Saúde Mental

Entenda como os traumas de infância interferem na vida adulta

Por Redação Doutíssima 03/11/2015

Na área da psicologia é comum que os profissionais identifiquem problemas na vida adulta de uma pessoa, ocasionados por traumas de infância. É fato que o desenvolvimento infantil é uma fase muito importante para a construção da personalidade e do caráter de qualquer indivíduo. Neste cenário, a influência dos pais é muito significativa.

A psicóloga especialista em psicodrama terapêutico Marina Vasconcellos explica que é difícil falar sobre traumas de infância de maneira breve, pois essa é uma questão complexa. “É na infância que necessitamos mais do cuidado e do afeto dos adultos para crescermos com saúde e nos desenvolvermos”, destaca.

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Quanto mais rápida for a interferência do profissional, menores as consequências negativas. Foto: iStock, Getty Images

Quais são as causas dos traumas de infância?

Segunda Marina, quanto mais carinho, proteção, cuidado e estímulos houver na infância, melhor será o desenvolvimento em todos os aspectos. “O cérebro está em formação e o aprendizado fica gravado junto com as emoções que o acompanham”, diz. Por isso, quando as crianças sofrem abusos emocionais, as marcas podem ser para o resto da vida.

A especialista esclarece que, além da genética, tudo o que os pais ou responsáveis pela criação de uma criança dizem, servirá de base para a construção de sua personalidade. “Filhos rotulados na infância como burros’, por exemplo, provavelmente vão crescer sem acreditar em sua capacidade intelectual e muito inseguros”, aponta.

 

Quando a autoestima da criança não é desenvolvida, ela poderá se prejudicar em todos os seus papéis, pelo resto da vida. “Os traumas são emoções negativas que ficam gravadas em nosso cérebro, trazendo à tona novamente aquela emoção ruim toda vez que se passa por situações que lembrem aquela vivida anteriormente”, diz Marina.

 

Dessa forma, os traumas de infância vão contaminando o aprendizado da pessoa desde o começo da vida. “Isso faz com que seja mais difícil ter um desenvolvimento pleno, emocionalmente falando”, sintetiza a especialista.

 

Traumas de infância mais comuns

Segundo a psicóloga, os traumas mais comuns de infância são os verbais: humilhações, afirmações de que a criança “faz tudo errado” e “não sabe nada”. “Rótulos negativos têm um poder enorme sobre a criança, que cresce com problemas de autoestima, insegurança e dificuldades de relacionamentos em geral, tanto afetivos, quanto profissionais”, esclarece.

 

Os traumas físicos também são comuns e deixam marcas além das físicas. “Espancamentos, acidentes graves, que demandem cirurgias sérias e muito tempo de recuperação podem deixar sequelas como pânico, dificuldade em confiar nas pessoas, necessidade de se defender delas por qualquer coisa e muitos outros sintomas”, lembra.

 

Brigas entre os pais também traumatizam, em especial quando são frequentes, graves e envolvem agressão física. “Em geral, as crianças tentam entrar no meio para defender um deles e acabam por apanhar também, ou sentem-se incompetentes por não conseguirem agir. No futuro, elas poderão se tornar adultos agressivos e impulsivos”, adverte ela.

 

Abusos sexuais são outro problema sério, pois, invariavelmente, trazem problemas na esfera afetiva do adulto, dificuldades para confiar nas pessoas e, claro, na sexualidade”, lembra. Mas, segundo a psicóloga, é importante lembrar que nem sempre aquilo que traumatiza uma pessoa, irá atingir igualmente outra.

Conforme explica ela, cada um tem a sua maneira de reagir aos estímulos externos. “A genética, o desenvolvimento emocional e a predisposição para determinadas doenças e comportamentos ao longo da vida também influenciam no trauma”, diz.

Como tratar um trauma?

Normalmente, o trauma de infância é identificado através da terapia. “A pessoa chega se queixando de algo que causa incômodo no presente, sem fazer a ligação com o passado”, explica. O terapeuta, através de um processo investigativo junto com o cliente, ajuda a  identificar dinâmicas de funcionamento prejudiciais, buscando entender de onde elas vêm.

 

“Em psicodrama, podemos trabalhar as ‘cenas regressivas’, ou seja, a partir de cenas atuais, acabamos caindo naquelas da infância, entendendo o início do problema e as defesas construídas para lidar com o trauma. Tendo essa consciência, a pessoa pode aprender a reagir de outra forma. É uma sensação libertadora”, destaca.

 

Segundo Marina, se uma criança sofre de abusos na infância, independente de sua natureza, quanto mais rápida for a interferência de um profissional, menores as consequências negativas para seu futuro. “A intervenção de um psicoterapeuta pode ser fundamental para ajudá-la a crescer, eliminando o trauma perto de sua origem”, conclui.

 

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