Uma mãe leitora do Doutíssima nos enviou uma questão muito interessante e pedimos para o nosso psicólogo analisar:
PERGUNTA:
“Olá, queria saber sobre o “cantinho” pra pensar. Funciona? Por quê? Com q idade? Em que situação? Eu já li e ouvi que funciona e também que não funciona. Queria ver a opinião do psicólogo porque em casa eu e marido estamos discordando. A Bia, nossa filha, tem 3 anos e 8 meses”
RESPOSTA DO DOUTOR:
Queremos sempre oferecer uma boa educação para nossos filhos. Saber quando devemos dar limites e quando devemos dar afeto é o grande segredo para isso.
Dentre as estratégias educativas, existe o “cantinho para pensar”, trata-se de um tipo de sanção dada à criança diante de um comportamento não desejado, por um tempo suficiente para que a criança perceba que seu comportamento não foi aceito. Também sob a justificativa de a criança poder aprender a conter seus impulsos.
Antes de discorrermos sobre a aplicabilidade ou não desta estratégia é importante estarmos atentos ao contexto em que o comportamento surge.
Algumas perguntas a serem feitas:
- O comportamento da criança é reflexo do comportamento de outras pessoas que convivem com ela?
- Existem outras opções para a criança utilizar sua energia, criatividade que não o comportamento não desejado?
- Quando é que os pais dão mais atenção à criança, quando ela está “comportada” ou quando está fazendo algo não desejado?
- Os pais brincam e ensinam a criança a brincar?
Ora, se o que nossos filhos fazem que não nos agrada não é muito diferente do que fazemos, se a criança em sua plenitude de energia não vê alternativa para canaliza-la de forma adequada, se é só quando está fazendo “arte” que recebe atenção dos pais ou ainda não tem com quem brincar e nem sabe brincar de forma direcionada, de nada adiantará as sanções punitivas.
A criança sempre testa os pais em seus limites. É importante estar atentos a isso e dar respostas pontuais desde o inicio quando se ultrapassa esses limites. O que é comum é a permissividade até o um ponto intolerável. E quando chega a esse ponto intolerável a resposta dos pais muitas vezes é agressiva e desproporcional para a criança a fazendo sentir que se trata muito mais de uma maldade que está sofrendo do que uma resposta a seu comportamento. Dar limite é dizer não com firmeza e convicção toda vez que a criança faz algo que não é “certo” ao julgamento dos pais, mas para isso é importante os pais terem consenso do que é o “certo” que esperam da criança.
Se estivermos atentos, passo a passo, as experimentações do “certo” e “errado”, estaremos desde o inicio a ajudando a traçar seu caráter e comportamento de forma adequada. Também a fazemos relacionar com proporcionalidade as consequências de seus comportamentos.
Já o afeto tem que se incondicional, e não deve ser utilizado como premio para o comportamento adequado.
Sobre o cantinho da reflexão é importante saber:
– Ele não é uma lição, é uma punição.
– Uma criança com 3 ou 4 anos não vai ficar lá refletindo sobre seu comportamento e suas consequências pois ainda não tem essa habilidade.
– Ela pode se acostumar com a punição.
– Só funciona na presença de quem pune igual ao radar nas rodovias, quem tem a característica própria de dirigir em alta velocidade só muda seu comportamento na presença do radar.
Assim esteja próximo a seu filho, converse com ele, dê afeto e diga sempre não com firmeza quando precisar. Não negligencie o não agora para não se perder depois.