Semana passada falei sobre adoção ao longo da semana e pretendo estender o tema um pouco mais, com o objetivo de promover mais informações e quem sabe maior reflexão e discussão.
Quando falamos sobre a revelação da verdade no processo de adoção parece que falamos sobre uma única e simples conversa. Não tem receita pronta, como sempre falo. Existem pessoas e pessoas e situações e situações. O fato é que contar a verdade não deve se resumir a uma única conversa e não se falar mais no assunto. Essa revelação deve ser um processo de diálogo, confiança, sinceridade, honestidade, onde o espaço para conversar sobre o assunto deve ser aberto para qualquer hora, onde dúvidas possam ser esclarecidas e verdades estabelecidas.
Crianças adotivas: O que dizem os autores
Françoise Dolto insisti na importância da revelação para a criança e afirma que as palavras são muito importantes, sendo preciso atentar para a sua precisão. Segundo essa autora, quando os pais dizem a criança que não são seus pais verdadeiros isso pode gerar na criança a ideia de que ela também não é um ser humano de verdade. E se criticam seus genitores biológicos, a criança poderá associá-los, simbolicamente, a seus novos pais.
Alguns pais tratam a questão da revelação como uma tarefa a ser cumprida. Tocam no assunto em uma única conversa e acham que o “problema” foi resolvido. Deixam de dar a criança a oportunidade de formular perguntas e não levam em consideração sua capacidade de compreensão. Agindo assim, podem também estar negando a criança e a si próprios a possibilidade de elaborar afetos relacionados a essa questão.
Podem também, relatar ao filho a sua história e viver o assunto como se fosse um tabu, ou algo sigiloso, de forma que não há espaço para expressão de dúvidas ou até mesmo falar livremente do assunto. Dolto nos diz que revelar é ir nomeando os fatos e significar o vivido. Por isso, não basta que os pais contem o fato, mas é muito importante que essa verdade faça parte do discurso da família e que possa ser falada sempre que houver interesse ou necessidade. A autora ainda nos diz que, além de falar com franqueza, todos os que lidam com a criança devem ouvir o que ela quer ou pode expressar de acordo com seu ponto de vista e sentimentos.
Assim, enfatiza que mesmo quando há lacunas na história da criança, essas lacunas precisam ser ditas, pois, segundo ela, usar a palavra possibilita a entrada no processo de simbolização, processo esse muito importante para o desenvolvimento psíquico da criança. Porém, se tiver dúvidas ou insegurança a respeito desse processo, procure ajuda profissional antes de qualquer atitude ou conversa.