Podemos observar grande superficialidade nas relações interpessoais da atualidade. Como citava Zygmunt Bauman: “modernidade líquida”, “amores líquidos”. E isso não é novidade para ninguém. Só não nos damos conta do quanto essa realidade nos invade. Estamos permeados pela sociedade do descartável, do fast food, do imediatismo, do agora. Os produtos são feitos para durar pouco tempo e serem trocados rapidamente. O objetivo do consumo nos rodeia a todo momento e desde criancinhas somos direcionados a comprar, a consumir, a trocar constantemente as coisas. E isso atravessa nossas relações, nosso trato e nossa convivência com os outros humanos.
Pessoas são mais importantes do que coisas
Ouço essa frase e fico me perguntando se há, hoje em dia, alguma separação entre pessoas e coisas ou se é tudo igual. Pelo menos o trato que damos a ambas as vezes não se diferencia. Coisas, pessoas, ambas podem ser trocadas, jogadas fora. Descartadas a qualquer hora ou momento. Tratamos pessoas como se elas fossem coisas. Porém, coisas até podem ser descartáveis, pessoas não. Quando também descartamos pessoas, elas se tornam algo muito próximo do que são as “coisas”.
Amor líquido
Líquido é algo que pode ser definido como corpo cujas moléculas são dotadas de extrema mobilidade. Sendo um estado de matéria fluida que toma a forma do lugar que o contêm; que está entre o sólido e o gasoso. Algo que corre, que flui.
Acho que foi isso que Bauman quis dizer quando tratou a modernidade e seus relacionamentos como líquidos. “Moléculas dotadas de mobilidade”. Assim, na sociedade onde tudo pode ser facilmente descartado, os relacionamentos também são. E nem nos damos conta disso. Também pouco paramos para pensar. O fato é que existe sim uma diferença entre coisas e pessoas e ambas não podem ser colocadas num mesmo pacote e nem tratadas da mesma forma.
Nossa parte
Será que nossas relações podem ser definidas como coisas que podem ser facilmente descartáveis? Será que podemos continuar nessa direção tratando pessoas de forma banal e sem importância? São essas e muitas outras perguntas que temos que pensar antes de dar alguma resposta.
Acredito que a não durabilidade das relações hoje e também a dificuldade que as pessoas encontram em se relacionar, tem a ver com essa “cultura do descartável”. Cultura que estamos imersos e que nos influência o tempo todo.
Nossa parte, quem sabe, é parar pra pensar no quanto estamos contribuindo para que isso se propague.