Observamos nos dias de hoje uma grande exposição da vida privada através dos sites de relacionamento na internet. Sabemos praticamente tudo sobre a vida de amigos e as vezes até de desconhecidos. Tudo é exposto. Onde vamos, onde estamos, o que comemos, nossas preferências, nossos amores, nossas decepções. Nossa vida hoje é literalmente um livro aberto. Porém, um livro onde mostramos só o que queremos mostrar, ou melhor, onde nos mostramos da forma que queremos.
Vida na rede
Encontramos nos “facebooks” da vida um lugar de extrema felicidade. Somos e estamos sempre bonitos, bem vestidos, alegres. Nossos namorado é sempre um príncipe, nosso casamento é um conto de fadas. Somos realizados e felizes e fazemos questão de expressar tudo isso através de uma espécie de “meu querido diário” on line. Este, antes era trancado com um cadeado e ninguém podia nem pensar em ler. Hoje ele é público, aberto e virtual.
Pensando sobre
Penso, enquanto profissional da área da saúde, sobre o que acontece com as pessoas hoje que faz com que elas tenham essa grande necessidade de expressar em público, sua vida e seus anseios. O que acontece conosco que nos faz “viver em público”, ou para o público? Outro dia vi um post no Facebook sobre um restaurante que tinha um cartaz que dizia: “não temos wi fi, conversem entre vocês”. Observei uma vez um casal de namorados que estavam sentados um ao lado do outro, porém, cada um mexendo no seu celular de última geração, completamente concentrados em seus brinquedinhos, e parecendo não perceber a presença do parceiro ao lado. Não me surpreenderia nenhum um pouco se ambos estivessem fazendo declarações de amor, um para o outro, naquela mesma hora, só que virtualmente.
O que se perdeu
Perdemos o outro ao vivo do nosso lado e optamos por encontrar o outro on line, virtual. Penso numa espécie de esvaziamento, superficialidade das relações. Relacionamentos fluidos, líquidos, como afirmava Bauman. Esse autor relatou em seus livros a fluidez que vivemos nossos relacionamentos na modernidade, chamando-os, por muitas vezes, de “líquidos”. Vivemos na cultura do descartável, do fast food, e isso permeia todos os espaços que nos encontramos, inclusive nossas relações, nossos afetos, nossos amores. A internet acaba contribuindo para essa fluidez, pois ao mesmo tempo que nos aproxima do amigo que está em outro continente, nos afasta de nosso familiar do quarto ao lado, pois muitas vezes ele também está ocupado no seu computador ou celular “curtindo” a vida on line.
O que fazer então?
Diante disso, nos resta pensar na nossa parte e contribuição para tudo isso. Até onde permitimos esse esvaziamento? Até onde contribuímos para tanta fluidez? De repente, se olharmos, e realmente enxergarmos, o ser humano ao lado, sem intermediações virtuais, não vamos precisar mais da plaquinha: “não temos wi fi, conversem entre vocês”.