Na sociedade capitalista a atividade laboral é extremamente importante na vida do sujeito. Ela contribui na constituição de sua identidade e produz com isso subjetividades. A forma de se relacionar com esta se diferencia de sociedade para sociedade, de acordo com o tempo vivido, o contexto, e também de pessoa para pessoa.
Assim, existem muitas variáveis que fazem com que esta atividade seja vivenciado de maneira diferente pelos sujeitos, e essa vivencia irá afetar a forma de lidar com o momento do não trabalho, na aposentadoria.
Viver para trabalhar ou trabalhar para viver?
Desde cedo somos estimulados a escolher qual caminho profissional queremos seguir, e logo percebemos a importância que é dada ao trabalho em nossa vida. Como este é valorizado em nossa sociedade, pois, sentir-se produtivo e útil em uma sociedade capitalista nos agrega valor.
Observamos a dificuldade encontrada por muitas pessoas ao terem que se desvincular da atividade laborativa, como acontece na aposentadoria. Podendo provocar angústia e sofrimento. Sobre a velhice, visto que embora seja um fenômeno diferente da aposentadoria, muitas vezes coincide temporalmente com este.
Como a ruptura com o mundo do trabalho, como no caso da aposentadoria, pode repercutir na vida dos sujeitos que vivem numa Sociedade que tanto o valoriza?
Durante a vida, o sujeito vai passar boa parte de seus dias se dedicando a uma atividade laboral, e muitas vezes passa a ser conhecido pelas pessoas também pelo seu trabalho: “Você conhece o fulano que trabalha em tal lugar?”. Da mesma forma, quando vamos nos apresentar para alguém, logo nos identificamos, dizendo que atividade fazemos: “Olá, meu nome é…. sou médico, engenheiro, professor, etc”. Enfim, é fácil perceber em uma breve conversa como o trabalho é importante na vida das pessoas e como ele contribui na constituição de nossa identidade.
Tal forma de se relacionar com o trabalho não é a mesma em todo tipo de sociedade, a qualquer tempo, em qualquer contexto ou por qualquer pessoa. Existem muitas variáveis que fazem com que o trabalho seja vivenciado dessa maneira.
Tem-se observado que cada vez mais cedo as crianças são estimuladas a escolher qual caminho profissional querem percorrer e logo percebem a importância que vai ser dada ao trabalho em sua vida, e como isso é valorizado em nossa sociedade, pois sentir-se produtivo e útil em uma sociedade capitalista ‘agrega valor’ ao sujeito.
Chegada a hora do descanso
Depois de anos trabalhando, chega o momento que o homem se aposenta. Esse momento pode ser vivido por alguns como um descanso merecido, contudo para outros pode ser fonte de angústia e tristeza.
Antes de sua chegada, a aposentadoria pode ser imaginada como um período de prazer e descanso esperado, mas para alguns sujeitos, ao ser vivenciada, poder produzir um vazio deixado pelo trabalho e ser fonte de sofrimento e angústia.
Entendemos que a aposentadoria é um direito adquirido pelos trabalhadores e um descanso merecido, todavia, por ser o trabalho, em nossa sociedade, uma categoria importante na vida dos sujeitos, propõe-se que estes se preparem melhor para este momento para vivê-lo com mais qualidade.
Preparação
Autores e profissionais de psicologia que trabalham com programas que preparam para a aposentadoria, afirmam que o ideal nesses programas é que eles sejam realizados desde o início da carreira do colaborador, para que este possa aprender a planejar e refletir adequadamente sobre seus projetos futuros como um todo.
Porém, este ideal ainda se encontra muito longe da realidade das empresas, e dessa forma, propõe-se que este projeto seja realizado por volta dos últimos cinco anos de atividade laboral. Mesmo não sendo o “ideal” para uma adequada ruptura com o mundo do trabalho, a efetivação de programas de preparação para a aposentadoria nesses últimos anos, pode amenizar consideravelmente as angústias provocadas por esse momento. Pois, o trabalho psicológico de orientação para aposentadoria é necessário como forma de valorizar o sujeito e mostrar-lhes outras alternativas saudáveis de projetos de vida, para além das representações do mundo do trabalho.