A violência é sempre vista como algo necessariamente negativo, no entanto, é preciso atentarmos nosso olhar para perceber que atos violentos podem guardar em si uma certa positividade.
O que se diz
Riffiots destaca que “a contemporaneidade tende a entender a violência como algo arcaico e homogêneo que tende a se extinguir”. Este autor procura desconstruir esta visão, mostrando que na verdade o que é chamado de “violência” são diferentes fenômenos que acabam sendo rotulados como sendo sempre a mesma coisa, ou seja, fenômenos negativos e destrutivos. Estes acabam portanto, sendo analisados da mesma forma, como se fossem uma única coisa.
Além disso, Riffiots aponta para a contradição de se supor a possível extinção da violência em um cenário marcado pela presença constante da mesma, ou das mesmas, entendendo que não estamos falando de um único fenômeno.
Uma das explicações para essa impossibilidade de se extinguir a violência é a constatação de que esta estará sempre presente em maior ou menor grau sempre que houver relações de poder.
Segundo Clastres, a violência pode funcionar como uma força mantenedora das diferenças, opondo-se ao poder central que buscaria uma homogenização. Além disso, entende que a violência poderia funcionar como elemento instaurador de identidades étnicas, culturais e da “construção de subjetividade através dos processos de socialização”. Assim, compreende-se que “cada minoria, grupo ou segmento social poderia, sob determinadas circunstâncias concretas, colocar em prática formas específicas de violência para garantir sia identidade”, apontando desta forma para uma positividade de fenômenos violentos.
É necessário também atentarmos para o que estamos chamando de violência. Riffiots chama nossa atenção para o fato de que o que chamamos de violência “é uma objetivação, uma espécie de significante sempre aberto para receber novos significados, e não uma invariante, um objeto natural”.
Portanto, é importante entendermos e analisarmos todo o campo no qual se constrói o que entendemos como violência e que esse campo influencia diretamente para que entendamos a violência como algo somente negativo. Ou seja, precisamos ter em mente que a violência não é um conceito fechado estabelecido a priori, esta negatividade e o olhar que temos sobre a violência é construído socialmente. É importante analisarmos os fenômenos em si, irmos no concreto, nas vivências para assim evitarmos as grandes categorias da violência que não tem sentido em si mesmas.
Olhar além
Ao expandirmos nosso olhar podemos perceber que a violência é um fenômeno plural, e que por isso não deve esgotar suas explicações numa análise dicotômica vítima/agressor. Devendo levar em conta o todo o contexto além dessa relação.
Não devemos limitar nosso olhar, para poder aprofundar sua análise e melhor compreender esse fenômeno ao invés de criar estigmas que só limitam a compreensão sobre o tema e a criação de políticas públicas eficazes.
Essa ideia não se propõe a legitimar atos violentos como algo inevitável, mas expandir o olhar sobre a questão para que as políticas publicas não sejam pautadas somente em punição, mas talvez, dependendo do caso, na criação de programas que assistam melhor vítimas e agressores. Além de poder prevenir alguns fenômenos violentos que ocorrem por outras questões que, muitas vezes, passam despercebidas.