Aproveitando o gancho do meu aniversário deste ano, comemorado na última semana, gostaria de compartilhar minhas reflexões sobre o primeiro grande evento de qualquer um de nós: o nascimento. Saiba mais sobre a temida hora do parto.
Como eu pensava sobre a hora do parto antes
Eu não costumava pensar muito sobre as “formas” através das quais saímos da barriga da mamãe. Parto normal, ok, parto cesáreo, ok. “O que importa é chegar bem.” Sim, claro. Mas, hoje, eu sei que existem algumas circunstâncias que estão trazendo mais frieza e menos intensidade a um acontecimento tão especial na vida de uma família. Se o que importa é chegar bem, eu diria que, em muitos casos, daria pra “chegar melhor.”
Quando eu engravidei, mesmo tendo em mente todo aquele “terror” do que poderia ser um parto normal (é assim que pintam, não é?), eu queria que minha filha viesse de um modo mais natural o que, definitivamente, não parecia ser o caso de uma cesárea. Alguns “motivos” no decorrer da gestação me fizeram pensar que seria mais seguro pra minha filha (quem sabe para mim também, mas confesso que não estava tão preocupada comigo, mesmo tendo medo da dor) se a tirassem de mim com 38 semanas sem ao menos ela dar claros sinais de que precisava sair. Mesmo me achando muito informada, a única coisa que eu sabia é que aquilo me causava insegurança e, hoje admito, frustração.
O parto da minha filha
Minha filha então nasceu e eu mal a vi quando saiu de mim. Tive um dos momentos mais felizes da minha vida quando a enfermeira a trouxe para perto do meu rosto e eu senti, pela primeira vez, o toque dela. Foram alguns segundos muito emocionantes. Falei com ela, beijei, chorei. Tiramos uma foto. E eu só veria minha filha depois de umas 3 ou 4 horas e, durante esse período, senti muita, muita dor por conta da cirurgia e uma angústia tremenda por não ter notícias dela.
Sempre me questionei sobre tudo isso mas nunca me aprofundei. Afinal, mais importante que passar por um parto natural era que minha filha não corresse riscos. Mas meu interesse pelos assuntos maternidade, gravidez e parto só foi aumentando. E, conversando com amigas, vendo alguns vídeos, filmes, conhecendo histórias, etc., tive ainda a oportunidade de participar de um curso de capacitação de doulas. E, desde então, estudo sobre partos, nascimento, gestação praticamente todos os dias.
A visão de uma doula
Não era por acaso que eu desejava sim outro tipo de nascimento para minha filha. Eu até achava estranho pensar que eu estava decepcionada por não ter sentido “a dor do parto”. Mas a dor, que por experiência alheia eu sei que não é nada fácil de superar, faz parte de um processo muito mais intenso e significativo.
Na verdade, minha decepção e frustração é por não ter vivenciado toda a intensidade e transformação que um parto pode trazer a uma mulher e mãe e não ter proporcionado à minha filha uma chegada muito mais acolhedora. Digo tudo isso também porque hoje eu sei que isso é possível, que eu poderia ter, pelo menos, esperado um pouco mais os sinais da minha filha para nascer. Poderia ter tido a chance de ter minha filha comigo após o nascimento mais que apenas alguns segundos. Nem meu marido eu tive mais tempo comigo, sem que fosse no horário de visita da maternidade.
Histórias tristes acontecem e sempre alguém tem alguma história de terror sobre um parto normal, principalmente quando, apesar de ser ainda menos invasivo que uma cesárea desnecessária, é cheio de intervenções que aumentam a dor física e emocional. Mas, quando está tudo bem com mãe e bebê, a gravidez não apresenta riscos pra nenhum dos dois, optar por uma cirurgia desnecessária, no fim das contas, aumenta os riscos.
Sim ao parto normal!
Eu espero ainda poder parir (e isso quer dizer por via natural) um filho ou filha, ou pelo menos tentar e proporcionar uma acolhida muito maior em sua chegada, ainda que uma cirurgia seja necessária. Nem precisei ainda passar pela prática de acompanhar um parto para entender que faz parte do trabalho como doula, que quer dizer “mulher que serve”, o serviço de prestar informação.
Apenas ciente de todas as condições, riscos e benefícios, específicos para o seu caso, deste ou aquele tipo de parto, a mulher terá discernimento sobre o que, de fato, pode ser melhor pra ela. Ela deve ter conhecimento de seus direitos e participação ativa nas decisões e justificar suas escolhas baseada em evidências e também relatos que podem interferir no seu ponto de vista. Deve e precisa contar com uma equipe de profissionais comprometidos de fato com a saúde e bem-estar dela e do bebê que irá nascer.
O novo e famoso termo “humanização do parto” nem é visto com bons olhos. Se for pensar bem, o parto humano é o menos “humanizado”. Mas tem sido a forma de diferenciar posturas e condutas em relação à forma de nascer. É uma tentativa de resgate de uma prática que, ao longo dos anos, foi se transformando em uma série de procedimentos frios e lucrativos. Os papéis se inverteram. Quem “faz” o próprio parto não é mais a mulher. Muitas vezes ela mal é capaz de decidir o que é melhor para ela, para o bebê e para a família como um todo. A chegada do bebê já é marcada pela separação da mãe e do recém-nascido. O que se conseguiu em conquistas muito positivas para minimizar riscos e até mortes de mãe e bebê, parece ter se misturado numa bola de neve e agora muitos fatores não diminuem riscos, ou pior, podem aumenta-los.
É um tanto desanimador, no entanto, pensar que o privilégio de uma experiência de parto transformador, como muitas que passam pela experiência costumam definir, ainda esteja tão distante de tantas mulheres. Eu, que tinha tanto acesso a informações, estava completamente alheia a isso. Muitas são as coisas pelas quais devemos realmente nos dedicar a fazer melhor em nossas vidas. Melhorar a chegada de uma criança ao mundo me parece bastante digna de atenção.
Tania Camilio
32 anos, mãe da Beatriz (3 anos), publicitária, realiza também trabalhos como fotógrafa. Alguns trabalhos podem ser conferidos na sua página Facebook aqui.