Qual o lugar ocupado pela mulher em casos de violência doméstica?
– Vítimas?
– Incapazes de se proteger e romper a relação?
– Existem possibilidades de enfrentamento?
O que ocorre é que as mulheres podem ter menos capacidade de se proteger, no sentido de estar com a auto estima baixa e menos seguras de seu valor e limites pessoais. Muitas não consideram a gravidade da agressão ou repetem padrões familiares aprendidos. Podem então ficar propensas a aceitar a vitimização / papel de vítima. Porém, não entendemos o fenômeno da violência doméstica a partir de um ponto de vista dicotômico e polarizado (vítima-agressor). Pois, se colocarmos a mulher no lugar de vítima tiramos dela possíveis possibilidades de enfrentamento da situação violenta.
O que faz com que a mulher fique na relação?
Vários fatores fazem com que a mulher permaneça numa relação violenta, podemos listar alguns:
– Certo domínio do homem no território privado;
– Mito da dependência econômica;
– Dilapidação da auto estima;
– Sentimentos contraditórios e ambíguos. Ambivalência em relação ao agressor. Mistura de violência, afeto, arrependimento, dentre outros. Clima que favorece a tentativa de resolução do conflito e permanência na relação;
– Culpabilização pelo fracasso da relação, a mulher é vista como responsável pelo sucesso do casamento e da educação dos filhos. Pela produção de filhos bem ajustados e adaptados;
– Esperança de mudança do companheiro;
– Esperança de ajudar o outro a superar o “problema” da agressividade;
– Acreditar que é uma fase ruim e que vai passar, que o marido ta nervoso por isso ou aquilo;
– Vergonha da situação, problemas com alcoolismo ou drogas (culpar o álcool), crenças religiosas e/ou familiares em relação ao casamento, que este tem que ser um só, que não pode haver divórcio, etc;
– Comumente culpada por ser agredida e pelo fracasso do casamento e também pelo não rompimento da relação;
– É perigoso deixar um agressor, pois o último ato da VD é a morte da agredida (mais de 70% das mortes em casos de VD ocorrem depois que as vítimas terminam a relação).
O que fazer? Como sair? Com agir? Como enfrentar?
Pensando em possibilidades de enfrentamento pretendemos acreditar que é possível encontrar saídas. E com elas, possibilidades de construção de estratégias de ruptura quebrando o silêncio. Denunciar, quebrar o silêncio é o primeiro passo, pois a agressão só tem sucesso onde há o silêncio. Porém, isso precisa ser pensado, e ser feito com cautela e todo cuidado possível. Existe certa dificuldade da mulher sair sozinha da situação, individualmente é mais difícil. Pode ser um caminho buscar ajuda nas redes de relacionamentos, na família, amigos, igreja, sites na internet, Ongs, psicoterapias… Assim como é preciso o auxílio de políticas públicas (lei como exemplo). Apesar de existir carência de dados oficiais globais sobre a VD que dificulta a formulação dessas políticas.
Dentre outras possibilidades, podemos citar:
– Não passividade da mulher, possibilidade de reagir;
– Trabalhar a auto estima também como estratégia de enfrentamento;
– Não responsabilizar a mulher pela transformação do agressor e sucesso do casamento e etc. É excessivo colocar a mulher no lugar de quem pode transformar o homem. Não que ele seja imutável, mas colocar essa responsabilidade para a mulher agredida é excessivo. Importante lembrar o que Sartre uma vez disse:
“Não importa o que fizeram de mim, o que importa é o que eu faço com o que fizeram de mim.”
Jean-Paul Sartre.
Dessa forma, quem sabe encontramos esperança para enfrentar essa difícil questão.