Ainda dentro do tema da adoção, quero pontuar alguns desafios que os pais adotivos podem ter durante sua caminhada. Muitos são os mesmos dos pais biológicos, outros são um pouco diferentes. Mas, como sempre digo, o que define filiação é o amor e o afeto, não o somente o sangue.
Sentimentos presentes
Muitas famílias adotivas experimentam fortes sentimentos de empatia ou pena, normalmente em relação à mãe biológica, por esta ter perdido a criança e ou não ter tido o privilégio de cuidar dela. Todavia, devido a dificuldade de lidar com esse tipo de sentimento, ou até mesmo para justificar a posse da criança, os pais adotivos podem caracterizar os pais biológicos negativamente. Fato que não é muito saudável. Alimentar sentimentos negativos nas crianças em relação aos pais biológicos não contribui para um desenvolvimento saudável.
É mais saudável dizer que os pais não puderam cuidar dele, mas que a mãe biológica deu-lhe a vida, bem mais precioso que temos, e que por isso devemos ser grato a ela pelo presente da vida e por ela ter guardado ele na barriga e o entregado para alguém que pudesse lhe dar cuidado e amor. Claro que isso não é uma receita de como agir em todos os casos pois cada caso é um caso, é somente um exemplo de um possível olhar mais saudável nessas relações.
Fantasias e medos
Videla e Maldonato, são autores que assinalam que quase todos os pais adotivos têm a fantasia de que realizaram algo definitivo e por isso temem consequências e temem represálias, como perder criança supostamente “roubada”, ou que a criança ao crescer possa resolver procurar e retornar para os pais biológicos. Podem temer também a censura da sociedade pela ausência do processo da gestação ou que o aspecto filantrópico seja exaltado. Ainda podemos acrescentar o temor dos pais de serem confrontados mais uma vez com seu “fracasso” pessoal diante de possíveis questionamentos dos filhos, principalmente na fase da adolescência, onde dificuldades e dúvidas normais da fase podem surgir.
Assim, conectado a fantasia do “rapto” ou da “culpa” pode existir a tendência dos pais adotivos sentirem que devem ser pais perfeitos, o que pode fazer com que estes criem expectativas de terem que ser melhores do que os pais biológicos, mostrando com isso, sua capacidade para a maternidade/paternidade.
Autores chamam a atenção para a possibilidade de casais que, não podendo ter seus filhos naturalmente, desejam provar, seja para eles mesmos ou para outros, a sua capacidade de sucesso no ato de ser pai e mãe.
Muitos casos não são bem sucedidos pela ausência de elaboração desses e de muitos outros conflitos. Orientação, terapia, enfrentar fantasmas e medos é preciso, na vida de todos nós.