certeza você lê e sorri para muitas câmeras muitas vezes ao longo do dia. Já até nos acostumamos com elas. As vezes nem as percebemos. Elas estão em todos os lugares. Dominando o mundo!
Para quê vigiar?
Brincadeiras a parte, podemos pensar em vários fatores que fazem com que tantas câmeras participem de nossa vida. Precisamos estar seguros. E essa segurança hoje está relacionada a mecanismos de vigilância que nos dão uma sensação de segurança e proteção. Uma placa no muro de um colégio dizia: “Olhe seu filho durante o tempo que ele estiver na escola”. “Aqui ele estará seguro e você pode observá-lo o tempo todo”.
O que acontece na sociedade atual que precisamos ser vigiados e o tempo todo controlados por tantas câmeras? Que segurança que elas nos trazem que faz com que precisemos tanto delas? Que mecanismo é esse que nos cerca e que nem percebemos mais, porque já agimos em prol de uma câmera que está sempre ali, ligada ou não, não importa. Sua função é a mesma.
A vigilância através das câmeras de segurança, que estão presentes em todos os lugares, nos atravessa de uma forma que nem percebemos e agimos em prol de sua presença e muitas das vezes só nos sentimos seguros quando elas estão por perto. Só matriculamos nosso filho na escola que oferece a possibilidade assisti-lo pela câmera durante a aula. Só moramos no prédio que tem um sistema completo de câmeras, alarmes e segurança. Assim, cada vez mais, esse sistema de vigilância constante faz parte da nossa vida, nos trazendo tamanha sensação de segurança, que concordamos e até desejamos sua presença.
O que fazer então?
Michael Foucault falava de um poder que visava disciplinar, vigiar, controlar. Poder que perpassa hoje muitos espaços da sociedade e cumpre sua função de vigilância e controle, pois não sabemos mais estar nos lugares que não nos oferecem esse tipo de “segurança”. Aceitamos todo esse mecanismo de controle sem ao menos perceber o quanto perdemos de nossa privacidade e o quanto deixamos de confiar nas outras pessoas, pois há sempre uma câmera filmando, e hoje é ela que nos “garante” que nosso filho vai ser bem cuidado na escola e nossa casa bem protegida de qualquer suposto perigo externo. O quanto isso não atravessa nossos relacionamentos e de certa forma nos esvazia de sentido e confiança no outro?
Não estou dizendo que esse mecanismo não é útil ou que não tem que ser utilizado. Isso é debate para outro momento. Somente estou pensando em o quanto estamos deixando ele nos afetar, nos isolando e nos afastando, cada vez mais, de um outro externo possivelmente “perigoso”. Contribuindo, com isso, de maneira eficaz, para um possível isolamento em um sociedade cada vez mais vigiada e “segura”, porém doente.