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Clamídia: saiba tudo sobre a IST que afeta homens e mulheres

Por Francine Costanti 20/07/2020

O sexo desprotegido é uma das principais causas de muitas infecções sexualmente transmissíveis, uma delas é a clamídia, que atinge tanto homens e mulheres, podendo apresentar sintomas ou não. Por isso, é essencial que você esteja com os exames em dia para que, caso esteja infectado, já comece o tratamento adequado.  

Dados divulgados em 2018 pela Organização Mundial de Saúde (OMS) mostraram que mais de um milhão de pessoas sofrem diariamente com infecções sexualmente transmissíveis e a clamídia é uma das mais comuns entre elas. 

Tiramos todas as dúvidas sobre clamídia com o Dr. Alex Meller, urologista da UNIFESP (Universidade Federal de São Paulo) e membro do corpo clínico do Hospital Israelita Albert Einstein e com Dr. Alexandre Puppo, ginecologista e obstetra do Hospital Sírio Libanês e Hospital Albert Einstein. Fique por dentro! 

O que é a clamídia?

A clamídia é uma infecção sexualmente transmissível causada pela bactéria Chlamydia trachomatis que, após o sexo desprotegido, pode afetar a região genital, ânus, garganta e olhos e também causar doenças pulmonares. 

De acordo com o Dr. Puppo, a clamídia é um organismo considerado bactéria, mas apesar de ser bactéria, convive dentro da célula dos órgãos.genitais. É considerada uma infecção sexualmente transmissível e afeta, principalmente, os órgãos genitais femininos e é uma das mais importantes causas de infecção sexual e de infertilidade na mulher.

Principais causas

A principal causa é a transmissão via sexual, mas a IST pode ser transmitida por outros meios. Durante o sexo, sem preservativo, a troca de secreções leva à transmissão. 

A clamídia é classificada dentro das infecções sexualmente transmissíveis, porque essas partículas elementares da clamídia ficam na secreção vaginal ou na secreção ao redor do pênis e, durante o ato sexual, se transferem de uma pessoa para outra. É dessa maneira que a clamídia se prolifera de uma pessoa para outra.

IST comum entre homens e mulheres 

A clamídia é comum tanto no homem quanto na mulher e o grande ponto dela é que em torno de 50% dos homens e 70% das mulheres vão ter essa infecção de forma assintomática, ou seja, não vão apresentar nenhum sintoma que se relacione ou que demonstre a possibilidade de estarem infectados. E é por isso que essa bactéria consegue ser transmitida com tanta facilidade e é tão prevalente e comum no nosso meio.

“Tanto o homem quanto a mulher podem ser contaminados pela clamídia, mas não existe estatística precisa, por não ser uma doença de notificação compulsória e a maioria dos casos cursa de forma assintomática”, orienta Dr. Alex.

Endometriose

Na mulher, a clamídia pode causar sangramento espontâneo vaginal e dor ao urinar e/ou durante as relações sexuais. Foto: iStock

Transmissão via sexual anal, vaginal e oral

Foi identificado presença de bactéria nesses 3 cenários. Também ocorre transmissão da mãe para o bebê durante o parto, podendo desencadear uma conjuntivite no recém-nascido que pode levar a cegueira. Também pode ser transmitida durante o compartilhamento de acessórios sexuais, como vibradores, plugs anais etc.

Vale ressaltar que o período de incubação da IST é de cerca de 15 dias, fase em que é possível o contágio. Por isso, é preciso usar preservativo para evitar que, nesse período, o parceiro seja contaminado. 

Assintomática ou não

Geralmente (70 a 80% das vezes) assintomática, mas os sintomas podem aparecer nos órgãos genitais. No homem há secreção uretral, ardência para urinar e dor nos testículos quando este é infectado. Além de ser um fator de risco para infertilidade.

“Quando a infecção é sintomática, o principal sintoma é a uretrite, uma ardência e uma vontade constante de urinar, que é causada pela inflamação da uretra. Se não tratada pode levar a uma síndrome chamada Síndrome de Reiter, que se compõe da presença da uretrite junto com artrite (dores articulares por inflamação), uma alteração inflamatória também da UVA (no olho) e também apresentar lesões de pele e de mucosas (aquela pele que tem na parte interna da boca)”, conta Dr. Puppo.

Na mulher, geralmente ocorre corrimento esbranquiçado ou amarelado e não espesso, sangramento espontâneo vaginal e dor ao urinar e/ou durante as relações sexuais. Na mulher também pode ser fator para infertilidade, inflamação das trompas, inflamação do colo do útero, inflamação da uretra, inflamação da camada interna do útero. 

Em casos mais extremos, pode levar a uma doença inflamatória pélvica e acompanhado até de uma formação de pus ao redor dos ovários e das trompas. Pode ainda causar alterações, como linfogranuloma venéreo, um aumento dos gânglios da região inguinal que vão formando pus abscesso e, eventualmente, acabam por vazar para a pele através de pequenos orifícios. 

Além disso, pode pegar o olho, mas no recém-nascido, em contato com a clamídia, pode levar a formação do tracoma, que destrói o nervo óptico do bebê e levar a cegueira.

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Como evitar o contágio

É preciso sempre usar preservativo nas relações sexais, pois sem isso os riscos aumentam. Usar camisinha evitar qualquer contágio de doenças e infecções entre órgão genitais e boca. Resumindo: faça sexo seguro, evite múltiplos parceiros (as) e procure um especialista quando apresentar qualquer sintoma (anal, vaginal, oral), mesmo que de pequena intensidade.

Clamídia tem cura? 

A bactéria pode ser facilmente tratada com antibióticos como doxiciclina, azitromicina, eritromicina entre outros. O tratamento mais adequado deve ser indicado apenas por seu médico.

É  possível sofrer contaminação por clamídia outras vezes. Mesmo depois de fazer o tratamento para curar a doença, não significa que você estará imune. Ao ter relações sexuais com alguém que está com clamídia, você corre o risco de infecção, sempre. 

A clamídia, por ser um organismo que vive dentro da célula, normalmente necessita de tratamentos com antibiótico por período mais prolongado de tempo para uma cura definitiva, mas é curável. Você pode se infectar novamente com seu parceiro, por isso, em via de regra, quando identificamos a clamídia, temos que tratar todos os parceiros sexuais envolvidos”, diz Dr. Puppo.

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Como é feito o diagnóstico? Quais exames são exigidos?

Segundo Dr. Alex existem alguns exames de confirmação: detecção de Chlamidia por técnica de PCR (detecção de anticorpos IgM) na urina ou em secreção uretral ou vaginal; cultura para Chlamidia na urina ou nas secreções uretral ou vaginal e detecção direta da Chlamidia em secreção uretral ou vaginal (menos sensível de todas).

Existe uma sorologia em que se pesquisa a presença de anticorpos contra a clamídia no sangue do indivíduo, mas esse exame tem pouca relevância, pois mesmo com anticorpos positivos, não impede que você tenha uma nova infecção. Então não tem sentido. A sorologia não traz grandes vantagens, a não ser dizer para você que, em algum momento da vida, teve contato ou está novamente (ou pela primeira vez) com clamídia. 

O que acontece quando a IST não é tratada?

Nos homens há progressão da uretra para o ducto deferente e testículos por via retrógrada podendo levar a obstrução do ducto ou orquite (inflamação do testículo) e prejudicar a fertilidade. Nas mulheres há progressão via retrógrada para o útero e tubas uterinas, levando a obstrução tubária e consequentemente infertilidade ou inflamação tubária levando a doença inflamatória pélvica com dor em baixo ventre e febre. 

As lesões podem causar infertilidade?

Dr. Alex ressalta que sim, a infertilidade pode acontecer depois da contaminação por clamídia e é causada por obstruções que impedem o encontro do espermatozoide com o óvulo ou por afetar diretamente os órgãos sexuais causando inflamação e mal funcionamento destes. Por isso, se faz tão importante manter os exames, seja urológicos ou ginecológicos, para tratar, caso a pessoa esteja infectada, o mais rápido possível.