Saúde Mental

Saiba o que é a Gestalt Terapia

Por Rafaela Monteiro 07/10/2013

 

 

A Gestalt Terapia é uma abordagem da psicologia que se preocupa com o campo clínico, com as teorias e técnicas de trabalho que visam dar ao homem as condições necessárias para seu próprio crescimento.

Diferenciando-se da Psicologia da Gestalt, que foi um campo estritamente experimental, e ocupou-se em trazer questionamentos que foram contrários à visão mecanicista e à visão atomística (visa o átomo como a menor parte ou elemento constitutivo das coisas). Esta afirmava que o “todo é uma realidade diferente da soma de suas partes”, pois o que percebemos é a relação entre as partes que compõem o todo. Ex: sinfonia. Sendo um campo de pesquisa que trouxe novas perspectivas para entender a maneira com a qual o homem percebe o mundo. E alguns de seus princípios influenciaram a Gestalt Terapia.

 

 Na Gestalt encontramos:

– Um paradigma diferente da tradição filosófica ocidental, sugerindo novas formas de pensar.

– Construção de uma metodologia psicoterápica crítica ao modo de pensar das abordagens (bhv/psicanálise ortodoxos) baseadas no paradigma vigente (mecanicista).

 

 O mundo hoje é influenciado pelo Pensamento Aristotélico (pai da lógica) que pensa sobre o mundo e cria categorias, classificando as coisas.  A Gestalt vai trabalhar para desconstruir essas categorias, lidando com o contexto e dando devida importância a este, pois lidando com o contexto não podemos estabelecer ou lidar com categorias. O que interessa é o contexto e a situação específica, não as generalizações. Para além de uma psicoterapia é uma filosofia existencial, um estilo de vida, uma arte de viver, um novo olhar, uma forma particular de conceber as relações do ser vivo com o mundo.

 

Seus objetivos são:

– Compreender, aprender e experimentar: alargar nosso campo vivido, nossa liberdade de escolha;

– Escapar do determinismo alienante do passado;

– Encontrar território de liberdade e responsabilidade;

– Ajudar a pessoa a se dar conta do que ele faz para se manter vinculado ao passado, ao invés de considerar o que o passado fez com ele;

– Não lidar com “porque”, mas com o “como” de nossas ações, nossas escolhas;

– Visão holística do homem (não separação entre mente e corpo, organismo indivisível), ser humano como um todo e não separado em partes;

– Os sintomas somáticos corporais como manifestações, pois a tentativa de domínio do corpo obriga este a se manifestar por sintomas somáticos inesperados;

– O homem visto em sua totalidade;

– A experiência humana temporal estabelecida de forma a se entrecruzar o passado, o presente e o futuro;

– Uma mudança de lugar do terapeuta, que sai do lugar de verdade (alguém que não é detentor do saber, mas alguém que irá construir algo com o outro);

– Não se limitar a controlar  nem explicar o comportamento humano, mas, tenta fazer com que a pessoa encontre ela mesma as explicações e compreensões sobre si;

– Não lidar com causa/efeito pois não é uma visão linear (linha espaço-tempo contínuo: causa….. Efeito);

– Saúde, que é movimento para a vida, para o contato, para trocas entre o “nós”;

– Enxergar o que está no aqui e ficar no presente;

– Descrever: nem antes, nem depois, apenas descrever sem buscar causas, apenas descrevemos o que foi visto pois ajuda nos ligar ao presente;

– Voltar-se para onde é possível fazer alguma coisa = aqui-e-agora;

– Solução buscada no presente, busca-se saber o que no presente impede o passado de ter um fechamento de situações inacabadas;

– Não diferenciar corpo e mente (somos uma única pessoa, carregamos tudo que já vivemos);

– Observar os eventos  dentro de um campo espaço/temporal, onde forças atuam simultaneamente de maneira a configurar (no presente) a realidade;

– A existência que se dá de forma completa, não apenas sua doença, mente ou discurso – visão holística;

– Trabalhar com o que estiver ali, no campo vivencial da relação terapêutica. Nada é descartado, inclusive o passado que, de alguma forma, se faz presente.

*A segurança do terapeuta é a “presença”, não um saber posterior, estar ali, ouvir e construir um caminho em conjunto.

 

 

 

 

Conhecida como a terapia do contato e do aqui-e-agora! Pois:

– Traz a importância das sensações e sentidos (tato, olfato, audição, visão, paladar) que são recursos para o contato.

– Traz a pessoa para ela mesma, para o contato consigo, não ir para algum lugar.

– Considera que é através das funções de contato que a pessoa se expressa no mundo. Dentre elas temos como exemplo o falar (voz, musicalidade), gritar, caminhar, espreguiçar, expressividade, linguagem.

*A sociedade de hoje poda, de certa maneira, nossos sentimentos e sensações, nos fazendo sentir menos e ter menos contato com o mundo.

 – Visa construir na relação terapêutica as condições para que as emoções possam encontrar a maneira mais satisfatória possível, que atenda as necessidades organísmicas do indivíduo como um todo, de se expressar.

– Tem uma visão otimista do homem, este tem condições de alcançar o que deseja e ser feliz. Sendo fundamental que ele se responsabilize.

 

Responsabilidade para a Gestalt Terapia

– Escolher a partir do que se apresenta, aparece. Escolha dentro do que é possível, do que está disponível dentro do campo vivencial.

Escolho e sou responsável!

 

É somente assumindo onde estamos que podemos partir para onde queremos ir. O fato é que nem sempre podemos compreender onde estamos. Importante enfocar a totalidade da pessoa com seu sentido vivencial. A eficácia terapêutica poderá trazer um resultado mais profundo do que um tratamento que atue só sobre a doença ou sobre o sintoma. A pessoa é o fim, não o meio, é o que almejamos e para onde colocamos nossa atenção.

 

 

Nessa abordagem, não nos propomos a falar “sobre” mas a lidar com sentimentos no momento em que eles acontecem, permanecendo neles e reconhecer o que ali precisa ser reconhecido. Para além das palavras, a manifestação da expressividade, ampliando a capacidade da pessoa em reconhecer a si mesma em seu próprio processo de vida, enfocando a relação entre pessoas e não entre discursos.

O terapeuta não é neutro nem isento, pois faz parte da relação na medida em que é atingido por ela. Está presente com toda sua história, sentimentos (totalidade). Atuando no campo vivencial do cliente, e vice versa, existindo certo envolvimento. Não analisamos e sim participamos do processo terapêutico.

 

Resumidamente, pretende-se:

– Descrever, falar do aqui-e-agora, a partir de um campo vivencial onde estamos e onde devemos nos implicar, nos responsabilizando por nossa vida e escolhas;

– Encarar o presente com maiores possibilidades de existir. Encarar nossas dúvidas nos permitindo ficar com elas antes de partir para as respostas;

* No presente há tudo que fomos e somos hoje, existindo no eu que sou meu corpo com suas fronteiras, facilidades ou dificuldades em usufruir dos próprios recursos (funções de contato).

– Nos expressar, refletindo a nós mesmo em nossa totalidade; dentro disso temos a relação terapêutica como um encontro eu/tu;

– Compreender que eu sou (processo) e não apenas explicar-se;

– Construir um novo olhar, novos pensamentos, formas mais satisfatórias de ser e viver;

– Observar a totalidade – a própria existência do ser no mundo, no aqui-e-agora e em sua plena expressividade;

– Usar técnicas, experimentos, como “truques”, em alguns casos.

 

Mais que uma teoria, a Gestalt Terapia é uma filosofia de vida.