O fantasma das drogas assusta as famílias brasileiras. Segundo estudo da Unifesp, divulgado em 2013, 28 milhões de pessoas têm um parente dependente químico no país. Muitas vezes, a porta de entrada são as chamadas drogas lícitas. Embora pareçam menos nocivas, elas merecem a atenção de quem possui filhos adolescentes ou ainda mais jovens.
Alertar sobre o uso de drogas, de qualquer natureza, é uma construção que deve começar bem antes da adolescência. É o que defende a psicóloga Maria Lúcia Rodrigues Langone Machado, professora do curso de Psicologia da Universidade Feevale.
O contexto das drogas lícitas
De acordo com Maria Lúcia, para abordar a prevenção ao uso de drogas ou substâncias psicoativas (SPA), é preciso primeiro falar sobre a importância da construção de um diálogo com os filhos sobre diferente assuntos desde a infância.
“Uma conversa formal repleta de temores, preconceitos, ameaças, repressões e proibições sobre o uso de SPA, sejam drogas lícitas, como álcool e tabaco, ou ilícitas, como cocaína, crack, maconha, feita de uma hora para outra, geralmente tem pouca eficácia”, avalia.
Para que esse diálogo seja proveitoso e possa surtir efeitos preventivos positivos, é necessário que, desde a infância, tenha sido construído um ambiente familiar acolhedor, que tenha por habito discutir questões polêmicas, trocando ideias.
O mais importante nesse contexto é o exemplo do estilo de vida dos próprios pais. Maria Lúcia diz que esse ambiente deve oferecer, ao mesmo tempo, limites e afetividade. “Assim, paulatinamente, será possível trabalhar os aspectos negativos do uso, abuso e dependência de drogas lícitas ou ilícitas”, afirma.
Como falar sobre drogas
É nesse ambiente acolhedor que a família poderá falar do uso de drogas, ilustrando com situações reais, podendo, inclusive falar do próprio contexto, sobre com era na adolescência dos pais usar essas substâncias.
A psicóloga sugere ser possível narrar sobre o quanto pessoas conhecidas tiveram suas vidas prejudicadas em função da dependência. “Evitar o assunto é o mesmo que permitir que os filhos encontrem respostas sobre o uso de drogas na rua e, sabe-se lá como e com quem”, diz.
Enquanto pais temem falar no assunto por medo de despertar o desejo dos filhos, ela entende que é preciso deixar claro que essa curiosidade pode ser muito prejudicial. “Não sabemos se temos ou não chance de fazermos um uso recreativo de drogas sem nos tornarmos dependentes. Trocas semelhantes a esse exemplo podem fazer com que a conversa entre pais, cuidadores e filhos seja franca, sincera e ao mesmo tempo harmoniosa”, comenta.
Quando a abordagem contra drogas lícitas acontece tardiamente, num momento em que o diálogo entre pais e filhos já está comprometido, Maria Lúcia sugere a busca de parcerias com a escola, por meio de palestras e encontros para discutir a temática, para que também os vínculos familiares sejam retomados.
Mas ela faz um alerta: não existe uma fórmula mágica para a prevenção. “Quanto mais precocemente houver espaço nas famílias para a discussão acerca da temática, maiores serão as perspectivas de sucesso na prevenção”, conclui.
Estudos sobre drogas lícitas
No Brasil, a Lei Federal 8069/1990 proíbe a venda de bebidas alcoólicas a menores de idade. Mas, na prática, ela ainda se mostra pouco efetiva. Em 2014, estudo da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (USP) verificou que o primeiro contato com o álcool ocorre aos 13 anos.
Entre os entrevistados pela pesquisa, 35,3% tiveram a experiência inicial com drogas lícitas na casa de amigos e 28,7% na própria residência, entre os familiares. Outra constatação foi a de que garotos têm 2,2 vezes mais chances de exagerar no consumo de álcool se comparado a meninas.
Outro estudo recente, esse realizado pelo Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia para Políticas Públicas do Álcool e outras drogas (Inad), investigou o uso de drogas em 3.007 adolescentes no Brasil entre 14 e 19 anos de idade.
Foi analisada a existência de padrões de uso de álcool e tabaco, e a possível associação entre o uso dessas substâncias e características sociodemográficas, transtornos mentais (depressão e déficit de atenção e hiperatividade) e o ambiente familiar desses jovens.
De acordo com a pesquisa, mais de 50% dos adolescentes entrevistados eram usuários regulares de bebidas alcoólicas. Um em cada dez se mostrava dependente – dado que serve de alerta para pais e autoridades.
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