Freud percebeu a partir da investigação clinica que em determinado momento a associação livre do paciente cessava e que esta interrupção podia estar ligada ao analista ou a algo a ele relacionado. E mais ainda, que isso se colocava como resistência ao tratamento.
Fala da importância da transferência para o tratamento analítico da seguinte forma: “aquilo que constitui o fator mais forte no sentido sucesso se transforma no mais poderoso meio de resistência.”
Afirmava que uma parte dos nossos impulsos libidinais estão voltados para a realidade e acessível a consciência e outra parte fora retida. E por a libido não ser totalmente satisfeita com a realidade, o indivíduo está fadado a se aproximar de cada nova pessoa que encontra com “idéias libidinais antecipadas”.
Figura do analista
Dessa forma podemos presumir que algo do investimento libidinal, uma vez que é parcialmente satisfeito, se projete na figura do analista. Parte desse clichê citado acima é inconsciente, mais especificamente, sua maior parte. E no neurótico, essa parte encontra-se aumentada. Desta forma, o indivíduo se aproxima de todos com este clichê. E assim o faz com a figura do analista, que entra na série psíquica do paciente. Essa transferência surge necessariamente na relação analítica e emerge como a resistência mais poderosa. Isso porque, se as associações do paciente faltam, é porque ele está pensando na figura do analista, ou algo a ele vinculado.
Freud afirma também que a transferência é a condição de sucesso da análise. Estas duas vertentes da transferência vão se fazer presentes o tempo todo, em qualquer tratamento. Daí o analista ter sempre que manejar a transferência no sentido de deixar a resistência em níveis que permitem que o processo analítico se dê.
A análise
O tratamento analítico por sua vez, procura rastrear a libido e torná-la acessível a consciência e útil a realidade. No ponto em que as investigações da análise se encontram com a libido antes escondida, se dá um conflito pois todas as forças que fizeram a libido se regredir vão emergir como resistência ao trabalho da análise, a fim de conservar o novo estado de coisas.
Assim a transferência só ocorreu a fim de conservar esse novo estado de coisas provocado pela situação analítica numa espécie de conciliação. É na medida em que o paciente percebe que não há proteção suficiente contra a revelação do material recalcado que ele lança mão da transferência com deformação, e que está portanto a serviço da resistência. Dessa forma, a transferência se faz ao mesmo tempo, o motor do tratamento e também seu maior obstáculo.
Freud dizia que a linha de ação do analista deve se dar pela via do amor transferencial provocado pela situação analítica . E que a função do analista é por a realidade psíquica a trabalho através da transferência. Cada associação, cada ato da pessoa deve levar em conta a resistência e ser vista como uma conciliação. A resistência, portanto, acompanha o tratamento passo a passo e deve sempre ser levada em consideração pelo analista.
Esfera da transferência
A transferência de representações inconscientes para a figura do analista também é uma conciliação: “quando algo do material completivo serve para ser transferido para a figura do médico, essa transferência é realizada”.
Freud chama atenção ainda que todo conflito psíquico deva ser abatido na esfera da transferência. Desde o início, a transferência é a arma mais forte da resistência.
Ainda com relação á resistência, Freud fala em transferência negativa, a transferência de sentimentos hostis ou de transferência positiva de sentimentos eróticos, transferência de sentimentos afetuosos para a pessoa do analista. As duas, as transferências positivas e negativas encontram-se lado a lado na mesma pessoa. Isso Freud chama de ambivalência. Esta última é a melhor explicação para a habilidade em colocar a transferência a serviço da resistência.
Freud então afirma que todos os sintomas, precisam ser transferidos para a figura do analista, precisam ser revividos na relação com o analista, para que assim possam ser destruídos através do processo analítico. Ressaltando por sua vez a importância da transferência no tratamento analítico e sua grande contribuição para o sucesso do mesmo.