A infância é um momento peculiar na vida do ser humano. Importante fase onde a base de caráter do indivíduo começa a se formar, onde tem-se o início da “construção do homem”. Normalmente esta é lembrada com carinho e saudade, pois é marcada por uma época feliz, sem preocupações, onde encaramos o mundo tranquilos e protegidos. Bom, pelo menos era pra ser assim, ou melhor, é assim pra algumas pessoas, não pra todas.
Infância X Pobreza
Diante da realidade que nos deparamos nas comunidades pobres, não só no Rio de Janeiro mas em todo país, o que observamos é algo muito diferente. A realidade da pobreza, do tráfico, da fome, da insegurança, da violência, produz algo bem diferente de proteção e tranqüilidade.
Essas crianças encaram o mundo de forma efetivamente diferente das crianças de classe social um pouco mais alta, pois estas são atingidas por problemas e preocupações pertinentes as comunidades pobres. Falar da infância dentro dessa realidade de pobreza é muito mais complicado e triste, pois essas crianças são “produzidas” de outra forma.
Construção de sujeitos
A sociedade se constrói por meio do processo de transmissão da cultura, ou seja, conhecimentos, técnicas, valores e representações de papéis sociais como imagens e modelos de comportamento. É integrando essas imagens e modelos à experiência vivida pela criança que constitui o processo de socialização; sendo então o resultado da interação de crianças e adolescentes com o meio ambiente em que eles vivem. Sujeitos desse processo, as crianças são um grupo social definido, com papéis e comportamentos específicos, que lhes são atribuídos pelo grupo social a que pertencem.
Creio que a partir dessa visão podemos afirmar que os significados da infância, longe de expressar apenas uma fase biológica do desenvolvimento humano, são moldados na esfera da cultura; a infância com suas distinções face à vida adulta é um produto cultural.
Influências do mercado de consumo
Como fatia do mercado mundial de consumo, as crianças e os adolescentes vêm ganhando grande importância, sendo legítimo falar em uma “cultura” jovem de âmbito planetário, cujos símbolos e heróis de maior sucesso têm a ver com sexualidade e com a violência.
Mesmo aqueles jovens que não têm acesso direto aos equipamentos e serviços mais atuais e sofisticados, como o computador e a rede telemática (caso da maioria das crianças e dos jovens de países pobres como o Brasil), estão de certo modo incluídos no ciberespaço. Virtualmente, por intermédio do mundo maravilhoso, rico, charmoso, injusto e violento que lhes é mostrado pela televisão. A realidade virtual descrita na telinha tende a ser vivida por esses jovens como um simulacro, um sonho, uma fantasia que substitui um real demasiado triste.
Assim, as crianças pobres, como todas as outras, também são atingidas pelo universo televisivo, pela mídia e suas influências, e desejam fazer parte dele como qualquer outra criança ou adulto deseja.
A diferença se faz quando na falta de recursos para pertencer a tal meio, a criança das comunidades pobres podem ser influenciadas a entrar na vida do crime, buscando sobreviver, se é que assim podemos dizer, não só a fome e a miséria, mas as pressões de seu meio social.