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Aprenda a lidar com a ansiedade para que não atrapalhe sua rotina

Por Francine Costanti 22/11/2019

Considerada um dos grandes males do século, a ansiedade afeta milhares de pessoas pelo mundo. Um dos entraves do transtorno é dificultar algumas ações das pessoas no dia a dia – como estudar, trabalhar, falar em público ou enfrentar situações de medo e incerteza. Mas como não deixar que esses sintomas atrapalhem a rotina? 

Conversamos com o Dr. Luiz Scocca, psiquiatra pelo Hospital das Clínicas da USP, membro da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), que conta qual é a melhor maneira de lidar com o transtorno. Veja a conversa: 

Fortíssima: Qualquer pessoa pode desenvolver ansiedade?

Dr. Luiz Scocca: Sim, mas muitas condições aumentam o risco de ter transtorno ansioso. Um fato triste, por exemplo, é que segundo a Organização Mundial de Saúde, em relatório divulgado em fevereiro de 2017, somos o povo mais ansioso do mundo: 9,3% da população geral. 

Quando olhamos populações em particular esses números podem aumentar muito. A ansiedade é duas vezes mais frequentes em mulheres que em homens, muito mais frequente na gravidez – 15% a 23% – muito maior no 3º semestre da gravidez – alguns estudos apontam 42,9%. E pode ser maior conforme profissão, outras doenças associadas, condição socioeconômica etc.

O que causa a ansiedade? 

A ansiedade normal é parte de um sistema de defesa do ser humano, chamado de luta e fuga, e que nos protege, assim como protege muitos animais que se sentem ameaçados. Também ajuda a nos manter mais atentos e focados em nossos objetivos. 

É a ansiedade excessiva que é considerada um transtorno. O que sabemos atualmente é que uma condição médica não reconhecida pode levar aos transtornos ansiosos, como abuso de substâncias. 

Os fatores genéticos aumentam muito os riscos, assim como traumas em crianças. Há toda uma relação entre o estresse e ansiedade e algumas pessoas parecem ser mais resilientes do que outras. 

Quais são os primeiros sintomas do transtorno?

Há vários tipos de transtornos ansiosos, como a síndrome do pânico, o transtorno de ansiedade generalizado, o transtorno de ansiedade social, as fobias simples. Tanto um pode levar a outro como eles podem coexistir, o que chamamos de comorbidade (quando duas ou mais doenças estão relacionadas). 

Segundo relatório da OMS, brasileiros são o povo mais ansioso do mundo: 9,3% da população geral. Foto: iStock

A base em comum entre todos é essa emoção ruim antecipatória acompanhada de medo e pensamentos preocupados com sintomas físicos como taquicardia, tremores, suores, náuseas e tensão muscular. 

Embora sejam sentimentos autênticos, eles parecem desproporcionais ao que se vive no momento da ansiedade, pois o trauma pode estar no passado e a preocupação ser com o futuro, ou simplesmente um disparo de sintomas físicos que levam a pessoa a evitar situações que seriam gatilhos, como evitar o lugar onde aconteceu o primeiro ataque de pânico.

Qual é a melhor maneira de lidar com ansiedade?

Reduzir a ansiedade é a luta de uma vida e começa com bons hábitos. Atividade física constante, alimentação equilibrada (a dica no caso do brasileiro é montar o prato “colorido”), ingerir bastante água e evitar álcool. 

O tabagismo aumenta a ansiedade, mesmo que ele traga aquela sensação de relaxamento à primeira tragada – seus receptores de nicotina estavam “gritando” pela droga, claro que você acalma. Mas sua ansiedade basal é maior.

A psicoterapia, a terapia comportamental e a cognitivo-comportamental e as terapias chamadas alternativas são de imensa ajuda conforme você se identifique com cada uma delas. Elas dão um empurrão para que a pessoa identifique neuroses, complexos, inseguranças e saiba como enfrentá-las e como não revivê-las em cada relacionamento.

Aprender a controlar a mente, a respiração e manter sua cabeça no aqui e agora também faz parte da luta contra a ansiedade. Quando medicamentos são necessários, empregamos ansiolíticos, neurolépticos e antidepressivos. 

Como a ansiedade pode atrapalhar na rotina da pessoa?

Às vezes, sim! Tanto que é impossível manter as atividades diárias, escola ou trabalho. Esses transtornos são grandes responsáveis por altos índices de absenteísmo e queda na performance e dificultam até a convivência com amigos e familiares.

A saúde fica prejudicada como um todo porque, além dos transtornos mentais em si, a ansiedade leva a doenças do sistema cardiovascular, vulnerabilidade do sistema imune e aumento de processos inflamatórios que hoje são considerados centrais no desenvolvimento de doenças crônicas.

É preciso fazer um tratamento psicológico?

Muitas vezes um primeiro sintoma ansioso ou um ataque de pânico simplesmente acontecerão uma ou outra vez na vida e não se repetirão. Mas com os transtornos instalados é extremamente importante haver acompanhamento médico e tratamento psicológico. 

Ansiedade em crianças é tratada na mesma maneira que em adultos?

Depende de alguns fatores. Embora sejam os mesmos sentimentos, a criança tem dificuldade de processar o mundo em que vive, porque ainda não desenvolveu o aparelho cognitivo. Isso dificulta ainda mais os processos. 

Elas sabem que estão sentindo ansiedade, mas com pouca discriminação de seus medos e do que os ameaça. A criança fica mais irritada, chora, tem pesadelos, alterações de sono para mais ou para menos e, claro, dependem muito mais de seus cuidadores. 

Embora possamos utilizar medicamentos, psicoeducação, terapias e atividades de controle da ansiedade – como relaxamento e meditação – e haja muitas semelhanças, há outras diferenças em cada técnica, estratégia, doses, tipos de medicamentos etc. 

Além disso seus cuidadores participam ativamente do tratamento e para tanto precisam ser adequadamente treinados.