Adoção foi o tema da semana. Assunto esse que ainda hoje é alvo de mitos e muitos preconceitos. A filiação advinda do laço de sangue ainda é muito mais aceita e bem vista do que a filiação realizada através da adoção. E quando falamos em adoção tardia então, o preconceito social pode ser muito maior.
A realidade brasileira
No Brasil, o número de pais cadastrados para adotar é maior do que o número de crianças disponíveis para adoção. O que acontece é que a maioria dessas crianças disponíveis não são mais bebês, e a procura maior no país ainda é por bebês, da cor branca. Porém, a maioria das crianças a disposição para serem adotadas não tem esse perfil, são “gradinhas” e pardas e/ou negras.
Uma nova cultura de adoção vem sido difundida após o estatuto da Criança e do Adolescente (1990). Onde a busca é no sentido de encontrar famílias para as crianças, e não o contrário (crianças para famílias inférteis, muito comum antigamente). Com isso, muitos grupos de apoio e preparação para adoção tem tentado mudar essa realidade, fazendo com que pais em busca de filhos possam encontrar filhos “reais” e não os idealizados. Crianças doentes também entram nessa perspectiva, pois essas são as que têm menos chances de serem adotadas. Esses grupos também procuram incluí-las na possibilidade de encontrar uma família, independente de suas necessidades.
Longa caminhada…
Muito ainda tem que ser feito, a caminhada é longa. Em outros países, onde esse trabalho de buscar famílias para crianças já foi feito, a adoção de crianças maiores ou doentes é muito mais comum. Por isso, vemos que essas crianças maiores, o que chamamos de adoção tardia, tem muito mais chances (aqui no Brasil) de serem adotadas por uma família de outro país (adoção internacional).
Sem contar que a divulgação em massa feita sobre o tema da adoção é, na grande maioria das vezes, sobre os casos que não deram certo, onde ocorreram graves problemas. Os casos bem sucedidos são pouco divulgados, creio que, devido a isso, a adoção ainda é alvo de muitos mitos e preconceitos. Muitos autores falam que os problemas com filhos adotivos nem sempre se referem a adoção em si, e que maus pais adotivos também seriam maus pais biológicos. Muitas vezes, os problemas vem de conflitos internos dos pais que não foram resolvidos e de uma certa falta de orientação e preparo necessário para lidar com uma criança recém chegada, e toda adaptação que ambas as partes exigem (tanto pais quanto filhos).
A esperança que temos é que um dia isso mude e que nenhuma criança cresça em uma instituição, longe de uma família.