Nas prateleiras dos supermercados, o acesso a variados tipos e marcas de leites de fórmula para bebês é livre.
Um cartaz lembra as mães que a Organização Mundial da Saúde (OMS), o Ministério da Saúde e a Sociedade Brasileira de Pediatria recomendam a amamentação exclusiva pelo menos até o sexto mês de vida do filho, mas as latas podem ser levadas para casa e substituir o aleitamento antes disso, se a mãe assim o quiser.
Embora não haja necessidade de prescrição médica para a compra de leite de fórmula, a atitude mais responsável por parte de uma mãe é inclui-lo na alimentação do bebê apenas sob a orientação e supervisão do pediatra. É ele o profissional que, a partir de análises na criança e na própria mãe (se for o caso), sabe identificar a necessidade do complemento ou da substituição do leite materno por produtos de laboratório.
Em princípio, muito poucas mães precisarão fazer mamadeiras de leite de fórmula para seus filhos. “Se a criança está bem, mamando normalmente, não há nenhuma necessidade de usar fórmulas. Mesmo que a mãe volte ao trabalho quatro meses depois de dar à luz, pode continuar dando o próprio leite para o bebê até ele completar um ano. Basta amamentar de manhã e à noite e, ao longo do dia, tirar o leite do peito com bombas apropriadas para esse fim. Esse leite pode ser armazenado na geladeira e aquecido em banho-maria para ser dado ao bebê posteriormente”, aconselha o pediatra Roberto Issler, professoradjunto da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), consultor internacional em lactação e representante no Brasil do International Board of Lactation Consultant Examiners (IBLCE).
Exceções
A hipogalactia, ou baixa produção de leite pela mãe, é um dos poucos casos em que o leite de fórmula se faz necessário. “A condição é rara, mas existe e precisa ser diagnosticada depois da checagem de todas as eventuais dificuldades de amamentação, como a demora na pega ou lesões no bico do seio”, diz Maurício Magalhães, pediatra e neo-natologista do Hospital Israelita Albert Einstein.
Uma confusão que muitas mães fazem, ele conta, é acharem que não estão produzindo leite suficiente logo nos três primeiros dias de vida do bebê, e então já quererem partir para a fórmula. “Essa é a fase do colostro, em que o leite realmente pode sair com mais dificuldade. Mas logo em seguida o leite será produzido em abundância para nutrir o filho”, esclarece.
Outra circunstância que pode requerer o uso de leite de fórmula é quando o bebê apresenta alguma reação adversa ao longo da amamentação. “Se ele manifesta alergias, refluxos ou problemas de digestão, por exemplo, pode precisar de uma fórmula desenvolvida especialmente para o quadro manifestado”, explica Sérgio Furuta, pediatra pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
Furuta ressalta que os sintomas clínicos do bebê são os indicadores mais fortes e seguros para detectar a necessidade do leite de fórmula. “O que chama a atenção no consultório é quando o bebê, mesmo mamando no peito, não ganha peso, não consegue ficar dentro das tabelas de peso e altura seguidas pela pediatria. Também são sinais de alerta os casos em que ele está constantemente irritadiço, não evacua ou não dorme bem. Não existe leite materno fraco, isso é um mito, mas a mãe pode não estar produzindo leite suficiente para nutrir o filho”, afirma.
Perigos
Há mães que decidem não ouvir os médicos e preferem seguir conselhos de uma amiga ou parente para que deem leite de fórmula para seus bebês. Os riscos dessa atitude são sérios e podem criar consequências que acompanharão esses filhos ao longo da vida.
O principal é o desenvolvimento de uma alergia à proteína do leite de vaca. “Todas as fórmulas contêm proteína de leite de vaca, e o intestino do bebê ainda não está preparado para recebê-la. Com isso, o organismo em formação pode reagir de modo a criar uma alergia que não terá cura”, diz Furuta.
Outro problema que pode se manifestar no futuro em decorrência do uso inapropriado do leite de fórmula é a obesidade, de acordo com Issler: “O soro do leite da vaca presente nas fórmulas poderá causar o sobrepeso desse bebê já na infância, e essa tendência se agrava na vida adulta”.
Mas nada de pânico se o pediatra recomendar o uso do leite de fórmula para seu filho. “Tais riscos existem, mas a prioridade é que o bebê cresça, se desenvolva. O bom pediatra só vai receitar se for extremamente necessário”, assegura Furuta.