Diante do alerta em relação ao aedes aegypti, a comunidade científica internacional se dedica a entender a ligação entre o mosquito e os casos de má-formação cerebral em bebês. E um relatório de pesquisadores argentinos, publicado no início de fevereiro, repele a hipótese de que o vírus zika seja inteiramente responsável pelo surto de microcefalia no Brasil. Para eles, o grande vilão pode ser o fumacê, nuvem de inseticida utilizado no país.
O relatório apresentado por pesquisadores da organização Physicians in the Crop-Sprayed Towns (PCST) se refere ao Pyriproxyfen, um inseticida usado em 2014 na região Nordeste, onde começou o surto de microcefalia. Os cientistas sugerem que há relação entre o uso do pesticida e o período e local de maior manifestação da doença.
Entenda o que é o fumacê
Fumacê é o termo popular que se refere à pulverização de inseticidas líquidos no ar. A prática tem por objetivo matar o mosquito aedes aegypti e evitar sua proliferação – prevenindo, também, que mais pessoas contraiam as doenças causadas por ele, como dengue, zika e chikungunya.
A prática do fumacê é apontada como um recurso extremo de ação temporária e pontual. A aplicação da nuvem de inseticida não é indiscriminada: entra como opção apenas diante de surtos ou epidemias. Em 2014, o recurso foi utilizado em municípios da região Nordeste, onde a população precisa armazenar água em casa devido ao racionamento.
No Brasil, o inseticida utilizado em fumacês, aprovado pelo Ministério da Saúde, é o Pyriproxyfen. Ele começou a ser usado em substituição ao Temephos, ao qual o mosquito apresentou resistência. A mudança entre os pesticidas, ocorrida em 2014, chamou a atenção dos argentinos, que sugeriram a relação entre a substância e o surto de microcefalia.
O Pyriproxyfen serve para inibir o crescimento do aedes e causa má-formação das larvas, incapacitando ou matando os mosquitos. Testes feitos pela Sumitomo – empresa que desenvolveu o produto – em vários animais comprovaram que ele não causa defeitos de nascimento em mamíferos, pois possui baixa toxicidade aguda.
Os pesquisadores argentinos, porém, sugerem que a ação da substância pode ser diferente em seres humanos.
No estudo da PCST, os cientistas desafiam a teoria de que a microcefalia está 100% ligada ao vírus zika, conforme acredita o Ministério da Saúde. Eles creem que a presença do inseticida na água consumida pelos moradores tem relação com o quadro, pois em outros locais com incidência de zika não houve casos de microcefalia.
“As más-formações detectadas em milhares de crianças de mães grávidas que vivem em regiões onde o Estado brasileiro adicionou o Pyriproxyfen à água potável não são coincidências, muito embora o Ministério da Saúde coloque a culpa por este dano diretamente no vírus da zika”, diz o relatório da PCST.
Ministério da Saúde presta esclarecimento
Através de nota publicada através do site oficial, o Ministério da Saúde (MS) esclareceu que “não existe nenhum estudo epidemiológico que comprove a associação do uso de Pyriproxyfen e a microcefalia”. O comunicado reforça, ainda, que o MS só utiliza larvicidas recomendados pela Organização Mundial de Saúde (OMS).
O Pyriproxyfen, de acordo com o esclarecimento, passou por um rigoroso processo de avaliação da World Health Organization Pesticed Evaluation Scheme (WHOPES) e também possui certificação pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), que avalia a segurança do larvicida no Brasil.
“Ao contrário da relação entre o vírus zika e a microcefalia, que já teve sua confirmação atestada em exames que apontaram a presença do vírus em amostras de sangue, tecidos e no líquido amniótico, a associação entre o uso de Pyriproxyfen e a microcefalia não possui nenhum embasamento cientifico”, diz a nota.
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