Modelo e referência em muitas áreas, a França é um país que encanta, mas também provoca polêmica e divide opiniões. Na área da educação, a publicação de dois livros levantou discussões mundo afora: afinal, o que há de tão especial na educação das crianças francesas? Será um modelo possível de ser seguido por aqui?
Estamos falando dos livros Crianças Francesas Não Fazem Manha (R$ 29,90, Editora Fontanar), da jornalista americana Pamela Druckerman, e Crianças Francesas Comem de Tudo (R$ 44,90, Editora Alaúde), da canadense Karen Le Billon. Eles apresentam os contrastes culturais percebidos pelas autoras quando passaram a viver na capital francesa.
O exemplo das crianças francesas
Para entender o que há de tão especial na educação dos filhos dos franceses, conversamos com a psicóloga Mayara Mendes Bacha, professora do curso de Psicologia na Universidade Anhanguera-Uniderp, no Mato Grosso do Sul (MS). Ela parte do princípio de que a educação francesa deve ser considerada dentro de uma questão cultural geral.
Segundo ela, em qualquer lugar do mundo, a educação está inserida em um funcionamento específico daquele contexto cultural em particular. Sendo assim, pode-se dizer que a educação é um dos pontos em que as culturas se diferem, afirma a autora.
“A francesa traz em si questões relacionadas à cultura local como um todo, como, por exemplo, maior rigidez comportamental, a busca pela independência mais cedo, entre outros aspectos”, diz.
Dessa forma, essa cultura tende a ser passada de geração para geração, na educação dos filhos. Por isso os livros descrevem alguns comportamentos como normais: as crianças terem mais tempo livre para brincar, os pais serem mais tranquilos ao deixar as crianças brincarem sozinhas e deixar a criança um tempo chorando antes de atendê-la.
Mas é preciso tomar cuidado com as generalizações, pois dentro da própria França pode haver diferenças culturais. “Um dos livros é escrito por uma norte americana que passou a morar na França, ou seja, tem um olhar e um modelo cultural diferente até morar naquele país que influencia sua escrita”, avalia.
É impossível copiar a receita das francesas
No Brasil, existe outro contexto cultural. É inviável tentar lidar com os livros como “receitas de bolo”, acreditando que, usando os mesmos ingredientes, as crianças brasileiras passarão a ser educadas. “Existem particularidades em cada cultura, em cada caso, em cada família, em cada criança”, pondera Mayara.
Por conta das diferenças culturais, a psicóloga considera difícil falar se os métodos funcionariam, ou não, no Brasil. Para ela, são vários os fatores que influenciam na educação e no desenvolvimento infantil. “Simplesmente copiar aquilo que está num manual não é sinônimo de sucesso”, acrescenta.
E Mayara vai um pouco mais longe: não se pode sequer afirmar que todas as crianças francesas apresentam características iguais às citadas nos livros, ou que todas as mães francesas são tranquilas e conseguem com que seus filhos não façam birra e se comportem bem a todo o momento.
Entretanto, o que se vê na realidade brasileira de maneira geral, em consultórios de psicologia e até nas escolas, são famílias com dificuldade de lidar com a educação dos filhos também por fatores sociais.
“Muitos pais se culpam por não ter tanto tempo para os filhos, e acabam sendo permissivos, criando nas crianças a fantasia de que podem tudo. Por vezes, as escolas desempenham não só o papel da educação intelectual, mas também da moral”, comenta.
Atualmente, no Brasil, afirma a especialista, podemos pensar que quem manda nas casas, muitas vezes, é o membro mais novo: a criança. Não é raro ver pais atendendo aos desejos dos filhos mesmo que sem perceber, como de maneira automática. “O estabelecimento de regras e limites é enfraquecido, e a autoridade se perde”, finaliza.
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