Saúde Mental

Psicopatas: quem são?

Por Rafaela Monteiro 21/10/2013

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A psicopatia não é um termo clínico nem no DSM-IV (Manual de Diagnóstico e
Estatística da Associação Psiquiátrica Americana) nem na CID-10 (Classificação Internacional de Doenças). Seu equivalente no DSM-IV seria o Transtorno de Personalidade Anti-Social enquanto no CID-10 seria a sociopatia ou transtorno de personalidade dissocial.

O DSM-IV propõe a criação de uma  única nomenclatura, para fornecer uma linguagem comum a diferentes pesquisadores e clínicos.
Entretanto suas abordagens reivindicam elaborar, unicamente a partir da observação direta dos fenômenos em questão, um sistema de classificação independente de qualquer a priori teórico. Isso significa não levar em conta a subjetividade de quem está sendo “classificado”  assim como daquele que o classifica.

 

Classificação:

No DSM-IV encontramos como critérios para o Transtorno de Personalidade Anti-Social a presença de pelo menos três das seguintes características:

– Fracasso em conformar-se às normas sociais; propensão para enganar, indicada por mentir repetidamente; impulsividade ou fracasso em fazer planos para o futuro;

– Irritabilidade e agressividade; desrespeito irresponsável pela segurança própria ou alheia; irresponsabilidade consistente, indicada por um repetido fracasso em manter um comportamento laboral consistente ou honrar obrigações financeiras;

– Ausência de remorso, indicada por indiferença ou racionalização por ter ferido, maltratado ou roubado outra pessoa;

– Características específicas à cultura, à idade e ao gênero, podem se associar a esse dito transtorno, sendo uma situação sócio-econômica baixa e diagnostico após os 18 anos, e também grande prevalência na população masculina.

 

No CID-10 a personalidade psicopática é definida como um transtorno de
personalidade dissocial, caracterizado por um desprezo das obrigações sociais, falta de empatia para com os outros, desvio considerável entre o comportamento e as normas sociais estabelecidas. Define-se também por:

– Baixíssima tolerância à frustração;

– Baixo limiar de descarga da agressividade;

– Tendência a culpar os outros ou a fornecer racionalizações plausíveis para explicar comportamentos que o levem a entrar em conflito com a sociedade.

Assim, pode-se verificar que não há consenso quanto à psicopatia entre Instituições como Associação de Psiquiatria Americana (DSM – IV) e a Organização Mundial de Saúde (CID –10), havendo muitas incoerências e contradições.

 

Senso comum e Ciência

No senso comum, os psicopatas são definidos como pessoas cruéis, aproveitadoras, incapazes de sentir culpa, remorso ou qualquer tipo de sentimento.

O diagnóstic and statistic manual of mental disorders de 1952, define como
indivíduos cronicamente anti-sociais, que estão sempre em complicações, não
aprendendo nem com a experiência nem com a punição e que não mantêm
nenhuma ligação real com qualquer pessoa, grupo ou padrão.

Geralmente são insensíveis e hedonistas, demonstrando acentuada imaturidade emocional, falta de responsabilidade e de senso crítico. Dotados de grande habilidade de racionalizar seu comportamento, de forma a fazê-lo lógico, razoável e também  justificado.

Pode-se consider dois tipos de psicopatas, o agressivo predatório, o qual é aquele que satisfaz suas necessidades através de uma tendência destruidora, extremamente agressiva e fria, tomando posse ativamente do que quer; e o psicopata que consegue o que quer pelo modo parasitário de viver com os outros, apresentando-se como um indivíduo indefeso com necessidade de ajuda e piedade.

Existe o tipo simples, o qual apresenta inabilidade de adiar a satisfação de necessidades, não importando quais conseqüências para o próprio indivíduo e para os outros; e o complexo, que é similar ao simples, sendo que seu comportamento é também guiado pela melhor maneira de conseguir as coisas que quer e de se livrar de responsabilidades, segundo alguns autores.

 
Winnicott 

Este autor afirma que a criança anti-social é aquela que não encontrou suporte e estabilidade na família, tendo que recorrer a sociedade. Por isso, quando uma criança rouba, ela estaria procurando, ao mesmo tempo, a mãe e o pai, que seriam aqueles que lhe imporiam limites. Quando não os encontra sua frustração, cada vez mais inibida no amor, despersonalizada e deprimida, permite a ela se sentir e perceber somente a realidade da violência.

Outros autores afirmam também que a privação emocional ou grave rejeição dos pais pode ser uma das principais causas da psicopatia.

Para Winnicott, a tendência anti-social pode ser encontrada em um indivíduo normal, neurótico ou psicótico, podendo ser identificada em todas as idades. Caso
não sejam possíveis as medidas de tratamento para a criança anti-social, tais como assistência e proteção à criança, ela poderá se tornar um jovem adulto psicopata.

Para alguns autores, os indivíduos com transtornos de personalidade anti-social são vistos como predadores intra-espécie, utilizando-se de manipulação, charme e violência para obter o que querem. Para eles, mentiras, furtos, faltas à escola, fugas de casa, brigas, abuso de drogas e atividades ilegais são experiências típicas que, conforme relatos de pacientes, começam durante a infância. Assim como promiscuidade, abuso do cônjuge, abuso infantil e condução de veículos sob efeitos do álcool são comuns na vida desses pacientes.

Na maior parte dessas descrições, apesar de não haver um consenso, encontramos a prevalência de características como egocentrismo, falta de empatia, e inabilidade para estabelecer laços emocionais com os outros. Porém, o que nos intriga é que podemos observar essas e muitas outras características, as quais definem os indivíduos ditos psicopatas, em praticamente todos os indivíduos de nossa sociedade. O que nos leva a refletir sobre a categorização do tema.

 

Ideia positivista

A influência da ciência propiciou que alguns problemas sociais, como a desigualdade material e a criminalidade, fossem entendidos não através de contradições do sistema, mas da amostra de inferioridade biológica e moral.

O crime e a psicopatia seriam então definidos como uma conduta baseada na manifestação da natureza degenerada de alguns humanos, marcados por uma personalidade anormal, problemática, estranha e inferior. Personalidade essa muitas vezes correlacionada com a personalidade psicopática.

Existe toda uma construção social positivista em torno da psicopatia. Existe também uma forte tendência em nossa sociedade em acreditar somente em pensamentos que tenha bases no positivismo. Positivismo esse que possui uma visão determinista e cria verdades imutáveis sobre os sujeitos. Estas, refletem, por sua vez, na criminologia e nas psicopatologias.

Considerando dessa forma que a psicopatia precede de herança genética, e desconsiderando todos os fatores sociais envolvidos na “construção” do homem ou os considerando de forma determinista.

Nossa parte é pensar no quanto não somos previamente definidos e padronizados, e no quanto nosso “destino” não é traçado com base nessas pré definições estabelecidas em nossa sociedade.