Provavelmente você já sentiu culpa alguma vez na vida. Isso é natural: de acordo com grandes especialistas no comportamento humano, como o psicanalista Sigmund Freud, esse sentimento faz parte do desenvolvimento da personalidade das pessoas. Mas, assim como ele pode contribuir para o fortalecimento emocional, também pode ser incapacitante.
Uma pesquisa realizada em 2012 pela Universidade de Manchester, nos Estados Unidos, apontou que a culpa pode estar diretamente relacionada com a depressão. O levantamento indicou que os indivíduos diagnosticados com a doença, em sua maioria, lamentam-se excessivamente.
Ainda assim, não se pode afirmar que essa sensação é maligna, pois ela também é responsável pelo desenvolvimento sadio do caráter.
Entenda como a culpa se manifesta
A psicóloga Patrícia Spindler explica que o sentimento de arrependimento se manifesta em todas as pessoas. “Ele faz parte do desenvolvimento inicial sadio e tem a ver com a constituição da moral no sujeito” diz.
Para ela, esse sentimento é a prova de que a pessoa consegue tolerar e conter certos conflitos que fazem parte da estruturação do psiquismo. Em outras palavras, pode-se dizer que é algo natural, que equilibra emoções como amor e ódio.
“O ser humano precisa ser capaz de experimentar esse sentimento para conseguir lidar com ele”, explica Patrícia. Por isso, a ausência total da culpa também pode ser perigosa. A falta desse sentimento pode indicar patologias como a perversão.
Conforme Freud e Winnicott sugerem na obra “O ambiente e os processos de maturação”, publicado em 1983, a culpa se situa na intenção inconsciente, ou seja, não é preciso fazer ou dizer algo, mas ter a intenção de algo para desencadear esse sentimento.
“É a realidade interna que faz gerar o sentimento. Não é preciso ter vivido algo de fato para que o sentimento de culpa se apresente”, ressalta Patrícia.
A culpa é mais comum para as mulheres
As pesquisas confirmam o estereótipo cultural de que as mulheres tendem a sentir mais culpadas do que os homens. Um estudo espanhol publicado pela Spanish Foundation for Science and Technology, em 2010, concluiu que as mulheres se sentem arrependidas mais frequente e intensamente do que os homens.
“Em geral, elas realmente se culpam mais, pois são menos objetivas e se colocam muito no lugar do outro”, assegura Patrícia. A psicóloga observa que as mulheres ficam recorrentemente se questionando se poderiam ter feito algo diferente ou de uma forma melhor.
Diante de tantas decisões que precisam ser tomadas na vida, é comum que algumas delas causem arrependimento. Mas a sensação de pesar contínuo pode resultar em doenças incapacitantes.
“Podemos dizer que o sentimento deve ser avaliado como normal ou patológico. Ou seja, pode advir de um crescimento emocional normal ou gerar uma psicopatologia e um sofrimento maior do que o necessário para administrá-la”, salienta Patrícia. Conforme a psicóloga, dois diagnósticos podem ser pensados nesses casos: a melancolia e a neurose obsessiva.
Para eliminar o problema, a pessoa precisa conseguir reconhecer que nem todas as responsabilidades são dela, mas nem sempre é fácil fazer isso sozinho. Por isso, o processo de autoconhecimento através da terapia ajuda a aliviar a sensação de pesar e garantir melhor qualidade de vida.
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