Uma pesquisa apresentada em um dos mais importantes congressos internacionais – o da American Heart Association (AHA), nos Estados Unidos –, serve de alerta para que médicos do mundo todo repensem suas estratégias de abordagem com relação aos problemas do coração das mulheres.
No controle de fatores de risco para as doenças cardiovasculares, elas estão atrás dos homens no alcance das metas de controle do colesterol – inclusive no grupo de mulheres que já apresenta risco importante para a doença. É o que mostra o estudo multicêntrico Analysis of the Lipid Treatment Assessment Project (L-TAP), coordenado pelo cardiologista Raul Dias dos Santos, diretor do Instituto do Coração do Hospital das Clínicas (Incor), que contou com apoio da Pfizer.
Mulheres brasileiras precisam se cuidar
O estudo avaliou 9.955 pacientes (45% mulheres) em nove países, entre eles, o Brasil. Os resultados mostram que 37% das mulheres que estão no grupo de alto risco para desenvolver doenças cardiovasculares não consegue controlar o LDL (colesterol ruim) nos níveis de segurança preconizados pelos consensos médicos (abaixo de 100 mg/dL), contra 29% dos homens.
A diferença é preocupante nos dois casos, diz Dr. Santos, porque a incidência é elevada em ambos os grupos. No entanto, os números mostram que as mulheres estão mais expostas ao risco, inclusive, de morte, em função do perfil da doença no sexo feminino. “É sabido que elas, quando acometidas de infarto, têm mortalidade significativamente maior do que os homens”, explica o médico do Incor.
A diferença entre os sexos também aparece entre os participantes do estudo que já têm a doença arterial coronariana instalada e que, nessa condição, devem manter como meta o nível de colesterol LDL abaixo de 70 mg/dL. Nesse grupo de altíssimo risco, somente 26% das mulheres alcançaram esse objetivo contra 31% dos homens. Segundo Dr. Santos, 5% é uma diferença estatisticamente muito significativa, ainda mais se for considerado que boa parte desses pacientes não tem apenas o colesterol fora de controle, mas também outros fatores de risco importantes, como pressão arterial e glicemia altos, obesidade, etc.
O médico explica que a discrepância entre homens e mulheres pode ser creditada ou a uma abordagem médica inadequada ou à baixa aderência da paciente ao tratamento. “As mulheres apresentam sintomas muito diferentes dos homens, por isso, é mais difícil reconhecer um problema cardiovascular nelas. Perto de 64% das mulheres nunca teve sintomas de doenças cardiovasculares antes de sofrerem um infarto”.
O diagnóstico inadequado, neste caso, acarretaria uma abordagem terapêutica e dietética menos agressiva para as mulheres – inclusive, para aquelas que já apresentam alto risco -, do que para os homens.
Dentro desse contexto, diz o coordenador da pesquisa, a análise de alcance de metas por sexo é particularmente importante, pois esses dados contribuem para identificar a incidência do problema, propor estratégias para melhorar o controle do colesterol especificamente na população feminina e, assim, reduzir o risco de infarto ou derrame nesse grupo.
Embora as doenças cardiovasculares sejam a principal causa de morte tanto para homens como mulheres, o sexo feminino acumula uma série de fatores de risco que aumentam a chance de desenvolver infartos ou derrames no período da pós-menopausa – são eles a obesidade, o colesterol elevado e a pressão alta. Os dois últimos fatores aumentam em 30% e 25% o risco de infartos, respectivamente.
Hoje, 18% das mulheres brasileiras são consideradas obesas e 53% estão com sobrepeso.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), as doenças cardiovasculares são a principal causa de morte no mundo. No caso do sexo feminino, a incidência é maior – essas doenças representam 32% de todas as mortes de mulheres e 27% dos óbitos de homens.
A fonte desse post é o site do Laboratório Oswaldo Cruz de São José dos Campos, São Paulo.