Por que sonhamos? Nossos cérebros podem guardar falsas memórias com base nos nossos sonhos? Como é que até mesmo as coisas mais improváveis parecem reais durante o sono? Para os neurocientistas, os sonhos podem nos ajudar a digerir melhor as nossas emoções.
No final dos anos 1950, o pesquisador francês Michel Jouvet identificou um determinado estado em que ele chamou de sono REM. “Esse estado é como um despertar, por causa da ativação do córtex, que simula um despertar, porém seria um despertar mais paradoxal na mesma medida em que a excitação aumenta”, afirma ele no livro De la science et des rêves, mémoires d’un onirologue* (Odile Jacob, 2013). O cérebro então acorda, porém a pessoas permanece adormecido, a situação tem um efeito paradoxal.
A explicação deste mecanismo curioso é fornecida pelos estudos de imagem cerebral que permitem observar o cérebro em ação. Enquanto algumas regiões do cérebro estão acordadas, outras áreas permanecem profundamente adormecidas. As partes que estão acordadas, estimulam a produção de imagens pelo cérebro, o que explica a natureza muito visual dos sonhos. No entanto, as partes adormecidas que são responsáveis pela colocação dos objetos em seu contexto, o que pode gerar as aberrações muito comuns nos sonhos.
Digerindo as emoções
Às vezes não as pessoas não se lembram dos próprios sonhos e isso acontece, principalmente, se você acordar fora da fase do sono que gera os sonhos. Porém 95% das pessoas acorda durante o sono REM, que é a fase dos sonhos, então se lembram com o que estavam sonhando.
Segundo Tore Nielsen, diretor do Laboratório do Sonho e do Pesadelo no Hopital do Sagrado Coração de Montreal, pesadelos marcantes e repetidos podem significar que o sistema do sono não está funcionando tão bem quanto. “Os sonhos podem ser uma forma de atenuar as emoções intensas geradas pelo estresse prolongado. Pessoas que tem esses sonhos repetidos têm menores índices de bem-estar, mas os índices melhoram quando os sonhos recorrentes param”, afirma.
Mulheres lembram mais dos sonhos
O sistema emocional de ambos os sexos é muito diferente e o sonho é um dos muitos processos emocionais. “Uma possibilidade para explicar essa questão é que as mulheres podem ter de enfrentar experiências mais estressantes do que os homens”, explica Nielsen.
Parece também que o sono serve para consolidar a memória. Trabalhar antes de adormecer não é, portanto, uma má ideia. Mas é realmente através dos sonhos? A fase do sono profundo parece ser mais importante do que a memória do sonho. “O sono REM, no entanto, parece ser particularmente importante para a memória emocional”, diz Susanne Diekelmann, psicólogo e especialista em neurociência cognitiva da Universidade de Tübingen, na Alemanha. Quanto ao risco de seus sonhos serem confundidos com memórias reais , o pesquisador afirma que a parte frontal do cérebro é capaz de fazer a diferenciação, exceto quando há falta de sono. “Nossa capacidade de decidir se uma memória é verdadeira ou falsa é, então, enfraquecido, o que pode levar à produção de falsas memórias”, adverte Professor Diekelmann.
* o livro não tem tradução para o português
Fonte: Damien Mascret – lefigaro.fr
Tradução e adaptação: Luiza Barreto