A proporção de partos feitos no mundo por via cirúrgica, a famosa cesárea, era de 6% em 1990. Em 2014, no entanto, saltou para 19%, de acordo com a revista científica The Lancet.
Para especialistas, em muitos casos, o procedimento é injustificado. Também traz consequências tanto para a mãe quanto para o bebê, pois aumenta em três vezes o risco de óbito materno.
Além disso, a Organização Mundial da Saúde lançou um conjunto de recomendações para reduzir o número de cesáreas desnecessárias.
Gravidez tardia
Diferentemente do que se acredita, não é somente o desejo da paciente que impulsiona esse número. Existem outras causas por trás dessa escalada das cesáreas.
Para o diretor de Defesa e Valorização Profissional da Febrasgo (Federação Brasileira da Associações de Ginecologia e Obstetrícia), Juvenal Barreto B. de Andrade, uma das razões é que as mulheres estão engravidando mais tarde.
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“Isso traz um risco maior de aparecerem doenças, como hipertensão e diabetes, que podem trazer complicações no parto”, explica ele, que também é diretor do Serviço de Obstetrícia do Hospital Leonor Mendes de Barros.
Outra causa, segundo ele, é o avanço da tecnologia na área médica, que acaba disponibilizando exames mais precisos. Assim, o médico consegue descobrir doenças mais cedo e, se for melhor para a criança e a mãe, a cesárea também é indicada.
O terceiro motivo é que geralmente essas mulheres passaram por outras cesáreas nas gravidezes anteriores. “Elas desenvolvem uma cicatriz uterina que leva a uma nova cirurgia”, ressalta o médico.
Queda no Brasil
Curiosamente, o número de cirurgias do tipo vêm caindo no Brasil nos últimos anos, embora o percentual ainda seja bem mais alto do que a média mundial. De acordo com a Lancet, em 2014, era de 57,07%. Já em 2016, o número caiu ligeiramente, para 55,44%.
Nos Estados Unidos, a taxa é de 38,5% e, na Europa, o percentual cresceu de 15 para 22% nos últimos 20 anos.
Para Barreto, essa queda pode ser explicada pelo projeto Parto Adequado, uma ação da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), do Hospital Albert Einstein e a entidade internacional IHI (Instituto para Melhoria da Saúde, em inglês).
“A Febrasgo apoia a iniciativa, que busca capacitar os profissionais da área e também desenvolver o atendimento conjunto de médico e enfermeira obstétrica”, disse.
Parto agendado: projeto busca diminuir o número de cesáreas
A ideia é diminuir sobretudo a cesárea agendada. “É quando a mulher chega no oitavo mês e meio de gravidez, com 37, 38 semanas de gestação, e por uma série de motivos médicos, hospitalares e da própria paciente, acabam fazendo uma cesárea marcada”, afirma Barreto.
Isso traz consequências tanto para a mãe quanto para o bebê. “Aumenta em três vezes o risco de óbito materno. Além disso, o bebê geralmente nasce prematuro e com o pulmão imaturo”, ressalta o médico.
A prevalência da cesárea no Brasil varia bastante entre hospitais privados e públicos. “Na saúde suplementar, os nossos índices são acima de 80%. No serviço público, é por volta de 40%”, diz Barreto.
Vantagens e desvantagens
Mas isso não quer dizer que a cesárea deva ser proibida. Em algumas situações, ela é o procedimento mais seguro indicado. Uma delas é quando, na hora do parto, o bebê está sentado. “O parto normal é muito mais arriscado para essa mãe do que a cesárea”, explica Barreto.
Outra situação é quando a mãe apresenta placenta prévia, que fica na frente do bebê e, se a paciente entra em trabalho de parto, há risco de hemorragia.
Já as vantagens do parto normal são o tempo de recuperação da mãe, que é menor. A criança também acaba desenvolvendo maior imunidade contra doenças, pois tem contato com as bactérias do canal vaginal.
Além disso, os bebês, como nascem dentro do tempo esperado, não precisam ir para uma UTI neonatal, como acontece com frequência com os nascidos via cesárea. Vale sempre conversar com o seu médico para ver qual é a opção mais indicada.
*Colaborou Vanessa Zampronho