O diagnóstico de câncer é um momento difícil, afinal é sabido que a doença é uma das que mais mata pessoas no mundo. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 15 milhões de pessoas sofrem com tumores em todo o planeta.
O alívio de muitas vítimas da doença é que já há tratamentos capazes de combater o avanço dos tumores e de chegar à cura completa. Contudo, mais angustiante que descobrir um câncer é ser informado pelo médico da presença de metástases.
O que são as metástases?
As assustadoras metástases são um sinal de agravamento do tumor, já que representam uma nova colônia neoplásica no organismo – isto é, um novo ponto de instalação de câncer em outra parte do corpo. Mesmo assim, também são passíveis de tratamento, através de medicamentos, radioterapia, quimioterapia ou cirurgia.
A blogueira Cristiane Chagas é um exemplo positivo no combate a esse mal. Ela foi diagnosticada com câncer de mama e, quando pensou estar curada, foram detectadas metástases. Apesar de seguir em acompanhamento médico, ela tenta levar a vida mais próxima do normal possível. Veja o seu relato.
Cristiane Chagas e as metástases
“Não me lembro há quanto tempo faço o autoexame da mama. Desde muito nova comecei a ter nódulos (daqueles bobos, que se desfazem com vitamina E). Então, todo ano minha médica pedia uma ultra-sonografia e estava sempre tudo bem.
Em 2011 não foi diferente. No início do ano, fiz meus exames e os resultados foram satisfatórios. Entretanto, já chegando o final ano, comecei a sentir um nódulo na mama esquerda. Não me preocupei, pois sempre tinha pequenos nódulos, não seria nada e protelei a ida ao ginecologista – estava cheia de trabalho e fui enrolando.
O problema é que foi crescendo muito rapidamente. Em uns dois meses fiquei bem assustada e procurei um especialista. Meu espanto não era pra menos, eu estava com um nódulo de 5 centímetros: 2 a 3 centímetros de um tumor maligno, e o restante um invólucro de tecido não cancerígeno.
Ainda assim eu estava muito otimista e fiz uma opção: viver. Decidi que ia lutar pela vida, como sempre fiz com todas minhas escolhas. Lutei e continuo lutando. Então veio a primeira notícia de metástase. Me abalei mas não vacilei, continuei confiante nessa guerra.
Acabou o tratamento, voltei ao trabalho. Quando estava tudo caminhando dentro da normalidade e eu fazia planos, tive notícia de outras metástases, agora mais graves. Dessa vez eu já estava cansada e pensei seriamente em recusar o tratamento.
Todos os meus projetos tinham ido por água abaixo, nem a aula de dança, que eu tanto gosto, eu poderia continuar, simplesmente porque não conseguia. Chorei, esperneei, tive muita raiva por ter que passar novamente por esse tratamento horroroso que é a quimioterapia.
Mas, mesmo com toda essa revolta, escolhi novamente viver e quando eu faço uma escolha, vou até o fim. Elaborei projetos que fossem possíveis nesse momento e que me motivassem.
Não levo o câncer ‘numa boa’, como as pessoas podem imaginar. Ninguém leva, isso é impossível. Eu simplesmente tento escolher e dar destaque às coisas positivas que vão surgindo na minha vida, já que de negativo basta o câncer.
Além disso, eu preciso estar bem, porque não quero ver as pessoas que me amam, especialmente meus pais e meu marido, deprimidos por minha causa.
Quando cheguei nessa que chamo de ‘segunda fase’ da minha doença (momento em que descobri novas metástases, depois de já ter retomado meu cotidiano), vi que precisava fazer alguma coisa. Então resolvi seguir o conselho de alguns amigos e escrever a minha história com o câncer de mama.
Claro que nada comigo pode ser tão simples. Inventei que queria escrever em Paris para aproveitar e aprimorar meu francês, já que eu não estava mais conseguindo fazer as aulas. Foi aí que notei a necessidade de criar um blog.
Eu divulgaria o projeto do livro e postaria textos que instigassem sua leitura, mas com uma linguagem voltada para internet. Então, surgiu o seu blog.
Acho importante que as mulheres conheçam seu corpo. Existe agora, ao menos no Brasil, uma linha médica que é contra o autoexame por acreditar que a mulher, não encontrando nódulos no teste em casa, deixaria de fazer os exames de imagem, que são bem mais precisos e detectam nódulos bem menores.
Eu discordo dessa linha. Acho que a mulher deve se conhecer e também fazer os exames como indicam os médicos. A maioria das mulheres que conheci com câncer de mama havia descoberto a doença ao se tocar. Muitas delas (como eu) nem estavam em idade de fazer os exames de imagem.
Se conhecer é muito importante e não só por causa do câncer. A nossa sociedade ainda é muito machista e moralista, e a mulher acaba não tendo posse do seu bem mais precioso, seu próprio corpo.”