Além de favorecer o risco de câncer e problemas respiratórios, a poluição atrapalha também no desenvolvimento do embrião. De acordo com um estudo publicado nesta semana pelo jornal americano Jama Psychiatry, as crianças que foram fortemente expostas à poluição na fase embrionária, teriam um impacto visível sobre o cérebro, gerando problemas de comportamento e deficiências nas habilidades cognitivas. A hiperatividade, o déficit de atenção e um mal-estar social, que pode causar violência ou depressões, foram realcionados aos casos estudados.
Algumas substâncias contidas no ar são extremamente tóxicas e conseguem atravessar a placenta e danificar o cérebro fetal. As “neurotoxinas”, substâncias capazes de lesar o sistema nervoso, geralmente são formadas pela combustão de madeira, tabaco e combustível automotivo.
Liderados pela professora Frederica Perera, diretora do Centro de Saúde da Criança Ambiental da Universidade de Columbia, nos Estados Unidos, o estudo foi realizado em 720 grávidas, de origem “afro-americana” e “latino-americana”.
Os pesquisadores escolheram também mulheres que não-fumantes para que o resultado não fosse distorcido. Elas receberam uma espécie de monitor de ar para medir, durante 48 horas, a quantidade de poluição que elas eram expostas.
Anos depois, um novo experimento foi feito com 40 crianças, filhas das mães que participaram da pesquisa anterior, nascidas entre 1997 e 2006. Escolhidas aleatoriamente, 20 delas tinham sido expostas a baixas doses de poluição durante o desenvolvimento embrionário e 20 outras conviveram com doses elevadas de impurezas atmosféricas.
Os resultados foram medidos através de exames de urina, em crianças com cinco anos de idade, e através de ressonância magnética do cérebro e testes psicológicos, em crianças entre sete e nove anos.
A atuação da poluição no cérebro
Nos resultados emitidos pela ressonância magnética, foi possível verificar um impacto dos poluentes no cérebro proporcionalmente causados pela exposição à poluição. O exame revelou uma diminuição significativa na superfície da matéria branca do cérebro. Em crianças com esse diagnóstico, foram constatadas problemas comportamentais e dificuldade de aprendizado. Quando a exposição aos materiais tóxicos da atmosfera durante a fase embrionária, a redução da substância branca foi concentrada no hemisfério esquerdo.
Quando a exposição foi forte durante a infância, foi constatada um declínio acentuado na área pré-frontal do cérebro. “A substância branca forma uma rede de fibras que garante e protege o transporte de informações entre os corpos celulares dos neurônios na substância cinzenta. Se esta substância é alterada, o envio da mensagem é perturbado, ficando mais lento”, explica Bernard Sablonnière, professor de neurobiologia da Universidade de Lille, na França, em entrevista ao jornal Le Figaro.
O especialista explica também que se o branco é reduzido na parte esquerda do cérebro, que contém, entre outras áreas envolvidas a linguagem, e na área pré-frontal, zona da decisão e raciocínio, os efeitos sobre o comportamento podem ser maiores. Os pesquisadores precisam ainda de mais pesquisas com uma amostra maior para confirmar os resultados. Se elas forem verdadeiras, os governos terão um grande desafio, já que a metade da população mundial vive em grandes centros urbanos e está exposta diariamente à poluição.
Controle da poluição no Brasil
Em 2009, o governo brasileiro criou o Plano Nacional de Qualidade do Ar (PNQA). O PNQA visa proteger o meio ambiente e a saúde humana dos efeitos da contaminação atmosférica, por meio da implantação de uma política contínua e integrada de gestão da qualidade do ar no país.
Dentro do programa está incluso também a atualização dos marcos normativos destinados à gestão, adotando medidas preventivas e corretivas, e permitindo a retomada de políticas públicas que corrijam as assimetrias nacionais profundas no trato desse tema.
De acordo com o Ministério do Meio Ambiente, a gestão da qualidade do ar tem como objetivo garantir que o desenvolvimento sócio-econômico ocorra de forma sustentável e ambientalmente segura. Brasil é sexto maior emissor de gases poluentes do mundo. Para tanto, se fazem necessárias ações de prevenção, combate e redução das emissões de poluentes e dos efeitos da degradação do ambiente atmosférico.
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