Saúde Mental

O homem constrói ou é construído pela sociedade?

Por Rafaela Monteiro 21/10/2013

sociedade

Para alguns autores da psicologia social, é necessário para compreendermos o homem estudar como ele se constitui em seu contexto sociocultural, pois o homem é um animal cultural.

O homem constrói ou é construído pela sociedade?

A sociedade é um rede de inter-relações individuais em constante mobilidade. O indivíduo histórico-social, que é também um ser biológico, se constitui através da rede de inter-relações sociais. Cada indivíduo pode ser considerado como “um nó em uma extensa rede de inter-relações em movimento”.  Sendo um ser histórico-cultural que é constituído pelas inter-relações sociais.

 

Cultura e sociedade

A cultura está nas ações e na prática cotidiana transmitida através da história de um grupo. Pensamos a cultura como um sistema simbólico, onde qualquer percepção e ação seriam mediadas pelo simbólico. Considerando que o tipo de sistema de “eu” é relacionado a formas de cognição: percepção, afeto e motivação, afetando a atividade cotidiana dos indivíduos.

As emoções também são, em parte, constituídas pela cultura. O homem então, apesar de ser considerado produto de sua cultura, é também ativo, intencional, criativo e está sempre em transformação.

Acreditamos que a construção do psiquismo humano resulta da relação dialética entre objetividade e subjetividade, e assim constatamos igualmente a impossibilidade de estudar o homem como um ser isolado. Propomos um rompimento com a perspectiva dualista e dicotômica existente entre indivíduo e sociedade, não considerando que indivíduo e contexto social se influenciam mutuamente, mas afirmando a construção de um espaço de interseção onde um implica o outro e vice versa.

 

Um ser social

Consideramos que não há possibilidade do humano sem ser no social, pois existe uma natureza histórico-social pertinente ao homem, e não se pode conhecer qualquer comportamento humano isolando-o como se existisse por si próprio. Essa ideia se relaciona a questão do homem ser sujeito e transformador da história, de sua vida e também da sociedade.

Segundo afirmam autores da psicologia social, vivemos cada vez mais um individualismo exacerbado e encontramos dificuldades perante qualquer tentativa socialização.  O pensamento liberal ao definir o ser humano como “indivíduo”, centraliza tudo no eu, assim, perde-se a dimensão relacional.

O homem está cada vez mais isolado em seu mundo, afastado de outros humanos, vivendo sozinho e tendo que dar conta de suas questões de forma individual. Porém, imersos em uma sociedade e sendo um ser social que constrói seu mundo ao mesmo tempo em que é construído por ele, encontramos um ponto de saúde quando os indivíduos se permitem repartir suas dores e, através dessas relações, construírem possibilidades mútuas de ajuda e superação.

 

Produto e produtor

O sujeito se constitui como produto e como produtor da sua história e da história da sociedade em que vive. Considerado como um ser social está imerso em uma sociedade e permeado por seus valores e suas formas de lidar com a dor, com o sofrimento e com a angústia.

Nos deparamos com a impossibilidade de ver o ser humano como ser isolado, pois o homem, mesmo quando sozinho, é um ser social, pois seus hábitos, seu jeito de expressar emoções e o uso que faz dos instrumentos que recebeu da sociedade tem a ver com as relações que estabeleceu dentro dessa sociedade que o constituiu. Na sociedade ocidental atual, extremamente individualista, os indivíduos podem até se expressar como seres isolados, mas isso também é uma construção dessa mesma sociedade.

Homens e mulheres são, nesse sentido, a síntese que realizam das relações sociais que entabulam em suas vidas, e suas singularidades correspondem às condições e contingências sociais a que foram submetidos e ao mesmo tempo constituíram.

 

(Trans)formação

O homem, ao longo da história, ao transformar a natureza se transformava também. Esse homem age não de forma isolada, mas é um sujeito que é ação de um grupo, não somente um “eu”, mas um “nós”. É dentro desse “nós” que o ser humano vive, sente, se relaciona, é nesse contexto social que sua subjetividade é produzida e suas dores e perdas se dão. Ele se define por relações sociais que podem ser reprodutoras ou transformadoras, sempre agindo um sobre o outro.

O indivíduo é determinado e determinante, passivo e ativo. Ele se insere em um grupo social através da linguagem, que é um produto histórico e traz valores e significados presentes nesse grupo social, que é condição para o desenvolvimento de seu pensamento. Sendo também condição para a comunicação e desenvolvimento de suas relações sociais e de sua individualidade. Assim, na relação entre os indivíduos, estes se transformam e também transformam seu próprio grupo.