Falando especificamente sobre a criminalidade feminina, esta ainda é objeto de poucos estudos, apesar de ter tido uma aumento significativo.
O papel da mulher é ainda muito discutido na sociedade, em vários âmbitos, e também em relação a prática de um crime. Muitos estudos produzidos ainda têm o teor muito preconceituoso e biologicamente determinista sobre a mulher, ressaltando-a como um ser fraco resultante de falhas genéticas.
Mulher X Crime
Assis e Constantino descrevem um imaginário social construído em torno da criminalidade feminina, afirmando que as mulheres são influenciadas por estados fisiológicos e que seus crimes são, em grande número, cometidos no espaço privado, ou que estão relacionados ao gênero, como infanticídio, aborto, homicídios passionais, exposição ou abandono de recém-nascido para ocultar desonra, ou estritamente relacionados com os delitos dos companheiros.
Essas características de gênero relacionadas a questão da criminalidade feminina dificultam a aceitação social da inserção da mulher no universo do crime, pois tal visão é fruto de esteriótipos e de um conceito de menos valia da mulher. Porém, ultimamente isso tem mudado, o crime feminino tem sido menos associado a esses esteriótipos sendo cada vez maior a presença da mulher em outros atos delituosos, como por exemplo o tráfico, roubos e sequestros. Destaca-se que fatores como o desemprego, o baixo nível de escolaridade e a precaridade nas condições financeiras também estariam relacionados aos crimes cometidos por mulheres.
Lugar de sofrimento
Quando falamos de detentas do sexo feminino é observado que a experiência de aprisionamento é experimentada por elas de forma muito mais sofrida do que no caso dos homens, e isso se deve a vários fatores, sendo muito frequentes as queixas de solidão, tristeza, abandono e revolta. E quando em condições de isolamento, estas tendem a machucar o próprio corpo como forma de punição, o que também não é observado no caso dos homens. As unidades de prisões femininas tendem a ser transformadas em um “lar”, com um toque de feminilidade dado pelas prisioneiras, que também demonstram relações de cuidado e proteção umas com as outras, normalmente das mais velhas para com as mais novas.
São várias as consequências do aumento do encarceramento feminino, dentre elas, a fragilização dos laços familiares e lares nos quais as detentas eram responsáveis, assim como alterações em seu funcionamento, onde filhos mais velhos passam a ser responsáveis pelo sustento e cuidado com os irmãos mais novos, e a possível entrada desses no mundo do crime, assim como também a quebra dos vínculos devido a vergonha ou constrangimento por conta da prisão, podendo acarretar também em um dilaceração da relação mãe e filho e o abandono por parte dos maridos, por exemplo.
Essa vida de sofrimento e abandono dentro das prisões femininas caracterizam perdas como despersonalização, assujeitamento das individualidades, rotina estereotipada, dentre outros, assim como o favorecimento de relações homossexuais devido aos entraves institucionais em relação a visitas íntimas. Assis e Constantino também afirmam que “o homossexualismo de internato é uma construção institucional frequente em espaços de reclusão, sendo utilizado como estratégia de enfrentamento do cárcere no sentido da preservação dos afetos.”
Pena perpétua?
Fato também importante se dá na saída das detentas, pois um bom comportamento dentro da prisão não significa um bom comportamento fora dela. Goffman afirma que “quanto mais tempo alguém passa no cárcere menos condição terá para a vida socializada.” Muitas das vezes o ambiente carcerário, apesar das mazelas, pode ser um ambiente de proteção, e, verifica-se que algumas mulheres tem tanto medo de serem soltas, quanto de serem presas, pois sabem das dificuldades que enfrentarão do lado de fora devido ao estigma que lhes foi imposto, pois segundo algumas, a pena que lhes foi imposta pode ser perpétua.