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Falar sozinho: saiba se essa prática faz bem ao organismo

Por Redação Doutíssima 30/07/2015

Você, com certeza, já ouviu alguém falar sozinho. Aliás, todo mundo já deve ter trocado algumas palavras em alto e bom som consigo mesmo pelo menos uma vez! Muitos podem associar o fato de falar sozinho com loucura, mas pensar também é uma forma de falar sozinho, só que em silêncio.

Durante a infância, a criança tem o hábito de conversar com pessoas imaginárias para brincar e praticar a criatividade e esse tipo de comportamento é bem comum. Conforme vamos amadurecendo, isso muda e separamos o pensamento da fala, deixando a voz internaliza e os pensamentos tomam conta.

Segundo a professora e pesquisadora infantil Laura E. Berk, o ato de falar sozinho sempre irá existir, o que acontece é que ele vem à tona quando temos que lidar com situações complicadas ou desconhecidas.

Mas, como tudo na vida, há pontos positivos e negativos e pessoas que falam sozinhas podem se beneficiar em várias situações do dia a dia, como também pode ser sinal de algum problema.

Falar sozinho é normal?

Para Patrícia Spindler, psicoterapeuta e psicóloga mestre em psicologia social e institucional, o mais comum é que as pessoas pensem em vez de precisarem falar consigo mesmas. Mas ela comenta que o hábito de falar sozinho é amplamente usado como técnica para estudos, por exemplo.

falar sozinho

Algumas pessoas memorizam assuntos com mais facilidade ao falarem sozinhas. Foto: iStock

“Existem pessoas que conseguem memorizar melhor quando falam, ou seja, quando escutam a si mesmas para “gravar” os conteúdos que precisam saber”, comenta a especialista. Verbalizar o que se está lendo ou escrevendo ajuda a construir o pensamento.

Outro momento que a psicóloga não caracteriza falar sozinho como problema ou distúrbio é quando alguém fala pequenas frases de incentivo. “Por exemplo, quando tenistas ou esportistas falam em quadra, valorizando-se e colocando-se para cima”, diz.

Ainda mais comum é deixar o pensamento escapar e verbalizar o que passou pela cabeça. Ela inclusive aponta que com frequência, quando isso acontece, as pessoas costumam justificar dizendo: “pensei alto”.

Falar sozinho é sinal de inteligência?

Patrícia diz que o hábito de falar sozinho é preocupante quando a pessoa não se dá conta de que está falando sozinha. “E isso passa a acontecer indiscriminadamente”, ressalta.

Ela comenta que a pessoa, nessa situação, desconsidera que existem outros ao seu redor. Assim, sente-se como se estivesse realmente sozinha, negando a presença de outros.

“O sujeito não estabelece contato com olhar, com a voz, com os gestos com aqueles que estão ao seu redor e tem para si que está sozinho. Ou, então, a presença dos outros não é suficiente para fazer um controle destes atos”, aponta a psicóloga

Se a pessoa está sozinha, em geral, ela não precisa falar, basta pensar. Quando a fala acompanha o desprendimento pela presença de outras pessoas ao redor, é sinal de que o processo de pensamento ou da consciência está alterado, ensina a especialista.

Outro fator que pode desencadear o hábito de falar sozinho é se a pessoa passa muito tempo nas redes sociais e ignora o mundo real. Hoje, ficar horas vendo a vida das pessoas na internet, pode fazer com que você comece a pensar e falar alto consigo mesmo. Fique atento, pois tudo que é exagerado causa problemas.

Se o ato de falar sozinho estiver causando angústia na pessoa ou alguma preocupação excessiva que não a deixe dormir direito ou ter falta de apetite, é indicado consultar um especialista, como psicólogo ou psiquiatra.

Existe tratamento para quem fala sozinho?

O tratamento para casos extremos (alguns citados acima) é feito a partir de uma avaliação do que está acontecendo com a pessoa. “Pode ser um sintoma que se apresenta em diferentes situações. É preciso buscar um psicólogo para identificar os motivos e se isto traz dificuldades e constrangimentos para a pessoa”, explica.

As razões para que alguém passe a falar sozinho com frequência variam. Pessoas que abusam de substâncias psicoativas, como álcool, drogas, medicação, e que sofrem com transtorno bipolar, tristeza e depressão podem ter o estado de consciência alterado.

Mas o hábito pode se desenvolver sem nenhuma substância envolvida. “Nesse caso, pode indicar um quadro de psicose ou, no mínimo, sintomas psicóticos”, afirma Patrícia.