Dieta dos bebês saudável e aleitamento materno são fundamentais para a saúde dos pequenos. No entanto, a maioria dos pais troca esses hábitos por alimentos ricos em gordura e açúcar, de acordo com uma pesquisa realizada pela disciplina de Nutrologia do Departamento de Pediatria da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
O estudo indica que a introdução de produtos industrializados na dieta dos bebês – como macarrão instantâneo, açúcar refinado, suco de frutas artificial, salgadinhos e embutidos – começa antes dos três meses de idade, e que 67% dos responsáveis oferecem tais guloseimas aos filhos. Boa parte desses pais é formada por jovens, com baixa escolaridade e menor poder aquisitivo.
A ingestão precoce, continuada e excessiva de opções altamente calóricas e de baixo valor nutricional está associada ao abandono da amamentação e ao baixo consumo de frutas, legumes, cereais e hortaliças. “Além desse comportamento comprometer o crescimento e desenvolvimento infantil, também é comum desencadear processos alérgicos, carências de vitaminas e minerais, obesidade infantil e o surgimento, cada vez mais precoce, das chamadas doenças crônicas não-transmissíveis, que incluem diabetes, hipertensão arterial, obesidade, dislipidemias, acidente vascular cerebral, diversos tipos de cânceres, artroses, enfisema pulmonar, entre outras”, explica a nutricionista e autora da pesquisa, Maysa Helena de Aguiar Toloni.
A profissional faz questão de ressaltar o problema da obesidade infantil. Segundo ela, cerca de 10% das crianças apresentam excesso de peso e aproximadamente 20% dos adolescentes estão acima do peso. “Vale lembrar que 60% das crianças e adolescentes obesos já sofrem de hipertensão e dislipidemia, que é o aumento do nível de gordura no sangue e que está intimamente ligada às doenças coronarianas”, afirma.
Doce
Apesar de os pequenos nascerem com preferência pelo sabor doce, como afirma Maysa, o Ministério da Saúde recomenda que a adição de açúcar seja evitada na dieta dos bebês nos dois primeiros anos, pois não contribui nutricionalmente e ainda aumenta a incidência de cáries e o valor calórico da dieta. Na prática, não é o que acontece.
A pesquisa aponta que, até os três meses, 31% dos pais afirmaram ter oferecido açúcar ao filho; 49%, chás; e, 18%, mel. Até os 12 meses, esse número é ainda maior. O açúcar atinge o índice de 87%; o chá, 88%; e, o mel, 73%.
Portanto, nada de tentar satisfazer o paladar da garotada apenas para atender às suas manhas e reclamações. “O uso do mel, por exemplo, é totalmente contra-indicado no primeiro ano de vida devido à imaturidade da flora intestinal e ao risco de favorecer as intoxicações alimentares causadas pelo bacilo Clostridium botulinum, responsável pela transmissão do botulismo intestinal”, alerta.
Refrigerantes
Em festas ou até mesmo em casa, não é difícil ver bebês saboreando refrigerantes em suas mamadeiras. A atitude na dieta dos bebês está para lá de errada. “Além de os refrigerantes possuírem açúcar, contêm corantes e aditivos químicos e, mesmo em ocasiões especiais, a criança deve receber alimentação especialmente preparada para ela de forma caseira e balanceada, evitando a integração precoce a uma dieta pobre em nutrientes e hipercalórica.”
Mas, segundo os dados apurados, entre o primeiro e o sexto mês, 12% das crianças já experimentaram a bebida. Até os nove meses, esse índice sobe para quase 20%, enquanto até o primeiro ano, para mais da metade (56,5%).
Por conta disso, a nutricionista ressalta a importância de se manter a amamentação exclusiva até os seis meses, sendo desnecessária a oferta de água, chás ou qualquer outro alimento sólido ou líquido. “Somente depois dos seis meses é que a criança está apta a receber, de forma lenta e gradual, outros alimentos adequados à idade, mas sempre mantendo o leite materno até, no mínimo, os dois anos de idade.”
Um bom exemplo
Michelle Souza, 31 anos, se enquadra fora das estatísticas apresentadas pela pesquisa. Mãe de primeira viagem, não alimenta o filho Rafael Souza Callamari, de sete meses e meio, com os produtos citados na pesquisa. “Eu não como essas coisas e não quero que ele aprenda a consumi-las. Odeio suco artificial. É tão fácil pegar a fruta e comer”, afirma.
Apesar disso, conta já ter oferecido algumas papinhas industrializadas ao bebê. “No chá, colocava açúcar derivado do milho, mas nem isso a pediatra liberava. Mas é porque ele não gostava se não estivesse doce”, complementa. Rafael pesa 8,7 kg e mede 83 centímetros. “Ele é comprido e nunca foi gordo”, acrescenta a mãe.
Dados extras
Estudos sugerem que, tanto em países desenvolvidos como nos em desenvolvimento, o consumo de alimentos industrializados de baixo valor nutritivo está associado ao menor nível socioeconômico da população. A pesquisadora lembra que o menor poder aquisitivo também pode estar associado à baixa escolaridade materna e, consequentemente, a falta de acesso a informações em saúde e a influências exercidas pelo mercado publicitário. “Alguns estudos citam, inclusive, a influência da publicidade sobre a confiança que as mães depositam nos produtos apresentados nos comerciais.”
Texto: Scielo