A doação de órgãos é um ato de amor e cidadania, e felizmente as pessoas estão cada vez mais buscando informações e se conscientizando com a importância de ser a favor do ato. A retirada de órgãos ocorre logo após constatada a morte cerebral do doador, enquanto o coração deste continua pulsando e mantendo a irrigação sanguínea do corpo. Vale ressaltar que o objetivo da equipe médica é salvar vidas e a doação só será realizada quando a morte cerebral for realmente constatada. Para a família do doador, o sentimento de solidariedade e a consciência de ter salvo vidas pode confortar o coração e amenizar a dor.
A falta de doadores de órgãos é ainda um grande empecilho para a efetivação de transplantes no Brasil. Mesmo nos casos em que o órgão pode ser obtido de um doador vivo, a quantidade de transplantes é pouca comparada à fila de pacientes que esperam pela cirurgia. A superstição e a falta de informação são fatores que diminuem o número de doações realizadas por pacientes com morte cerebral. É preciso realizar uma conscientização efetiva da população brasileira para que o número de doações possa aumentar significativamente. Para muitos pacientes, o transplante de órgãos é o único meio de salvar suas vidas. Veja abaixo alguns depoimentos de pessoas que receberam órgãos:
“Antes do transplante, a vida era muito difícil, eu não tinha disposição nenhuma pra sair de casa, até comer era complicado, além disso, três vezes por semana eu precisava vir até Santa Maria para fazer hemodiálise. O problema é que onde eu moro não tem ambulância, por isso vinha de ônibus. Eram três horas de viagem até o hospital, às vezes fazia diálise só por duas horas (o ideal seriam quatro) porque precisava voltar pra rodoviária. Agora tenho uma vida normal, posso sair e sou muito mais disposto pra tudo. Queria conhecer as famílias que me ajudaram, mas é muito difícil. Gostaria que eles soubessem que graças a Deus e a esse ato de superação, hoje eu estou bem. ”
Wilson de Moura recebeu um rim há 4 anos.
“Hoje, depois de 16 anos de transplante, cada dia que passa eu considero uma vitória. O que eu gostaria de dizer pras pessoas é que essa nova vida só me foi possibilitada pela família do doador, um metalúrgico de Canoas, que naquele momento extremo de dor, de agonia, de sofrimento, teve a coragem de fazer a doação, e eu sou eternamente grato a essa família, embora não a conheça. Pra mim foi muito difícil porque eu tive que mudar os meus hábitos, passei a ter muitas limitações, principalmente, profissionais, já que eu trabalhava com esportes. Em 1988, eu tive a primeira parada cardíaca, a partir daí, a doença evoluiu e tive que ir pra Porto Alegre, mas ainda não estava na fila de espera pelo coração porque os médicos queriam tentar alguns poucos procedimentos que talvez pudessem salvar a minha vida. Porém, a doença continuou evoluindo até que eu tive a segunda parada cardíaca e fui obrigado a entrar na fila e esperar por um coração. Isso aconteceu em maio de 1989 e como eu era um paciente de risco, em quinze dias recebi o órgão. Hoje estou com 52 e dois anos e voltei a desenvolver minhas atividades normalmente. ”
João Carlos Cechela, 52 anos. Recebeu um coração há 16 anos.
“É com muita alegria e emoção que, no dia de hoje – 6 de setembro -, comemoro dois anos do meu transplante de rim, o qual foi doado pelo meu querido e admirável PAI. Confesso que foi um momento difícil e de muita fé, não podendo esquecer da ajuda e força de muitos e muitos, cada um da sua maneira …. aliás seria injusto nomear em virtude da quantidade… A minha principal intenção neste dia, em verdade, não é divulgar, simplesmente, por graça de DEUS, o sucesso de meu transplante. Além de agradecer a todos, gostaria de melhor conscientizar acerca da DOAÇÃO DE ÓRGÃOS! Já presenciei este sofrimento de muito perto sabendo, portanto, da luta diária que se faz necessária para sobreviver…. e como!!!! É preciso que todos tenham uma maior sensibilidade e comunguem de um amor incondicional ao próximo. Peço, por favor, que busquemos, cada vez mais, conscientizar a todos acerca da doação de órgãos, seja por doador vivo ou morto. O fundamental é possuirmos este ato de amor e caridade. Sou uma pessoa – entre vários – que pode testemunhar, com alegria no coração e lágrima nos olhos, como é bom estar com saúde, sem a angústia e sofrimento que é a espera de um transplante. Fiquem todos com Deus! Grande abraço. ”
Fábio Pallaretti Calcini, transplantado de rins.
“Quando estamos na máquina de hemodiálise achamos que é o fim, que a história termina ali. Eu mesmo havia perdido a esperança de ver meu filho, que na época tinha 2 anos, crescer. Quando soube que havia um doador não acreditei que a minha luta na máquina de hemodiálise ia acabar. Eu lamentei o acidente que vitimou o jovem, mas foi uma bênção para mim ter encontrado uma família que soube fazer o que era certo, e com isso, salvou a minha vida. Eles tomaram uma decisão muito difícil e louvável. Até hoje eu peço proteção a Deus para eles, porque a vida de quem precisa de um transplante está nas mãos dos doadores. A minha vida estava nas mãos daquela família, e eles, ao autorizarem a captação dos órgãos, me devolveram ela. Hoje eu posso dizer que renasci. Mudei até a data do meu aniversário e passei a comemorar no dia em que fiz o transplante.”
Wilton da Silva, transplantado de rins há 5 anos.
“Meu nome é Marcia Maluf e sou a primeira mulher a ter se submetido a um transplante cardíaco no Brasil, isso em 1996. Poucas pessoas podem dimensionar o que significa aos 42 anos receber a “sentença” de que se não for encontrado um coração compatível rapidamente, não terá mais do que 3 meses de vida. Pois é. A partir daí, tem-se duas opções: sentar, chorar e se lamentar, se fazendo de vítima ou tomar as rédeas da própria vida nas mãos e ir à luta. Como se pode perceber, foi isso que eu fiz. Hoje, 16 anos depois, estou aqui, lutando com algumas dificuldades do transplante, mas viva como nunca, feliz como sempre e continuando a enfrentar a vida e seus problemas. Porque, na minha concepção, só tem problemas quem está vivo. É esse o significado de um transplante, seja ele de que órgão for; é esse o resultado final do ato da doação de órgãos: não só o gesto simbólico de amor ao próximo, de humanidade, mas REALMENTE salvar vidas. Eu gostaria que todos soubessem o que isso representa para alguém que passou pelo que passei. Gostaria que todos os parentes que autorizaram a doação pudessem saber o que fizeram à algumas vidas humanas. Se mais pessoas soubessem disso, garanto que não padeceríamos de tanta carência de órgãos. Hoje levo a vida assim: agradecendo a Deus por acordar num dia de sol, pelos dias de chuva, pelas coisas que consigo e pelas que não consigo mas estou aqui para lutar por elas e rezando a Deus a cada dia por seres humanos tão grandiosos que, diante de uma tragédia tão grande como a perda de um ente querido, respiraram fundo e priorizaram a vida de outros seres humanos. (…) O segredo está em amar a vida, SE AMAR e “peneirar” os problemas. Eu acho que problema não tem tamanho, é você quem dimensiona tudo o que acontece em sua vida: um problema minúsculo pode adquirir proporções gigantescas, e, da mesma forma, se você quiser, um problema gigantesco fica do tamanho de um grão de areia que você varre pra fora. Só gostaria de não ter precisado sofrer tanto pra chegar a essa iluminação, que me ensinou que o grande segredo da vida é AMAR A VIDA. (…).”
Marcia Maluf recebeu um coração há 17 anos.
Pode ser doador em vida todo aquele que possuir parentesco consanguíneo de até quarto grau com o receptor do órgão transplantado, ou seja: pais, irmãos, filhos, avós, tios e primos. Cônjuges também podem fazer doações, e toda pessoa que apresentar autorização judicial. Em casos de transplante de medula óssea, essa autorização é dispensada. A doação por menores de idade é permitida se houver autorização de ambos os pais ou responsáveis.
Salve vidas, doe órgãos!