Os transtornos alimentares carregam com eles um sofrimento, não apenas das pessoas que passam pelo problema, mas também das famílias, muitas vezes maltratadas por uma certa concepção de que a “culpa é da mãe que não educou direito” ou “por causa do pai ausente”.
Essas famílias são punidas com uma dupla penalização: ver seu filho sofrer e se ver responsabilizado, julgados, às vezes pelos médicos, pelos amigos ou até mesmo pela própria família. O pensamento generalizado diz que, se essa criança ou adolescente não se alimenta, a culpa é dos pais que não são suficientemente rígidos na educação dos rebentos. Ou então que a criança deve ter sido maltratada para que ela chegue ao ponto de querer morrer. No entanto, quaisquer que sejam os erros de educação que esses pais possam ter cometido (quem não comete?), eles muito provavelmente deram o seu melhor e seriam considerados como bons pais em outras circunstâncias.
Nessas horas, os pais são totalmente desqualificados dessa função, profundamente afetados pela culpa e pela sensação de impotência. Eles se sentem responsáveis por uma eventual cura, apesar de duvidarem quanto à competência para enfrentar o desafio.
Aterrorizados por uma angústia só agrava a angústia dos filhos e, assim, a intensidade do problema. Negociar sobre o terreno da vontade ou da moral (“faça um esforço para comer”, “pare de mentir que você já comeu”) ou da afeição (“faça pela sua mãe”) aumenta ainda mais a ferida narcísica da criança que sofre do distúrbio alimentar, pois ela se sentirá incapaz até mesmo de controlar suas vontades.
Como tratar um adolescente sem, primeiramente, ajudar os pais a melhorar, a recuperar a energia da vida, e a reinvestir com confiança no seu papel de pais?
Mobilizados por essas questões, especialistas deram início a um grupo de apoio dedicado a pais e familiares de pessoas que sofrem de transtornos alimentares. Esses grupos ajudaram a descobrir o que os pais de jovens bulímicos ou anoréxicos precisam para retomar a confiança neles mesmos para ajudar os filhos.
Grupos de pais: uma necessidade
A necessidade de grupos específicos de apoio a pessoas próximas de quem sofre desses distúrbios é devido a um cotidiano muito particular que esgota as famílias, que os desespera, enfraquece, o que acaba por manter ou agravar a doença. Diante disso, os pais se apoiam uns nos outros e saem do isolamento e da vergonha, retomam forças, aprendem a continuar a viver com um sintoma que muitas vezes é de longo prazo e, sobretudo, aprendem a dar a devida atenção à família. A capacidade dos pais em cuidar deles mesmos é de fato uma das condições necessárias para que o jovem com esses transtornos também possa cuidar dele mesmo e retomar o seu processo de desenvolvimento.
Estes grupos também permitem a tomada de consciência que é benéfica para os pais, para as famílias e para os jovens que sofrem desses transtornos.
1) Não se puna, libere o espaço para compartilhar e aliviar a dor
Os grupos de ajuda servem para pacificar as angústias dos pais de adolescentes bulímicos ou anoréxicos. Os pais não podem fazer o trabalho dos filhos na cura desses transtornos, mas podem e devem reencontrar a sua capacidade de confiar em si mesmo e no seu filho. O melhor a fazer é trabalhar para que a sua inquietude não se torne um problema a mais para o adolescente que já foi suficientemente prejudicado por causa da própria angústia.
2) Mostrar o exemplo de confiança
Acredita-se que o impulso principal dos transtornos alimentares ligados ao controle de peso, como anorexia e bulimia, é o medo do excesso de ansiedade e sua explosão, o qual a pessoa que sofre do problema responde através de estratégias de controle sobre o corpo, que proporcionam uma sensação de alívio temporária à ansiedade.
O desafio dos pais nesses casos é mostrar um outro olhar: procurar não lutar diretamente contra o problema, mas se interessar pela causa do medo das explosões emocionais.
A criança que sofre de muita ansiedade em relação ao mundo que o rodeia, necessita aprender a controlar sua angústia e sua falta de confiança nele mesmo através dos seus maiores exemplos: os pais.
3) Transmitir a vontade de melhorar
Nas famílias frequentemente invadidas pela ansiedade, é importante que os pais tentem mostrar que a vida adulta é interessante e mostrar o exemplo de “como viver bem”.
A chave para os pais é de reaprender a cuidar deles mesmos, a se divertir, a se fazer respeitar também e a expressar de forma autêntica. Reencontrar a leveza do dia-a-dia pode ser a grande solução.